Segundo a nota, essa será a primeira denúncia contra uma empresa por participação em crimes da ditadura
Divulgação/VolkswagenO MPF (Ministério Público Federal) recebeu uma denúncia contra a Volkswagen do Brasil pela participação da empresa na repressão ocorrida durante a ditadura civil-militar brasileira (1964-1985).
A representação foi enviada na última terça-feira (22) e contou com a participação de diversas entidades e com ex-funcionários da Volkswagen que "sofreram diretamente ou testemunharam episódios de repressão".
Segundo a nota, "foram levantados documentos que comprovam o envolvimento da empresa no fornecimento de dados dos trabalhadores de suas fábricas ao DOPS [um dois órgãos responsáveis pelas prisões e torturas do período]."
Leia mais noticias de Brasil e Política
Além das informações para órgãos policiais, a nota afirma que a Volkswagen criou um sistema próprio de vigilãncia do movimento sindical e participou diretamente na "prisão e na tortura de seus empregados dentro do ambiente da empresa."
A pesquisa foi feita por um Grupo de Trabalho da Comissão da Verdade que investigava a repressão aos trabalhadores e sindicatos na ditadura.
Presidente da Volkswagen renuncia após fraude em testes de emissões
Volkswagen admite ter adulterado 11 milhões de carros para maquiar resultado de emissões
Segundo a nota, essa será a primeira denúncia contra uma empresa por participação em crimes do regime militar.
Procurada pelo R7, a Volkswagen disse que não irá se pronunciar sobre o assunto.
Confira a nota na íntegra:
A Volkswagen do Brasil é denunciada em representação ao MPF pela cumplicidade com o Estado nas graves violações de direitos humanos cometidas durante o período ditatorial de 1964 a 1985. É a primeira vez que uma empresa será denunciada por participação em crimes característicos de regimes autoritários no Brasil.
Por meio de pesquisa no Arquivo Público do Estado de São Paulo, foram levantados documentos que comprovam o envolvimento da empresa no fornecimento de dados dos trabalhadores de suas fábricas ao DOPS, na organização de um sistema próprio de vigilância e monitoramento do movimento sindical e do envolvimento direto na prisão e na tortura de seus empregados dentro do ambiente da empresa.
Segundo o pedido, a corporação foi cúmplice e solidária ao Estado na perpetração de crimes de lesa-humanidade, portanto imprescritíveis perante o direito brasileiro e o direito internacional, motivo pelo qual devem ser reparados pela empresa mediante indenização de cunho coletivo aos trabalhadores.
R7 Play: assista à Record onde e quando quiser
A iniciativa é do Fórum de Trabalhadores por Verdade, Justiça e Reparação, que reúne militantes e trabalhadores oriundos de entidades e centrais sindicais participantes do Grupo de Trabalho Ditadura e Repressão aos Trabalhadores, às Trabalhadoras e ao Movimento Sindical, da extinta Comissão Nacional da Verdade.
A entrega será feita em atividade pública no dia 22 de setembro de 2015, às 16h00, na sede do MPF em São Paulo – Rua Frei Caneca, 1360. Estarão presentes centrais sindicais, parlamentares, membros do Ministério Público, figuras públicas do mundo jurídico, membros de comitês e comissões da verdade, além dos próprios trabalhadores ainda vivos que foram empregados na Volkswagen e sofreram diretamente ou testemunharam os episódios de repressão.
*Com a colaboração de Victor Labaki, estagiário do R7