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Ministro Serraglio, que faz lembrar Armando Falcão
Postado por rkotscho em 02/05/2017 às 12:32 em Sem categoria | 18 Comments
"No Brasil, o fundo do poço é apenas uma etapa" (Luis Fernando Veríssimo).
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Poucos sabiam quem era Osmar Serraglio, um líder ruralista do PMDB do Paraná, quando ele foi nomeado por Michel Temer para o Ministério da Justiça no lugar de Alexandre de Moraes.
Só ganhou destaque recentemente ao aparecer uma gravação na Operação Carne Fraca em que o ministro trata um membro da quadrilha de fiscais de "grande chefe".
Grande chefe, como sabemos, quem tem é o povo indígena, do qual deveria cuidar o Ministério da Justiça, a quem é subordinada a Fundação Nacional do Índio (Funai).
Após um ataque de fazendeiros que deixou feridos mais de dez índios do povo Gamela, no município maranhense de Viana, na segunda-feira, o ministério de Serraglio divulgou uma nota informando que estava "averiguando o ocorrido envolvendo pequenos agricultores e supostos indígenas".
Como assim, supostos indígenas? Será que é tão difícil assim distinguir quem é índio e quem é fazendeiro?
Pode-se entender o desconhecimento ao consultar a agenda de Serraglio: em seus 55 dias à frente do Ministério da Justiça, ele já recebeu em audiência 82 representantes da Frente Parlamentar da Agropecuária formada pela bancada ruralista _ e nenhum dos povos indígenas.
Em matéria publicada pela Folha nesta terça-feira, ficamos sabendo que 18 destes parlamentares estão na lista do ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo.
Entre eles, o senador Renan Calheiros, do PMDB de Alagoas, que também já foi ministro da Justiça, no governo Fernando Henrique Cardoso, e é campeão de processos no STF.
Na semana passada, durante o confronto entre índios e policiais em frente ao Congresso, segundo sua agenda, Serraglio recebia em seu gabinete dois ruralistas e, em seguida, foi à Câmara para se reunir com a bancada.
Sumido de cena desde que seu nome foi envolvido na Operação Carne Fraca, o ministro ressurgiu na última sexta-feira como porta-voz do governo durante a greve geral.
Logo cedo, ele deu uma entrevista para dizer que não havia greve nenhuma, apenas uma "baderna generalizada".
Como sou antigo, e já havia ouvido coisa parecida no passado, lembrei-me de um antecessor do deputado ruralista colocado no Ministério da Justiça, o inesquecível Armando Falcão, um civil que se tornou porta-voz dos generais e se celebrizou com a frase "nada a declarar".
Falcão pelo menos disfarçava suas preferências e a ira contra movimentos sociais, era mais sutil e refinado, quem diria.
Em sua coluna de hoje no jornal espanhol El País, sob o título "Os que apodrecem _ Quando os índios descobrem o Brasil do governo 9% de aprovação Temer", a grande repórter brasileira Eliane Brum termina seu texto assim:
"O que apontam as flechas dos indígenas?
As flechas dos indígenas apontam que no Brasil o passado não passa e o futuro já passou".
Não deixem de ler. Vale a pena. É uma perfeita síntese dos tempos que estamos vivendo.
Vida que segue.
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