Advogado Mauro Menezes é ligado à CUT
Valter Campanato/Agência Brasil - 23.06.2017O presidente da Comissão de Ética da Presidência da República, o advogado Mauro de Azevedo Menezes, é ligado à Central Única dos Trabalhadores (CUT). O escritório de advocacia do qual é sócio já atuou em diversas ações para sindicatos importantes ligados à central, como a Federação Nacional dos Portuários e a Federação Nacional dos Trabalhadores dos Correios. No passado, também trabalhou para o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo, berço político do ex-presidente Lula.
O advogado é especialista em Direito Sindical. Ele foi nomeado pela ex-presidente Dilma Roussef e é um dos últimos remanescentes da gestão anterior ainda no governo. A posse do advogado aconteceu em 2012 em meio à renúncia do então presidente do órgão, Sepúlveda Pertence, que não concordou com duas indicações de novos integrantes da comissão feitas pela ex-presidente. Menezes assumiu a presidência do órgão em 2016. O mandato dele termina em março.
No mesmo ano em que entrou na comissão, o advogado foi relator do processo contra o ex-ministro de Desenvolvimento e Indústria Fernando Pimentel, atual governador de Minas Gerais, acusado de ter influenciado o resultado de uma licitação à época que era prefeito de Belo Horizonte. Pimentel é amigo de Dilma desde os tempos de militância estudantil.
Segundo a denúncia, a empresa ganhadora da licitação, a Convap, contratou os serviços da P21-Consultoria e Projetos, de propriedade do Ministro. Menezes foi o relator do caso e isentou Pimentel de responsabilidade.
Conflitos
O advogado é um dos responsáveis pela abertura de investigações na comissão de ética da Presidência contra ministros próximos ao presidente Michel Temer, como Elizeu Padilha e Moreira Franco.
A relação com os homens de confiança do presidente é conflituosa. No ano passado, o deputado federal Carlos Marun, atual ministro da Secretaria de Governo, encaminhou representação à própria Comissão de Ética contra Menezes em razão de um ponto da delação da Odebrecht envolvendo o ex-governador da Bahia Jacques Wagner e o Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Química. Wagner é o atual secretário de desenvolvimento do estado.
O ex-diretor da Odebrecht Cláudio Melo Filho disse em delação premiada que a empresa pagou R$ 3 milhões para a campanha a governador de Wagner em 2006 em doações oficiais e em caixa 2. Depois da eleição, executivos da empresa o procuraram para cobrar a solução de problemas da Odebrecht na Bahia.
Segundo o delator, Wagner ouviu os pedidos da empreiteira, mas como contrapartida pediu para que encerrassem uma disputa judicial com o sindicato dos químicos que reclamavam indenização trabalhista de compensação de planos econômicos passados. Wagner insistiu que já havia sido presidente do sindicato dos químicos e que o assunto era do interesse dele.
O executivo da Odebrecht disse aos procuradores que o pedido foi aceito e o então governador conseguiu um “cacife político” por ter resolvido a pendência. O escritório de Mauro Menezes atuava neste processo para o sindicato.
Na época em que Marun anunciou que iria entrar com a representação, Mauro Menezes divulgou uma nota negando ter sido citado na Lava Jato. “Nunca houve qualquer citação ou imputação a mim ou ao escritório de advocacia que integro, seja em depoimentos ou delações de qualquer espécie”.
Outro Lado
A reportagem entrou em contato com a Comissão de Ética da Presidência, que não se manifestou. A assessoria do ex-governador Jacques Wagner também foi procurada e não respondeu.
O advogado Eugênio Pacelli, que defende o governador Fernando Pimentel, disse que, assim que assumiu o ministério, Pimentel não era mais parte e não atuou mais na empresa citada na investigação da Comissão de Ética.