Eduardo Cunha gastou R$ 6.8 milhões em 2014
Marcelo Camargo/06.05.2015/Agência BrasilSancionada pelo presidente Michel Temer no começo de outubro, a proposta de reforma política estabelece que os gastos dos candidatos ao cargo de deputado federal ficam limitados a R$ 2,5 milhões a partir das eleições de 2018, independentemente do Estado.
Nas eleições de 2014, quando a regra não valia, o valor foi ultrapassado por 85 dos 513 deputados eleitos (ou 16,5% do total), de acordo com levantamento do R7 nos gastos declarados pelos parlamentares à Justiça Eleitoral.
Naquele pleito, não havia limite de quanto os deputados poderiam gastar em uma campanha, mas, se fosse nas eleições de 2018, esses parlamentares ficariam impedidos de assumir o cargo.
Representando 16,5% dos candidatos eleitos, os gastos desses deputados federais corresponderam a 43,2% do total utilizado para chegar à Câmara em 2014.
Novo teto para campanha barraria 2 de cada 3 senadores eleitos em 2014
O campeão de gastos foi o ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ), com gasto de R$ 6.832.479,98. Condenado a 15 anos de prisão, Cunha hoje responde atrás das grades pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e evasão de divisas no âmbito da operação Lava Jato.
O nome de Cunha é seguido na lista de gastos em 2014 pelo também peemedebista Marco Antônio Cabral (RJ) e por Iracema Portella (PP-PI), que tiveram gastos de, respectivamente, R$ 6.789.094,50 e R$ 6.723.539,50 em 2014.
Zveiter também está entre os que mais gastaram
Ueslei Marcelino/04.07.2017/ReutersVale lembrar também que, naquele pleito, ainda era permitido o financiamento privado das campanhas. A prática foi suspensa em 2015 pelo STF (Supremo Tribunal Federal) devido à pressão criada em decorrência da Operação Lava Jato, que revelou pagamentos de empresas para políticos, na forma de doações eleitorais lícitas e ilícitas, em troca de contratos públicos.
O impedimento das doações de empresas para as campanhas levou à criação de um fundo de, aproximadamente, R$ 1,7 bilhão para bancar os candidatos a partir da eleição do ano que vem. A grana será originada de 30% do valor que é concedido a emendas parlamentares. Áreas como saúde e educação correm o risco de sofrer cortes para alimentar o fundo público eleitoral.
Partidos
Entre os partidos, PSDB (18), PP (15), PMDB (10) e PT (9) lideram o número de parlamentares eleitos em 2014 com gastos acima de R$ 2,5 milhões.
As siglas PR (5), PSB (5), PSD (5), DEM (4), SD (4), PTB (3), PSC (2), PPS (2), PCdoB (1), PDT (1) e PMN (1) também tiveram deputados federais eleitos com gastos acima do que o permitido para 2018.
Carlos Zarattini (PT-SP) gastou mais que os R$ 2,5 mi
Thyago Marcel/10.11.2015/Câmara dos DeputadosDefesa
Com gasto quase 150% superior aos R$ 2,5 milhões em 2014, o deputado Carlos Zarattini (PT-SP) recorda que, sem um limite estabelecido, “tudo o que se arrecadava era gasto”. Ele afirma que o novo teto “deveria ser menor”, mas avalia a mudança como positiva.
“Quem trabalha mais, é mais conhecido, e quem tem mais relacionamento acaba em vantagem”, destaca o parlamentar, citando que as campanhas na internet também ganharão mais força a partir do próximo ano.
Também em conversa com o R7, Sérgio Zveiter (PODE-RJ) diz que não concorrerá à reeleição no ano que vem, mas considera o novo teto como “um valor razoável para fazer uma boa campanha” diante da igualdade de condições para todos.
Zveiter lembra que, em 2014, foi o deputado federal que mais gastou dinheiro próprio. “Essa não é uma coisa que eu estaria disposto a fazer duas vezes na minha vida, mas, para poder ter um mandato independente, acabei pegando do meu para 70% ou 80% da minha campanha", afirma Zveiter.
O R7 entrou em contato com os deputados Marco Antônio Cabral (PMDB-RJ) e Iracema Portela (PP-PI), mas não obteve retorno.
A assessoria do deputado Benito Gama (PTB-BA) disse que o parlamentar estava em viagem e não poderia responder aos questionamentos. Artur Bisneto, fora do mandato, não foi localizado, e Eduardo Cunha, preso em Curitiba, não pôde se pronunciar.