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Superação é o que defini a trajetória do soldado Carlos Alberto Moreira de Freitas Júnior, de 33 anos, morador de Feira de Santana, município localizado a 108 km de Salvador. O policial baiano, conhecido como Moreira Junior, viu sua vida mudar após um grave acidente que o deixou paraplégico
* Colaborou a estagiária do R7 BA Kátia PradoReprodução/ Facebook
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Moreira Júnior ingressou na Polícia Militar em 2003 e contou a reportagem do R7 BA que sempre foi uma pessoa muito ativa. Em 2007, durante uma viagem de férias, o PM perdeu o controle do veículo em uma curva e despencou de uma ponte. No carro, além de Moreira Junior, estavam o irmão Caio Moreira, de 24 anos, o amigo Anderson Ataíde, de 21, um primo e a noiva do soldado, Simone Mota.
Com o impacto, o irmão de Moreira Junior e o amigo morreram no local. Seu primo e a noiva tiveram ferimentos graves; o PM teve uma lesão medular, que o deixou paraplégico.
— Sempre fui um cara muito ativo, sempre gostei de esporte. Trabalhava na viatura da polícia, aí de uma hora para outra acordei no hospital e fiquei sabendo de tudo isso, ainda com a perda do meu único irmão, parecia que mundo ia desabar sobre minha cabeçaReprodução/ Facebook
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Moreira disse que quando acordou na UTI (Unidade de Terapia Intensiva), cinco dias após o acidente, e soube das mortes e do seu estado viu duas opções: se entregar e definhar em uma cama até a morte ou levantar a cabeça e buscar forças em Deus e em tudo e todos que o cercavam de atitudes positivas, para tentar seguir em frente.
— Escolhi a segunda opção. Nesse momento da tristeza e perda de meu irmão, comecei a pensar em meus pais, pois sempre fomos muito unidos. Se eu desistisse, minha família ia acabar. Ali, fiz um pacto com Deus, que eu ia lutar sempre, independente das dificuldades que aparecesse pelo caminhoReprodução/ Facebook
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Sete meses após o acidente, o soldado começou a fazer tratamentos de reabilitação no Hospital Sarah Kubitschek, em Salvador, e lá foi apresentado a vários esportes adaptados para cadeira de rodas.
— Escolhi a musculação adaptada, porque já fazia antes do acidente. Fui notando que, ao associar a musculação e a fisioterapia, minha qualidade de vida foi melhorando.
Em 2012, Moreira soube que o Hospital São Rafael e a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) fariam uma experiência com células-tronco. Catorze pessoas foram selecionadas para participar do experimento e Moreira foi uma delas.
— Melhorou minha sensibilidade nas pernas, meu equilíbrio de tronco e passei a fazer os exercícios com mais facilidadeReprodução/ Facebook
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O PM disse que, ao perceber que poderia incentivar outras pessoas com a mesma deficiência a se exercitarem e a ter uma vida com mais qualidade, começou a postar as fotos e vídeos dos treinos nas redes sociais.
— Comecei a postar meus vídeos, fotos de treino e fisioterapia com o intuito de alcançar cadeirantes ou pessoas com outro tipo de deficiência. Recebo mensagens de pessoas que disseram que meu exemplo é um incentivo e isso é gratificante.
Um árbitro de fisiculturismo do Paraná viu as fotos do PM e o convidou para ingressar na modalidade esportiva.
— O árbitro da IFBB (Confederação Brasileira de Musculação, Fisiculturismo e Fitness) me disse que eu estava com um físico legal, mas não tinha categoria de cadeirante pela falta de atleta e se eu fosse iria incentivar outras pessoasReprodução/ Facebook
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Desde então, Moreira Junior vem acumulando vitórias. Em 2014, venceu o Campeonato Baiano de Fisiculturismo na modalidade cadeirante e também venceu a etapa nacional, além de vencer a Copa Iron Man e ter sido premiado pela Sudesb (Superintendência dos Desportos do Estado da Bahia) como melhor atleta de 2014 na categoria de fisiculturismo. Infelizmente, por falta de patrocínio, o soldado não pode disputar o Campeonato Mundial de Fisiculturismo.
Agora, Moreira Junior foi convidado para participar do Arnold Classic Brasil 2015, no Rio de Janeiro. Ele irá representar o fisiculturismo de cadeira de rodas na área do paradesportoReprodução/ Facebook
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Mas, a sua rotina de superação não parou por aí. Depois de 15 anos de relacionamento, o soldado oficializou a união com Simone, que apesar da gravidade dos ferimentos, conseguiu se recuperar completamente do acidente.
Moreira afirmou que o apoio da família e amigos tem sido fundamental nesta fase da vidaReprodução/ Facebook
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Além do esporte, Moreira Junior se sente vitorioso na área profissional. Ele é o primeiro policial militar cadeirante da Bahia na ativa.
— Já aconteceu outros casos antes e eles eram aposentados mesmo sem querer. Eu procurei meus direitos para exercer alguma atividade que pudesse ser feita sentada. Comecei a trabalhar no monitoramento das câmeras de Feira de Santana e hoje represento a corporação como atleta da PMReprodução/ Facebook
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Para ele, o esporte é como uma luz que o guia e o incentiva a estar sempre positivo.
— Depois do acidente, a gente começa a dar valor as coisas mais simples da vida, como sentir a areia nos pés, levantar e andar. Tenho plena consciência do que é uma lesão medular, mas tenho uma coisa dentro de mim que diz que devo continuar. Faço coisas que os médicos achavam impossível, eu engatinho, pedalo, faço chute com caneleira de peso, marcha com andador. Vou continuar lutando pelo meu maior sonho, que é andar e conseguir um contrato profissional com a IFBBReprodução/ Facebook
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Por fim, o PM deixou um conselho para aqueles que também possuem alguma deficiência e acham que não são capazes.
— A vida é muito curta para perdermos tempo com negatividade, por isso é preciso ter foco, força, fé, pois com Deus no comando vai dar tudo certoReprodução/ Facebook