A investigação em torno do nascimento de filhos de casais russos em Florianópolis (SC) ocorre em meio "à falta de informações", diz a tradutora Olga Alyokhina Alves, sócia de Svetlana Abada em uma empresa que assessora cidadãs da Rússia que desejam fazer o parto no Brasil.
"Não fizemos nada de ilegal", diz Olga, que é casada com um brasileiro. Ela conta que acompanha as mães russas em consultas médicas, no parto e no tempo em que permanecem no Brasil.
O caso foi parar no Ministério Público de Santa Catarina após o Conselho Tutelar de Florianópolis suspeitar de um nascimento em 6 de fevereiro. Os promotores dizem que, desde 2014, sete casais russos foram para a capital catarinense apenas para ter os filhos e deixaram o país com os bebês logo em seguida.
A suspeita é de tráfico de crianças, o que Olga considera "um absurdo". "É só [a polícia] procurar que vão achar os pais e as crianças", afirma, ressaltando que não vivia no Brasil em 2014 e que só chegou ao país em 2015.
Após o parto ocorrido em 6 de fevereiro, o recém-nascido chegou a ser separado dos pais por dias e colocado em um abrigo, até a Justiça catarinense determinar que ele fosse devolvido, mas que o casal não se ausentasse do país sem comunicar o juiz. "Foi muito traumático para eles", lamenta Olga.
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A empresa Brazil Mama oferece assistência a pais russos que desejam ter seus filhos no Brasil e até estabelecer residência. O nascimento de uma criança em solo brasileiro dá direito à cidadania tanto para ela quanto para o casal.
Uma das vantagens de possuir o passaporte brasileiro é poder viajar sem a necessidade de visto para 158 países. O passaporte russo exige visto, inclusive, para ingressar na União Europeia.
Mas a questão vai além do passaporte, explica Olga. "Florianópolis tem qualidade de vida, o clima é agradável, não tem a violência do Rio de Janeiro ou de São Paulo. Muitos pais que tiveram filhos aqui voltam à Russia, mas querem no futuro poder morar em Florianópolis. Outros tiveram os bebês e ficaram morando na ilha."
A tradutora diz acreditar que elas foram vítimas de "discriminação" por parte das autoridades brasileiras pelo fato de serem russas. "Tem venezuelanas que vão a Florianópolis para ter filhos, haitianas... as mulheres podem escolher ter filhos no Brasil, o que há de errado?".
Segundo ela, Svetlana estuda na Universidade Federal de Santa Catarina em um curso de português para estrangeiros e entre os alunos há um casal do Kosovo que também teve bebê há um mês. "Ninguém pergunta por que a mulher deu à luz há um mês, eles cismaram com os russos."
Olga, Svetlana e outros cerca de 300 cidadãos russos integram uma comunidade em Florianópolis. Nas redes sociais, postam fotos de eventos com os filhos e familiares.
A Brazil Mama é descrita como uma empresa especializada em oferecer serviços para casais russos que queiram realizar o parto no Brasil.
Svetlana diz em uma rede social que possuir a cidadania brasileira é uma segurança para os russos em caso de "descontentamento, inflação ou de guerra" no país. "Eu mesma sou de Donetsk", escreveu. A região no leste da Ucrânia, na fronteira com a Rússia, vive em uma guerra civil desde 2014.
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