"Vê-se que o aparelho de Estado está minado por todos os lados. É uma espécie de quinta-coluna permanente. Não há mais reserva de nada. Isso não é o governo, não. O Estado é que é assim. Como é que a gente reconstrói esse Estado tão apodrecido?" (Ex-presidente Fernando Henrique Cardoso na contra-capa do primeiro volume do seu livro Diários da Presidência, Companhia das Letras).
***
FHC já lançou mais dois volumes desta coleção, mas até hoje não respondeu à pergunta sobre o Estado apodrecido reproduzida na epígrafe deste texto.
À luz do presente debate da reforma da Previdência, a leitura das memórias presidenciais do antigo sociólogo serve para mostrar que na política brasileira tudo muda para tudo continuar no mesmo lugar. Até as moscas são as mesmas.
No jantar de quarta-feira com a cúpula tucana, o presidente Michel Temer queixou-se do desgaste que vem sofrendo com as reformas e foi consolado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
O ex lembrou que também tentou fazer um governo de reformas, mas teve oito anos para fazê-las, e agora Temer está sendo corajoso por tentar aprová-las com tão pouco tempo de mandato que lhe resta.
Só não sei se os dois se lembraram do que aconteceu em 1996, quando estavam em campos opostos.
No primeiro mandato de FHC, Michel Temer, já então cacique-mor do PMDB, era o relator do projeto de reforma previdenciária do governo enviado à Câmara.
Está no livro citado, um catatau de 929 páginas, que eu consegui ler até o fim:
"Na última hora, o Michel Temer mudou coisas muito importantes que havia combinado conosco, tornando a reforma previdenciária muito pouco eficaz para combater uma porção de abusos (...) A reforma da Previdência foi desfigurada, o Temer cedeu além de todos os limites".
Ou seja, tudo mais ou menos como está acontecendo agora, vinte e um anos depois _ e pelas mesmas razões.
Em comum, os abusos a que FHC se referia são os direitos adquiridos pelas corporações do funcionalismo público em todos os níveis, mais unidos do que nunca na luta pela manutenção dos seus privilégios na legislação previdenciária.
Estes eternos direitos adquiridos são na verdade privilégios adquiridos desde os tempos de dom Joãozinho no Império, os principais responsáveis pelos crescentes rombos nas contas da Previdência.
Assim como aconteceu esta semana, o projeto original do governo foi aprovado com muitas mudanças em primeiro turno na Câmara, mas acabou mutilado no final do caminho na votação final em plenário, o que levou FHC a desabafar:
"O Congresso não quer mesmo mudar. Vamos ter 30% do que queríamos. É pouquíssimo".
Quanto vai sobrar desta vez?
Para evitar que se repita com ele o que fez com FHC na sua fracassada tentativa de reforma da Previdência, Michel Temer agora chamou o ex-presidente e o alto comando do aliado PSDB para garantir o apoio do partido quando o atual projeto for a plenário, ainda sem data marcada.
Fiéis ao seu estilo, os tucanos juraram fidelidade, mas desde que o PMDB, o partido do governo, feche questão antes.
Como isso ainda não aconteceu, e o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros, faz franca oposição ao projeto, pode se repetir com Temer o mesmo que aconteceu com FHC, traído pela própria base aliada na maior derrota do seu governo.
No dia 6 de maio de 1998, faltou um voto para os 308 necessários para a aprovação da idade mínima (60 anos para homens e 55 para mulheres) nas regras permanentes da reforma, só para os trabalhadores da iniciativa privada.
Os jornais da época registram que FHC ficou à disposição durante todo o dia para conversar com parlamentares e montou uma tropa de choque com ministros e líderes partidários para garantir a aprovação.
Vejam quem estava lá: Paulo Maluf, então presidente do PPB (hoje PP), tentando convencer os dissidentes do seu partido; os ministros Eliseu Padilha (Transportes) e Renan Calheiros (Justiça).
"Vou ficar no ministério recebendo telefonemas e deputados", disse Padilha à Folha, ao deixar a Câmara pela manhã, enquanto Renan Calheiros despachava no gabinete do líder do PMDB.
Tenho ou não razão ao dizer que nem as moscas mudaram? Estão todos lá novamente, e o notório Eliseu Padilha hoje é o chefe da tropa de choque do governo Michel Temer na batalha pela aprovação da reforma. Só Renan desgarrou.
Ao final do jantar com os tucanos, Michel Temer informou que pretende levar a reforma da Previdência ao plenário da Câmara dentro de três semanas, em busca dos mesmos 308 votos que FHC não alcançou num mês de maio de quase duas décadas atrás.
O que mudou?
"Temer, quem diria, já detonou a reforma de FHC"
5 de May de 2017 às 10:46 - Postado por rkotscho
A legislação brasileira prevê a possibilidade de se responsabilizar o blogueiro pelo conteúdo do blog, inclusive quanto a comentários; portanto, o autor deste blog reserva a si o direito de não publicar comentários que firam a lei, a ética ou quaisquer outros princípios da boa convivência. Não serão aceitos comentários anônimos ou que envolvam crimes de calúnia, ofensa, falsidade ideológica, multiplicidade de nomes para um mesmo IP ou invasão de privacidade pessoal / familiar a qualquer pessoa. Comentários sobre assuntos que não são tratados aqui também poderão ser suprimidos, bem como comentários com links. Este é um espaço público e coletivo e merece ser mantido limpo para o bem-estar de todos nós.
Faco um pedido ao RK para que nao publique mais fotos dos golpistas e seus apoiadores. É intragavel.
Temer na época de FHC não era aposentado e almejava uma aposentaria ainda jovem e com todas as regalias possíveis. Agora já aposentado, almeja acabar com a aposentadoria dos mais pobres deste País. Ao contrário que o temeroso prega que são os mais ricos que sairão prejudicados com a reforma da previdência, na verdade os ricos não dependem de aposentadoria nenhuma para sobreviver, já são ricos, e sim os pobres e miseráveis que só por um milagre conseguirá se aposentar com essa reforma do temeroso. Temeroso vai cobrar os impostos das 500 maiores empresas que devem uma fortuna de impostos aos cofres públicos do País e deixa de perseguir a população mais pobre do Brasil.
"Ao final do jantar com os tucanos, Temer informou que pretende levar a reforma da Previdência ao plenário da Câmara dentro de três semanas, em busca dos mesmos 308 votos que FHC não alcançou num mesmo mês de maio de quase duas décadas atrás. O que mudou?" Mudou que após FHC, Mestre, Lula e Dilma tentaram por dentro, através de política de conciliação, iniciar a mais importante das reformas, a civilizatória, para dar gradativamente vez e voz aos oprimidos e aos despossuídos, com garantias e proteções às minorias e redução da DESIGUALDADE, mãe de todas as nossas mazelas e de todas as demais reformas necessárias: a política, do judiciário, da tributação, da previdência, da relação trabalhista, etc. A reforma principal, a civilizatória, em busca de mudanças comportamentais e institucionais, com foco no fim da desigualdade vigente no país, de forma lenta e permanente, via conciliação, resistiu até o momento em que perceberam a dificuldade crescente para retomarem o poder de direito, o que os levaria inevitavelmente a perda do poder de fato e daí fim do reinado da Casa Grande no Brasil, com tudo que isso implica em termos de privilégios e usos e costumes dessa gente 'ilibada e do bem'. Veio o golpe, agora com costume jurídico-midiático e tudo volta a ser como dantes. Volta a possibilidade, de pagar por serviços com casa e comida, do guarda manter a ordem quebrando a testa de quem a perturba ou estava pensando em, de remover o 'pior tipo de lixo', o pobre, da rua, quebrando-lhe ou não o braço, para manter a cidade linda, de colocar as minorias em seu devido lugar, o gueto, de onde nunca deveriam ter saído, da justiça definir o culpado e sair em busca de provas, mesmo que estendendo a quebra de sigilos por toda a existência do já condenado, do 'que é bom para o EUA, é bom para o Brasil', de ouvirmos plim-plim sem risco de não ser campeã de audiência. Olhar a árvore, não faz enxergar a floresta.
A política Sr.Kotscho, dizia Voltaire, tem sua fonte na perversidade e não na grandeza do espírito humano. A mentira e a desfaçatez são partes inerentes da atividade partidária que busca sustentação no voto popular. O político, já ensinava Machiavelli desde 450 anos passados, não deve ''guardar a palavra dada'' (não deve cumprir promessas)se esta lhe for um empecilho entre a administração de fato e as promessas de campanha. Machiavelli foi maior marqueteiro político de todos os tempos e suas lições são seguidas à risca nos tempos atuais. Mentir, omitir, simular e dissimular são procedimentos essenciais a qualquer candidato a cargos eletivos. Lembrando ainda oportunamente de outro marqueteiro que ficou na história, Joseph Goebbels, o poderoso eleito pelas massas ensinava ele, tem que fazer esta crer que, a fome, a sede, a escassez e as enfermidades são culpa dos opositores. Mas isso tem que se fazer de forma sub-reptícia e com que os seus seguidores repitam isso diuturnamente , persistentemente e de forma convincente. Para o eleitorado não basta tão somente mentir, pois isso os adversários também faz muito bem.É preciso mentir muito mais e com eficácia. Não há, ao que se noticie, nenhum país do mundo que conceda aposentadoria pública para ninguém com menos de 65 anos. Quem ainda concedia estas generosidades até 2008 eram Portugal, Espanha e a Grécia. Os três tiveram que ''demitir'' servidores estabilizados e reduzir proventos de aposentadorias. No Brasil atual, o INSS paga 32 milhões de benefícios ,os quais deveriam ser sustentados por patrões,empregados. O governo mantem e opera o sistema .Ocorre que, para isso, com contribuição de 10% seria necessário, pelo o menos 5 contribuintes para cada beneficiário. Basta dividir 45/32 (1: 1.4)é a relação atual; 45 milhões pagando p/32 milhões de benefícios. Daí o déficit de mais de 200 bilhões de 2016. Basta dizer Sr.Kotscho, que todos ,todos, sem exceção, os fundos de pensão das estatais estão FALIDOS.
Caro Kotscho, nada a acrescentar sobre esse tema, tu já completou. Eu sempre digo isso o PSDB é ovo botado e chocado pelo PMDB. São iguais na genética, na prática e na política anti-povo. Só mudam de 1 pra 4. Um é 15 e o outro 45. E com um 25 no meio (o DEM)
O que mudou foi que o país perdeu 20 anos e ainda foi arrebentado pela incompetência petista, estando hoje em uma situação muito mais grave no campo fiscal, atolado na lama e com a corda no pescoço. Se políticos e funcionalismo pensassem mais no país a reforma hoje talvez nem precisasse ser feita.
O que mudou? É que o Michel, como sabe que ele, e todo resto do PMDB, não tem, e nunca teve (mesmo no tempo de Ulisses Guimarães), capacidade de eleger um Presidente, se ver a vontade para fazer o que FHC, Lula e Dilma tentaram e não conseguiram! Não adianta mesmo fazer mini reformas ou tapa buracos. Todos sabem que as regras atuais não se sustentam, mas muitos jogam para plateia, que ir contra as reformas é defender o povo. Pura balela! Assim como em qualquer orçamento, quando se nota que está gastando mais que o que tá ganhando, pode até ser mais fácil ganhar apoio em protelar a providências, mas se quer mesmo proteger, invés de fazer que "pode pagar", é fazer um ajuste nas contas, mesmo ouvindo a gritaria! Sim, o Temer poderá (e deverá) ficar marcado, como o político que cortou "direitos", mas certamente, se viver mais de uma década, ainda dirá.."Eu falei que a minha reforma ainda foi menor que a deveria ter sido feita"!
O grande nó da reforma previdenciaria está no corporativismo de muitas categorias, que se acham melhores que todos.Exemplo disto, são os policiais legislativos que não aceitaram integrar o baixo clero dos contribuintes e querem isonomia com outras categorias policiais, que nada tem a ver com a funçao deles. Dentro da camara, tinha corredor polones de funcionários legislativo fazendo pressão nos deputados, durante o horario de seu expediente de trabalho. É inaceitavel o aceite destas pressões.