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Petrobras pode não pagar dividendos de 2014 e vê investigação por até 2 anos

Brasil|

Por Marta Nogueira e Jeb Blount

RIO DE JANEIRO (Reuters) - A Petrobras, no centro de um escândalo bilionário de corrupção, indicou que poderá não pagar dividendos de 2014 aos acionistas em caso de estresse financeiro e que a investigação contratada para apurar irregularidades na empresa poderá se estender por até dois anos.

A diretoria da companhia traçou nesta quarta-feira um panorama difícil para o futuro próximo, um dia após ter divulgado o balanço não auditado do terceiro trimestre de 2014 sem nenhuma baixa contábil por fraude envolvendo a empresa, frustrando expectativas de analistas e investidores.

"Há a possibilidade de não haver pagamento de dividendos, essa é uma alternativa que pode ser avaliada dependendo da situação da companhia", disse o diretor financeiro da estatal, Almir Barbassa, durante teleconferência com analistas e investidores, referindo-se aos resultados da empresa em 2014.

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Mesmo em caso de fechar o balanço do ano com lucro, o executivo frisou que a petroleira poderá declarar o dividendo e não realizar o pagamento de imediato, opção que exigiria aprovação não apenas do Conselho de Administração, mas também de assembleia geral de acionistas.

A Petrobras é peça-chave da Operação Lava Jato, da Polícia Federal, segundo a qual executivos da estatal indicados por políticos conspiraram com empresas de engenharia e construção do país para sobrevalorizar obras entre 2004 e meados de 2012.

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As incertezas sobre a saúde financeira da Petrobras têm deixado a estatal na berlinda e assombrado o início de segundo mandato da presidente da República Dilma Rousseff, que presidiu o Conselho de Administração da estatal de 2003 a 2010.

Na terça-feira, a Petrobras deu uma sinalização do tamanho das baixas contábeis que poderá ter que registrar, ao declarar que a avaliação de 52 empreendimentos em construção ou em operação citados na Lava Jato estão com valor contábil mais de 60 bilhões de reais acima de seu valor justo.

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No entanto, o Conselho optou por não ratificar a abordagem do valor justo para os ativos, por não concordar com a metodologia, que incluiu diversos fatores econômicos além da própria corrupção, o que levou a um valor muito alto.

Segundo a presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, os advogados independentes contratados pela empresa disseram que pode levar de um a dois anos para que a investigação de corrupção seja concluída.

Graça Foster, como prefere ser chamada, disse que apenas em junho a empresa deve ter certeza sobre variáveis, como preço do petróleo e taxa de câmbio, além de informações sobre a Lava Jato, para apresentar seu plano de negócios 2015-2019.

A executiva adiantou que a curva de produção da empresa será reduzida, principalmente devido aos desafios de contratação de fornecedores, já que algumas das maiores empreiteiras estão envolvidas no escândalo de corrupção, além dos desafios ligados ao financiamento da companhia.

"A curva de produção, certamente será atenuada, esse crescimento não se dará no nível de aceleração que nós prevemos no plano 2014-2018", afirmou Graça.

A Petrobras trabalha para não precisar captar recursos no mercado em 2015 e recorrer o mínimo possível a contratações de dívidas em 2016 e em 2017, segundo a presidente da estatal.

Durante as três horas que falou com analistas de mercado e depois com jornalistas, a diretoria da empresa se esforçou em mostrar que busca com intensidade a redução de custos.

O diretor de exploração e produção da petroleira, José Miranda Formigli, chegou a afirmar que "participação em leilão (de blocos exploratórios de petróleo) tem que ser de uma seletividade imensa para a gente avaliar se vale a pena”.

A postura mostra uma mudança grande para a empresa, que sempre foi personagem principal dos leilões no Brasil. Em sua última previsão, o governo anunciou um leilão para o primeiro semestre deste ano, mas os blocos ainda não foram confirmados.

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PERDÃO DE CREDORES

A Petrobras tem dezenas de bilhões de dólares em títulos de dívida no exterior e o atraso prolongado da divulgação de resultados trimestrais sem o selo de um auditor externo pode disparar a exigência de amortização antecipada.

O diretor financeiro da empresa disse que tem mantido conversas com detentores de bônus. No caso do balanço anual, a companhia tem prazo de 120 dias a partir do fim do exercício, mais 30 ou 60 dias para apresentar os números, dependendo do contrato com os credores.

"Nós temos mantido contato com os bilaterais que são os primeiros que estavam na fila. E anunciamos que tínhamos para o fim de janeiro uma obrigação com um desses credores de apresentar um balanço trimestral auditado, e já obtivemos dele a concordância de não fazê-lo", disse Barbassa.

"Tendo o novo obstáculo pela frente... a gente vai certamente manter no nosso radar a continuidade ou ampliação da discussão, se necessária, para no tempo muito adequado a gente ter evolução de ganhar mais tempo."

Embora tenha afirmado que "o propósito e convicção" é atender no prazo previsto a publicação do balanço anual, o executivo destacou que isso depende de "elementos que não estão sob nosso controle".

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QUEIMA DE CAIXA

A Petrobras estimou que encerrará 2015 com caixa de 8 bilhões a 12 bilhões de dólares, após ter iniciado o ano com cerca de 25 bilhões de dólares disponíveis. A estatal também previu que levantará 3 bilhões de dólares com desinvestimentos no ano.

No cálculo do fluxo de caixa de 2015, entram também 28 bilhões a 32 bilhões de dólares de geração operacional e investimentos de 31 bilhões a 33 bilhões de dólares, cifras que já haviam sido divulgadas pela estatal na terça-feira.

A queima do caixa permitirá que a companhia evite captações de novos recursos ao longo deste ano.

Depois de caírem mais de 10 por cento na terça-feira, as ações da Petrobras voltaram a recuar nesta sessão. As preferenciais perderam 3,10 por cento e as ordinárias tiveram baixa de 1,85 por cento.

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(Reportagem adicional de Rodrigo Viga Gaier)

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