Francisco foi preso sem ser medicado e com a pressão alta
ReproduçãoAs investigações sobre a causa da morte do comerciante Francisco Edinei Lima Silva, na última segunda-feira (9), em Barra do Corda (MA), trazem divergências entre os dados divulgados pela polícia e os depoimentos de familiares da vítima.
Segundo Nielma Rodrigues, prima do comerciante morte, na tarde do domingo (8), a pressão arterial de Francisco estava em 20 por 15 (acima do limite de 14 por 9 para pressão considerada alta) quando ele foi liberado pelos médicos da UPA (Unidade de Pronto Atendimento) para ser preso na delegacida, que fica praça do Uchoa, no centro de Barra do Corda. Lá o comerciante ficou preso em uma "jaula" ao ar livre, sem teto, cama ou banheiro até o dia seguinte.
Francisco se envolveu em um acidente de carro no domingo e foi levado para a UPA junto com a outra vítima, que era um motociclista. Ele foi acusado de ser o responsável pelo acidente e de apresentar sinais de embriaguez. Sem ter sido medicado e com a pressão arterial acima do normal ele foi levado para a delegacia pela PM.
De acordo com a família, na delegacia, ele pediu assistência e agonizou sem nem receber um copo de água. "Ele pedia socorro, para não deixarem ele morrer. Os presos batiam nas grades e diziam 'o preso tá morrendo' e alguém de lá gritava 'isso é ressaca'", contou Nielma.
A mãe de Francisco, que é auxilar de enfermagem aposentada, ficou revoltada pela forma de atendimento. "Meu filho deveria ter ficado preso no hospital, medicado e sob observação até a pressão regularizar. Ele foi jogado na jaula sem dó", disse.
Durante as mais de 18 horas que passou na "jaula", o braço ferido do comerciante voltou a sanguar.
Outro lado
O delegado que conduz a investigação, Renilton Ferreira, disse que já ouviu o depoimento dos políciais que estavam de plantão no domingo e na segunda-feira. "Tem um carcereiro que entrega água gelada constantemente a todos os presos. Ele disse que deu água para o senhor Francisco", disse.
Segundo o delegado Ferreira, a versão do carceiro foi confirmada por outros presos em depoimento. O delegado também adiantou que o laudo pericial no corpo do comerciante, feito no IML de Imperatriz, apontou que a morte foi causada por um AVC (Acidente Vascular Celebral). Para o delegado, não há relação entre a causa da morte e a maneira como o comerciante foi mantido preso.
O R7 procurou a Secretaria Estadual de Saúde, responsável pela UPA, e a Secretaria de Segurança Pública do Maranhão, mas nenhum dos órgãos se manifestou sobre o caso.
Protesto
Amigos e familiares do comerciantes programaram uma passeata pacífica de protesto hoje (14). A concentração começa às 17h na praça da rodoviária.
De lá, os manifestantes devem seguir em caminhada até a delegacia. A família pediu para que os apoiadores compareçam usando camisetas brancas.
Além da apuração das denúncias de maus tratos e negligência médica, a família pede a desativação da "jaula". Na cidade, nesta época do ano, a temperatura chega a 40ºC. Ferreira deixou a viúva e três filhos. Ele não tinha antecedentes criminais.
Ouça o áudio com o depoimento da prima do comerciante: