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COLUNA-Quanto tempo aguenta um governo sem popularidade e apoio forte no Congresso?

Brasil|

(O autor é editor de Front Page do Serviço Brasileiro da Reuters. As opiniões expressas são do autor do texto)

Por Alexandre Caverni

SÃO PAULO (Reuters) - A situação política da presidente Dilma Rousseff se complica cada vez mais e não se consegue ver uma luz no fim do túnel. A não ser que ela e seu governo façam alguma coisa que mude o atual andar do cortejo.

Os números da mais recente pesquisa de popularidade de Dilma mostram o pior resultado desde o final do governo do ex-presidente José Sarney, em novembro de 1989. Apenas 9 por cento avaliam o governo Dilma como ótimo/bom e só 20 por cento dos brasileiros confiam na presidente, segundo sondagem CNI/Ibope divulgada nesta quarta-feira.

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O problema é que, junto com isso, ela segue com um apoio muito tênue de sua base aliada no Congresso, de modo que os parlamentares votam o que querem, quando querem e como querem. E ultimamente eles têm feito isso várias vezes contrariando abertamente os interesses do Palácio do Planalto e o equilíbrio fiscal do país.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tem dito em reuniões reservadas que um presidente ou governa com forte apoio popular ou com uma base sólida no Congresso.

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A situação ideal é quando essas duas coisas se juntam, como no final do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Quando isso não é possível, uma das duas condições precisa existir. O próprio Fernando Henrique admite que em seu segundo mandato ele "não tinha a rua", mas tinha o Congresso.

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O problema de Dilma é que ela não tem nenhum dos dois e cresce a percepção de que ela não está no comando.

Dias desses, brincando com os intermináveis boatos que povoam a Internet, uma piada circulava na rede dizendo que o novo boato era que Dilma governava o país.

Por quanto tempo aguenta um governo sem popularidade, que não tem o apoio necessário no Congresso e que ainda sofre com o maior escândalo de corrupção que se conhece?

Um experiente senador da oposição tem feito uma avaliação histórica bastante simples e diz que governos assim não terminam bem. Para ele, seguindo uma ordem cronológica, basta olhar para os governos Getúlio Vargas, João Goulart e Fernando Collor de Mello. Getúlio se suicidou, Jango foi derrubado por um golpe de Estado e Collor sofreu o impeachment.

A perda de popularidade e do controle sobre o Congresso se dá, não por acaso, no momento em que a política econômica sofreu uma forte inflexão em relação aos últimos anos, tendo que buscar um ajuste fiscal para equilibrar as contas públicas e, ao mesmo tempo, combater com juros mais altos uma inflação como não se via há muito tempo.

O resultado disso é uma fraqueza cada vez maior na atividade econômica e o consequente aumento do desemprego. Não há popularidade que resista.

O escândalo de corrupção envolvendo a Petrobras, investigado pela operação Lava Jato, só piora o quadro.

Segundo a pesquisa CNI/Ibope, as notícias mais lembradas são justamente as relacionadas ao chamado "petrolão". E depois delas vêm as notícias que têm a ver com medidas do ajuste fiscal, como as mudanças nas regras da aposentadoria e do seguro desemprego.

Como cada vez mais os economistas têm esticado o prazo para que a economia do país volte a ter um crescimento mais sustentável --significando que a popularidade vai demorar muito a se recuperar, se é que vai se recuperar--, a única solução para Dilma parece ser mesmo encontrar um melhor entendimento com o Congresso.

Ter colocado o vice-presidente Michel Temer encarregado da coordenação política foi um avanço, ainda que insuficiente, como mostram os resultados de várias das últimas votações no Congresso.

O ex-presidente Lula diz que Dilma tem os instrumentos para retomar o controle dessa situação. Como se diz no jargão político, ela "tem a caneta". Mas, a essa altura, é preciso mais do que simplesmente atender pleitos ou buscar apoio no "varejo" no Congresso a cada votação.

A presidente precisa, de algum modo, retomar a iniciativa política e trabalhar para acabar com a percepção de que o país está sem governo. Três anos e meio é tempo demais para as coisas ficarem do jeito que estão.

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* Esta coluna foi publicada inicialmente no terminal financeiro Eikon, da Thomson Reuters.

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