Aos poucos, a minha geração de jornalistas vai perdendo as referências que enobreceram e dignificaram a nossa profissão.
Pensei nisso no velório de Fernando Pacheco Jordão quando me perguntaram o que ele representava para o jornalismo brasileiro.
Se apenas uma palavra fosse capaz de resumir a trajetória de um homem, no caso dele só pode ser esta: dignidade.
Em seus 80 anos de vida e 60 de jornalismo, meu amigo Jordão foi, acima de tudo, um homem de caráter, um profissional da maior competência, cidadão comprometido com seu tempo, sua terra e sua gente.
Nunca trabalhamos juntos na mesma redação, mas nos encontramos do mesmo lado em todos os palcos das longas batalhas pela redemocratização do país e da liberdade de imprensa.
Dele me lembro de estar sempre de bem com a vida, ao lado da sua inseparável Fátima, mesmo nos momentos mais difíceis, sem perder o humor meio britânico que trouxe da sua passagem pelo Serviço Brasileiro da BBC de Londres, onde foi parar em 1964, o ano do golpe.
Lá ele trabalhou ao lado do amigo Vladimir Herzog, seu ex-colega do Estadão e, na volta, em 1968, criou e dirigiu o jornalismo da TV Cultura (até ser demitido por motivos políticos, em 1974), onde seu corpo foi velado na quinta-feira.
Era diretor do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo quando o amigo foi assassinado pela ditadura nos porões do DOI-CODI, em 1975, história que ele conta no livro "Dossiê Herzog _ Prisão, Tortura e Morte no Brasil".
Com passagem marcante pela TV Globo, onde trabalhou como editor do "Jornal Nacional" em São Paulo" e diretor do "Globo Repórter", foi demitido da emissora após a greve de jornalistas em 1979.
Ainda atuou como correspondente de revistas brasileiras na Europa e foi assessor de imprensa de Mario Covas e Geraldo Alckmin.
São-paulino militante, com a saúde fraquejada por dois AVCs, o primeiro há 15 anos, Jordão se manteve lúcido e atento até o fim, preocupado com os rumos do país e sem perder a chance de fazer uma brincadeira com os amigos.
Fernando Pacheco Jordão dá nome ao Prêmio Jovem Jornalista criado pelo Instituto Vladimir Herzog para manter viva a memória do seu exemplo, troféu já disputado por quase dois mil estudantes de todo o país.
"Não cabe usar verbos no passado para o Fernando, a quem temos de dizer um adeus pleno de comovida tristeza (...). Não queremos, não admitimos que ele se vá", escreveu o amigo Nemércio Nogueira, outra referência nobre do nosso jornalismo, na nota do Instituto Vladimir Herzog.
Valeu, meu caro Fernando Jordão.
Vida que segue.
"Fernando Jordão: jornalismo perde exemplo de dignidade"
15 de September de 2017 às 11:10 - Postado por rkotscho
A legislação brasileira prevê a possibilidade de se responsabilizar o blogueiro pelo conteúdo do blog, inclusive quanto a comentários; portanto, o autor deste blog reserva a si o direito de não publicar comentários que firam a lei, a ética ou quaisquer outros princípios da boa convivência. Não serão aceitos comentários anônimos ou que envolvam crimes de calúnia, ofensa, falsidade ideológica, multiplicidade de nomes para um mesmo IP ou invasão de privacidade pessoal / familiar a qualquer pessoa. Comentários sobre assuntos que não são tratados aqui também poderão ser suprimidos, bem como comentários com links. Este é um espaço público e coletivo e merece ser mantido limpo para o bem-estar de todos nós.
Grande perda para o jornalismo brasileiro!! meus sentimentos a familia e a vc Kotscho!! com isso o Brasil vai ficando mais pobre de seus filhos ilustres
Mais um sindicalista digno da história de luta da classe-que-vive-só-do-trabalho; e que se foi, mas deixando um rastro de valores que dignificam o jornalismo e sua melhor prática. Amém!
Confesso que não me recordo dele. Mas não por menos, desejar a família e amigos o sentimento de pesar. Ontem tinha lido, no Portal do Governo de São Paulo, uma nota de pesar, assinada pelo Governador Geraldo Alkimin, segundo ele, "Fernando levava consigo a marca da coragem. Esse é seu grande legado para a imprensa brasileira" Que descanse em paz....
Concordo com você Kotscho-E acrescento não apenas o jornalismo,noutras profissões está acontecendo este mesmo fenômeno -Perda da dignidade.Estranhei as declarações recentes do A.Jabor sobre a saída do procurador Rodrigo Janot.Estás louco Jabor()Qual a melhor corrupção para o "progresso do Brasil;a do presidente Temmer e sua turma ou a do Lula e sua turma().Lembre-se,ambos fazem parte da mesma quadrilha política!!.
Fico triste porque a perda de uma grande pessoa na vida, nesse pais, demonstra que estamos perdendo inteligência e dignidade a cada dia, infelizmente.