A pandemia de covid-19 é um mal que aflige todo o país há mais de um ano, mas seu impacto é diferente de acordo com a região do Brasil. Levando em conta os dados do portal do Ministério da Saúde que faz o acompanhamento da doença, no Amazonas 0,308% da população morreu após ser infectada pelo novo coronavírus. No Maranhão, a proporção é quase três vezes menor: 0,108%.
A covid-19 já matou mais de 430 mil brasileiros. Em números absolutos, o Amazonas, com cerca de 13 mil mortes, fica muito distante de São Paulo, líder nessa contagem, com 103 mil óbitos. O estado do Norte, no entanto, tem menos de 4 milhões de moradores, enquanto o do Sudeste já ultrapassa 44 milhões.
Está no Norte também o segundo estado mais devastado pela pandemia. Em Rondônia, 306 a cada 100 mil habitantes morreram com a doença.
Amazonas e Rondônia ficaram sem oxigênio no início deste ano e tiveram que transferir parte de seus pacientes mais graves para outras regiões do país. Estão entre os mais castigados pela segunda onda da pandemia no país.
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A situação do Amazonas tentou ser explicada recentemente na CPI da Covid, instalada no Senado Federal. Segundo os ex-ministros da Saúde Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich e o atual titular da pasta, Marcelo Queiroga, três problemas simultâneos contribuíram para o alto número de óbitos no estado.
Mandetta acredita que o problema maior é de natureza política. Em sua visão, autoridades municipais e estaduais não se entendem e dificultam qualquer estratégia na área sanitária. Teich afirmou que estourou no Amazonas as falhas do sistema de saúde nacional, que precisa ser aperfeiçoado. Queiroga, por sua vez, lembra que a nova cepa do coronavírus ganhou força ali no pior momento das infecções e reduziu a capacidade de tratamento de doentes e contenção de novos casos.
O segundo estado em melhor situação proporcionalmente, depois do Maranhão, é a Bahia, com 0,131% de mortes.
De acordo com a Secretaria de Comunicação Estadual da Bahia, algumas ações ajudaram a controlar o avanço de mortes, entre os quais a ampliação da testagem e diagnóstico precoce dos casos, implantação de unidades de pronto-atendimento em todo o estado, o que evitou o agravamento do quadro clínico de vários pacientes, além de barreiras sanitárias em vários municípios.
A capital, Salvador, teve toque de recolher, proibição de venda de bebidas alcoólicas a fim de evitar aglomerações e monitoramento térmico dos passageiros no metrô.
De acordo com o governo local, a população teve papel fundamental na campanha contra a covid. "Gestores públicos, imprensa, iniciativa privada e a sociedade em geral formaram uma parceria de sucesso em prol da vida. Os baianos incorporaram a mensagem de que a forma mais eficaz de proteção é o uso de máscara, distanciamento social e higiene frequente das mãos, evitando situações de risco."
São Paulo
O estado de São Paulo tem o maior número de mortes por covid-19, com 103 mil desde o início da pandemia, mas é o 10º do país no ranking por 100 mil habitantes.
Com 44 milhões de pessoas e mais de 20% dos 211 milhões de moradores do país, São Paulo tem, segundo o Painel Coronavírus, do Ministério da Saúde, 0,224% de óbitos em relação a sua população.
Fica atrás de Amazonas (308,6 a cada 100 mil), Rondônia (305,8), Mato Grosso (291,5), Distrito Federal (273,6), Roraima (258,2), Rio de Janeiro (274,3), Espírito Santos (251,5), Rio Grande do Sul (232,4) e Goiás (226,6).
Se forem olhadas apenas as capitais dos estados, a situação da cidade de São Paulo cria um contraste ainda maior.
De acordo com os dados oficiais do Localiza SUS, que faz o acompanhamento dos casos de covid-19 em todos os municípios, a capital paulista supera 29 mil mortos pela doença, com quase quatro mil óbitos a mais do que a segunda cidade do ranking em números absolutos, o Rio de Janeiro, que já passa de 25 mil.
São Paulo é apenas a 20ª das 27 capitais nesse tipo de comparação, com 0,236% de óbitos em relação a sua população.
Qual dado usar
As duas formas de apresentar os dados da covid, por números absolutos ou proporcionalmente, costumam ser usadas pelo governo federal, buscando sempre o resultado que deixa melhor o país no cenário internacional.
Ao analisar o número de mortes por covid, por exemplo, o governo descarta o número absoluto, no qual, com 430 mil, o Brasil está em segundo no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, com 584 mil.
Nesse caso, prefere a proporção. Números do site Our World In Data, abastecido por pesquisadores da Universidade de Oxford, mostram que na proporção por 1 milhão de habitantes, o Brasil está em 12º lugar. O líder desse ranking até a última sexta-feira (14) era a Hungria.
A regra muda quando o presidente Jair Bolsonaro ou integrantes de sua equipe falam sobre a vacinação. O país não aparece, de acordo com o mesmo painel de monitoramento, nem entre os 50 que percentualmente mais imunizaram seus habitantes contra a covid, mas o governo lembra sempre que ele é o quinto na lista de países que mais vacinaram em números absolutos.
Em números absolutos registrados pelo Our World in Data, o Brasil é mesmo o quinto em doses de vacinas, com 50 milhões de aplicações, atrás de Reino Unido (54 milhões), Índia (178 milhões), Estados Unidos (266 milhões) e China (366 milhões).