Perfis criados recentemente espalharam hashtag
Kacper Pempel/Reuters - 13/05/2017Compartilhada por deputados de oposição ao governo, a hashtag #600PELOBRASIL chegou ao primeiro lugar dos trending topics do Twitter na manhã desta terça-feira, 1º de setembro. A movimentação pede a prorrogação do auxílio emergencial com o valor original de R$ 600, ao mesmo tempo em que critica a decisão do presidente da República, Jair Bolsonaro, que estendeu a medida por mais quatro meses sob o valor de R$ 300, metade dos repasses anteriores.
A maior parte das postagens repercutindo a hashtag vieram de perfis com indícios de terem sido automatizados, os chamados "bots" (robôs), o que pode ter ajudado a oposição a alavancar o assunto na rede.
Gasto com auxílio emergencial de R$ 600 já supera R$ 212 bilhões
Segundo o pesquisador associado ao Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITS Rio), Marco Konopacki, entre as características observadas em perfis possivelmente não autênticos estão a frequência muito baixa de postagens, pouquíssimos seguidores (em torno de 10 ou menos) e o perfil das publicações, a maioria retuítes - no caso do Twitter - ou mensagens padronizadas que se repetem entre diversos usuários.
De acordo com o pesquisador, é comum ainda que esses perfis tenham sido criados há pouquíssimo tempo, e que tenham os usuários - o "@" cadastrado - com um primeiro nome próprio e uma sucessão de números a frente. Todas essas características são observadas nas movimentações desta terça pela manutenção do auxílio emergencial à R$ 600.
Konopacki foi um dos criadores da plataforma Pega Bot, do ITS Rio, que calcula a probabilidade, em coeficiente porcentual, de um perfil ser automatizado, levando em conta esses indicativos.
Para ele, nenhum dos indícios pode, sozinho, confirmar se um perfil é um bot pré-programado, mas o conjunto de características elencadas pode indicar que uma hashtag, como a #600PELOBRASIL, foi impulsionada por uma rede de desinformação.
Essa prática, mais conhecida entre as redes bolsonaristas, não é novidade para outros espectros políticos, diz Konopacki. Para ele, o que diferencia a ação digital em defesa de Bolsonaro é a estrutura construída pelos atores ligados ao presidente. "A máquina bolsonarista de desinformação é mais profissional, robusta, tem mais recursos, mas não é a única atuando na rede em defesa de interesses próprios. Percebemos desde 2018, e até antes das eleições presidenciais, que existem outros grupos em espectros diferentes da política que também procuram e desenvolveram essas técnicas para impulsionar certos assuntos na esfera digital", afirma.
Konopacki argumenta que esse tipo de prática on-line tem se tornado cada vez mais comum por ser um meio relativamente barato de atores políticos atingirem uma grande quantidade de pessoas.
A plataforma bolsonarista, diz ele, abriu os olhos de opositores que agora também querem contar com redes próprias para não ficar em "desvantagem" no debate público.
O pesquisador diz, porém, que esse é um caminho perigoso e muito nocivo à discussão de ideias nas redes.
"Acho um erro completo outros setores do espectro político quererem ter sua própria máquina de desinformação", diz Konopacki, que completa: "Ao invés de ajudar e equilibrar o jogo político, na verdade estão jogando cada vez mais lixo pra dentro dessa esfera pública digital e contaminando cada vez mais o debate público."
Copyright © Estadão. Todos os direitos reservados.