O ex-deputado do PP-RS Vilson Covatti (camiseta roxa) em meio a um protesto de caminhoneiros no Estado
Reprodução/facebook.com/DeputadoCovattiOs caminhoneiros protestam há mais de uma semana nas estradas brasileiras contra a alta no preço do diesel e pelo reajuste no valor dos fretes. Embora não haja uma liderança unificada, um grupo de empresários e trabalhadores vem se apresentando como representante das manifestações: é o chamado Comando Nacional dos Transportes. Esse movimento conta com o apoio de deputados e ex-deputados do PP que, apesar de integrarem a base governista, são desafetos do PT e questionam publicamente o governo da presidente Dilma Rousseff.
O líder do Comando é o empresário Ivar Luiz Schmidt, dono de uma transportadora em Mossoró (RN). Ele foi alçado à liderança nacional dos caminhoneiros pelas mãos do deputado Jerônimo Goergen, do PP-RS, que o levou a Brasília na terça-feira (24), após identificá-lo como uma das lideranças das paralisações.
“O Jerônimo Goergen foi quem nos propiciou a vinda pra cá”, disse Schmidt ao R7 na noite de quinta-feira (26).
— Ele tem nos conduzido, [está nos] ensinando os atalhos aqui em Brasília.
Goergen é um dos coordenadores da Frente Parlamentar da Agropecuária (a chamada bancada ruralista) e também um dos autores da Lei do Caminhoneiro, aprovada pelo Congresso em fevereiro.
O texto elevou de quatro para cinco horas e meia o tempo de trabalho contínuo dos motoristas, além de estabelecer jornada de até 12 horas diárias e redução do tempo de sono de nove para oito horas por dia. O projeto foi criticado por parlamentares como Ivan Valente (PSOL-SP), para quem o texto apenas facilita o escoamento da produção, mas deteriora os direitos trabalhistas.
A sanção da lei, sem vetos, fez parte da proposta apresentada pela Presidência, na quarta-feira (25) à noite, para tentar acabar com as manifestações nas estradas — o que por fim não aconteceu.
Goergen — que usa o Facebook para criticar Dilma e chamar seu governo de "corrupto" — disse ao R7 que não tem nenhuma participação no movimento dos caminhoneiros, “a não ser apoiar a reivindicação e pedir para que não haja perda de alimentos e paralisação da produção”.
— O único fato que eu tenho é de ter trazido a Brasília, depois de seis dias, um dos líderes do movimento para que o governo conversasse, [mas] o governo subestimou o cara, não quis conversar, correu com ele inclusive de uma reunião lá no Ministério dos Transportes [na quarta-feira].
Goergen se refere à reunião de quarta, entre governo e representantes dos caminhoneiros, quando foram definidas as propostas da Presidência, mas da qual Schmidt não participou.
“Infelizmente o governo negociou de forma equivocada com pessoas que não pertenciam ao movimento”, diz o empresário.
— Ele [governo] percebeu isso, percebeu que a gente é que está comandando o movimento mesmo. Mas ao invés de nos procurar, anunciou que vai multar os caminhoneiros parados. Mas é um tiro no pé. O pessoal está cada vez mais irritado com esse governo.
Covatti pai e filho
Além do respaldo de Goergen, o líder do Comando conta ainda com o apoio do deputado Covatti Filho, também do PP-RS.
O Rio Grande do Sul é onde os protestos de caminhoneiros estão mais intensos — no Estado, o PP de Covatti e Goergen é adversário do PT, uma rivalidade que se acirrou nas últimas eleições para o governo estadual, pelas candidaturas derrotadas da senadora Ana Amélia (PP) e do ex-governador Tarso Genro (PT).
Schmidt passou a quarta, quinta e sexta-feira dentro do gabinete de Covatti Filho, em Brasília, articulando os protestos por meio do WatsApp. Ele está acompanhado por dois caminhoneiros, também do Comando Nacional do Transporte: Márcio José Correa e Celso Dalbosco.
“O deputado Covatti Filho (PP-RS) foi o primeiro que nos contactou. Inclusive o pai dele fica lá no Rio Grande do Sul coordenando os movimentos em contato direto com a gente aqui”, afirma Schmidt.
O pai do parlamentar é Vilson Covatti, ex-deputado pelo PP-RS e também ex-integrante da bancada ruralista. Covatti Filho negou que o seu partido ou o seu pai estejam participando da organização dos bloqueios.
— Na verdade, o meu pai foi um dos grandes interlocutores na legislatura passada na votação da Lei dos Caminhoneiros. Então se criou um contato muito grande com as lideranças no Rio Grande do Sul. Meu pai não está participando do movimento. Ele está me ajudando a entrar em contato com os líderes lá, para ouvir as reivindicações. [...] Ele está em Porto Alegre, não está em nenhuma cidade que está sendo bloqueada. Só está fazendo contato por telefone, não está instigando ninguém a fazer. É uma forma de termos um contato mais direto.
Nesta semana, entretanto, Vilson publicou em sua página de Facebook imagens onde aparece reunido com caminhoneiros em um bloqueio no Rio Grande do Sul.
Na rede social, o ex-deputado comemora a promessa do governo de sancionar a Lei dos Caminhoneiros, dizendo que “agora é a hora de cobrar as outras reivindicação”.
Covatti Filho, que é presidente da Frente Parlamentar Mista de Transporte e Logística, diz que “não é cabível” afirmar que ele atue na mobilização dos protestos.
Ele explica que deixa a sala de seu gabinete, onde o Comando está reunido, quando os manifestantes discutem detalhes da mobilização.
— Estamos o tempo todo junto, almoçando juntos. [...] Estão falando que eu estou estimulando a greve, mas muito pelo contrário, estou como interlocutor do movimento com o governo federal.
Covatti Filho também diz que tem pedido às lideranças dos caminhoneiros, reiteradamente, para não politizar o movimento.
— Estamos aqui para defender o caminhoneiro.
Apartidarismo
O porta-voz do Comando Nacional do Transporte também afirma que o movimento é apartidário, sem ligações com sindicatos e entidades de classe. Para ele, esse é um dos motivos para o governo não o receber.
No entanto, a página do Comando no Facebook, além de imagens e notícias da mobilização, compartilha imagens que defendem o impeachment de Dilma Rousseff. Reproduz ainda posts de grupos que acusam a petista de “implantar uma ditadura no Brasil”.
Em um dos vídeos compartilhados, Ivar é descrito como o “líder do movimento dos caminhoneiros contra a narcoditadura do PT”.
A página destaca ainda dois vídeos do senador Álvaro Dias (PSDB-SP), com discursos que relacionam o movimento à crise política enfrentada pelo governo, em razão das investigações de corrupção na Petrobras.
“É fácil imaginar a revolta dos caminhoneiros nesse País, tanto que pagaram o preço das propinas recebidas por alguns integrantes de uma organização criminosa que assaltou a Petrobras”, diz o senador em uma das publicações.
Ao R7, Schmidt reiterou o caráter despolitizado do grupo.
— Olha, o movimento começou apartidário. Não tenho ciência dessas postagens, não. Eu te confesso que não tenho tempo de ficar acompanhando as postagens da página.
Quem cuida da página do grupo é outro empresário dono de transportadora, Felipe Marisco, gaúcho que mora em Uruçuí, no Piauí.
— [Partidarizar o movimento] não é essa nossa intenção. Eu até vou dar uma conversada com Felipe. Mas o fato de postar vídeos de A ou B possivelmente é porque está se referindo ao movimento.
* Colaborou Alexandre Saconi