Corretores estão sem esperança de que preços melhorem após mudança do Governo do DF para o local
Myrcia Hessen, do R7Quem comprou imóvel próximo ao novo Centro Administrativo do Governo do Distrito Federal na expectativa de revender e ganhar algum dinheiro após a inauguração do complexo está desanimado. Corretores locais dizem que a revenda dos imóveis está cada dia mais difícil e não há esperança de melhora depois que os servidores passarem a trabalhar no local. Inaugurado no fim da gestão passada mas sem data de ocupação e cheio de problemas jurídicos, o prédio por enquanto é apenas um 'elefante branco' que empurra para baixo os preços dos imóveis vizinhos.
Segundo o corretor de imóveis Mario Anísio, 41 anos, que atua na região há cerca de 15 anos, um apartamento na QNL, em frente ao complexo, custa em média R$ 190 mil e não deve passar disso. De acordo com o índice FipeZap, o metro quadrado em Taguatinga Norte, região onde o complexo está localizado, custa em média R$ 3.947 e não há previsão de aumento.
— Não tenho nenhuma [esperança de valorização dos imóveis da região], mesmo porque essa inauguração foi de 'fachada'. Ainda não funciona nada, o que existe é uma suposta valorização futura, quando o Centro Administrativo estiver funcionando e a economia do país começar a crescer, mas nós estamos vivendo uma situação caótica no DF, as pessoas estão endividadas. Então, acredito que não haverá absolutamente nenhuma valorização naquela área próxima ao Centro Administrativo. A única valorização que teve foi quando inaugurou o metrô, o Centro Administrativo não significa nada, pelo contrário, as pessoas acham que vai ter uma maior movimentação de carro, que vai aumentar o trânsito ali.
O corretor Getúlio Romão, que já atua no ramo de imóveis há mais de 40 anos na cidade, concorda com o colega e diz que quem comprou antes da inauguração do metrô conseguiu algum dinheiro, mas, quem comprou depois – na expectativa de valorização após a inauguração do novo Centro Administrativo – deu uma “mancada”. Isso porque, para ele, nada mudou no local e, além disso, a crise econômica impede qualquer valorização.
— Agora não tem mais margem para subir [de preço] por causa da crise, que bloqueia qualquer receita maior. Se a economia estivesse bombando, poderia valorizar, mas com a economia no fundo do poço eu não acredito nisso. O mercado imobiliário [teve queda] de 30% em alguns casos, é raridade subir valor de imóvel. A valorização pela procura é uma coisa natural, tem gente que mora em Sobradinho, vai vir trabalhar em Taguatinga e, então, ele vende a casa dele lá e vem morar pertinho. Mas, vai continuar R$ 190 mil, não vai passar para R$ 300 mil, vai subir devagarzinho, de acordo com a demanda.
O policial militar do DF Itaney Ferreira, de 33 anos, comprou imóvel na região em 2013 na esperança de o imóvel valorizar no início de 2014, época em que o ex-governador do DF Agnelo Queiroz (PT) prometeu inaugurar o espaço. Mas, até hoje o preço não mudou. Contudo, ainda assim, ele se mantem esperançoso.
— Eu acredito que eu só vou ter a noção se vai valorizar ou não depois que o pessoal começar a trabalhar [no novo Centro Administrativo]. Eu procurei [imóvel] na região e o centro administrativo foi um ponto a favor. Eu suponho que uma pessoa que mora de aluguel perto do Centro Administrativo no Plano Piloto está acostumada a morar perto do trabalho, então, por que ela não vem morar aqui, [em Taguatinga]? Ela vai morar em um apartamento maior, pagar menos e ficar perto do trabalho. Com esse êxito de quem mora no plano [os imóveis vão valorizar].
O diretor da CVI (Câmara de Valores Imobiliários do DF), Antônio Mento, informou ao R7 DF que ainda não há estudos a respeito da valorização dos imóveis da área.
— Ainda não temos estudo a respeito porque é um objeto completamente diferente. É difícil você dar um palpite [de valorização] em cima de uma construção daquele tamanho, é preciso de detalhes técnicos. Qualquer número agora fica ao vento.
O ex-governador do DF Agnelo Queiroz (PT) inaugurou o espaço no último dia 31 de dezembro, sem móveis, internet e telefone. Na ocasião, o chefe do executivo alegou que a instalação desses serviços seria concluída até o final de fevereiro. Mas seu sucessor, Rodrigo Rollemberg (PSB), excluiu essa possibilidade. A pedido do Ministério Público, o TJDFT (Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios) suspendeu o pagamento do governo ao consórcio de empresas responsável pela construção do novo Centro Administrativo, já que não há dinheiro suficiente para arcar com os R$ 3,26 milhões ao mês estabelecidos em contrato em um espaço que não está sendo utilizado.
Segundo a Centrad, o contrato não prevê mobiliário nem serviços de telefonia e internet. A empresa diz que o cronograma está em dia e os serviços de água, luz e ar-condicionado estão em funcionamento.
Em contato com o R7 DF, o Governo do DF informou que a Administração de Taguatinga estuda soluções para os futuros problemas que a mudança para o Centro Administrativo poderá trazer problemas aos moradores da região, como trânsito intenso e o acesso à estação de metrô. Ainda não há prazo para mudança do governo, que só pretende utilizar os prédios do Centro Administrativo quando o espaço oferecer “condições adequadas de trabalho e as obras estiverem concluídas e forem resolvidos os problemas judiciais”.