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Inquieto e aberto a novas experiências que enriqueçam a vida, o baiano Matheus Peleteiro, que é estudante de direito, decidiu cedo que iria deixar suas ideias no mundo. Aos 19 anos, Matheus estreou como escritor, lançando o livro Mundo Cão, pela editora Novo Século, com o selo Novos Talentos da Literatura Brasileira.
O jovem contou a reportagem do R7 BA que sua experiência com a literatura foi um pouco confusa e que a música o trouxe para este caminho. Para ele, "essa coisa de existir e não representar nada" é algo que deve ser refletido por todo ser humano. Conheça a história dele e saiba os motivos que o tornaram um escritor em potencial
*Colaborou a estagiária Kátia PradoArquivo pessoal
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Natural de Salvador, Matheus afirmou que não tinha interesse pela literatura até que, no 2º ano do ensino médio, começou a assistir uma série que retratava a vida de um escritor.
— Achei interessante e fui atrás das referências da série. Li um livro de Charles Bukowski e achei fascinante, cru e real. Os livros que nos indicam no colégio soam densos e chatos por conta da nossa maturidade. Depois li as referências dele, como Dostoievski. No colégio tentam nos transformar em um intelectual, e como Bukowski disse: "O intelectual diz o fácil de maneira difícil, e o escritor diz o difícil de maneira fácil"Divulgação/ Renato Lima
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Matheus contou que começou a escrever depois de ler uma citação de Bukowski.
— Ele diz: "Chega um momento que você já conheceu tanto da boa literatura, que precisa escrever, você tem que retratar seu período". Foi isso que fiz, Mundo Cão é a primeira coisa que escrevi e retrata o nosso tempoDivulgação/ Heder Novaes
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Depois de seis meses escrevendo, a obra Mundo Cão tornou-se real. O livro narra, em primeira pessoa, a história de Pedro Contino, um jovem que sofre desde cedo por conta das peripécias da vida e, por mais que busque o melhor, vê, em sua sombra, o caos. Morador da favela Roda Vida, Pedro poderia ter traçado qualquer caminho, mas a vida escolheu um em especial. Mesmo em meio à ausência de recursos, é apresentado à literatura por um vizinho mais velho, e, por conta dela, cria uma importante consciência social. Guiado por músicas e livros, ele logo percebe como tudo funciona. Indigna-se e, amargamente, percebe que não tem poder para realizar uma mudança no mundo. O caos já faz parte deste garoto, que se envolve com drogas, álcool, e, para completar, com as mais belas e loucas mulheres
Divulgação/ Heder Novaes
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O jovem escritor conta que a inspiração para produzir a obra foi a Bahia e a música.
— Embora eu não gostasse de ler, eu gostava muito de música e não apenas pelo instrumento, mas pelas histórias que estavam por trás, como as letras de Gabriel Pensador.
O personagem do livro é uma homenagem a dois cantores: Gabriel Contino, mais conhecido como Gabriel Pensador, e Pedro Pondé, vocalista da banda ScamboDivulgação/ Heder Novaes
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O livro de Matheus está sendo comparado a obras de Jorge Amado, pela forma de retratar a realidade.
— Não li Jorge Amado, minha influência nacional foi o Glauco Cortez. Ele é jornalista e escreveu Romance Rock, no qual retrata com músicas a década de 80.
A coordenadora editorial da Novo Século, Nair Ferraz, disse que a obra de Matheus chamou a atenção pela capacidade de usar a literatura beat e transportá-la à realidade da periferia. E também de trabalhar com conflitos recorrentes de jovens nessas comunidades. Para ela, o jovem é uma promessa para a literatura brasileira.
— São poucas obras que chegam para o selo Talentos da Literatura Brasileira que seguem a linha de literatura marginal (influenciada diretamente pela literatura beat, como Jack kerouac, Charles Bukowski) e consegue, de fato, cativar, transportando os conflitos para a realidade brasileira. Até mesmo na literatura brasileira temos poucos representantes. Matheus tem uma linguagem acessível e trabalha bem a ideia do “fluxo de consciência”, como na literatura marginalDivulgação/ Heder Novaes
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Os amigos e familiares ficaram surpresos com a estreia de Matheus Peleteiro como escritor, já que ele não havia comentado com ninguém enquanto escrevia.
— Foi engraçado, alguns questionavam como aquilo havia acontecido tão rápido, mas me apoiaram bastante. Enviei para as editoras de forma despretensiosa e até desconfiei quando avisaram que iriam publicarDivulgação/ Heder Novaes
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Feliz com a repercussão do livro e atento as críticas recebidas, Matheus se prepara para novos projetos e afirma que já tem três livros em andamento. Sua intenção é deixar registrado o que se passa na época em que vive, coisas que a morte não pode apagar e que se tornam história
Arquivo pessoal
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Outra jovem baiana também tornou-se uma revelação da literatura em 2015: Parla de Paula. Depois de encantar Ariano Suassuna em um concurso de literatura, ela escreveu Clara e a garota do espelho. O livro fala sobre a insatisfação que leva jovens a trilhar caminhos como o da anorexia e o da bulimia, dois problemas que Parla conheceu de perto. Veja matéria
Reprodução/ Facebook