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Covid fez mais vítimas nas regiões mais pobres do DF, revela estudo

Levantamento de pesquisadores da UnB mostra que o vírus foi mais mortal para a população mais vulnerável da capital

Brasília|Luiz Calcagno, do R7, em Brasília

No DF, a população mais pobre morreu mais de Covid-19
No DF, a população mais pobre morreu mais de Covid-19 No DF, a população mais pobre morreu mais de Covid-19

Um relatório elaborado por pesquisadores da UnB (Universidade de Brasília) revelou que a pandemia de Covid-19 foi mais mortal para a população mais pobre da capital federal. Em alguns casos, a taxa de mortos a cada 100 mil habitantes indicava praticamente o dobro de vítimas entre os economicamente menos favorecidos em comparação com os mais ricos.

O relatório ObservaDF mostrou, ainda, que hospitais particulares tiveram uma compra de equipamentos maior que os hospitais públicos e também contrataram mais médicos. O estudo concluiu que faltou investimento em atenção primária à saúde para reduzir o impacto do vírus nos hospitais públicos e garantir o acesso da maioria dos brasilienses à saúde.

Ao cruzar dados estatísticos da capital e o número de mortos, o levantamento concluiu que, em 2021, a população mais rica teve uma taxa de mortalidade de 12,5 a cada 100 mil habitantes entre pessoas de 20 a 39 anos. Na mesma faixa etária, mas entre os mais pobres, a taxa saltou para 34,1 mortes a cada 100 mil habitantes.

Para a demógrafa Ana Maria Nogales, do Departamento de Estatística da UnB, a pandemia não é “democrática”. “A gente mostra, com esses dados, que a desigualdade social e econômica tem uma influência imensa nas mortes por Covid-19”, destacou.

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Nogales é uma das pesquisadoras que trabalhou no relatório. A diferença entre a taxa de mortalidade entre ricos e pobres é ainda mais acentuada na população de 40 a 59 anos. Nesse caso, a taxa de mortalidade entre os mais abastados foi de 91,1 a cada 100 mil habitantes.

Já entre os menos favorecidos, o indicador sobre para 217,9, mais que o dobro. Como o vírus é ainda mais perigoso para a população acima de 60 anos, o recorte das faixas etárias de 20 a 39 e de 40 a 59 é o que mostra com mais clareza o impacto da mortalidade entre os mais pobres.

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Ainda assim, há diferenças significativas entre ricos e pobres também na parcela mais velha da população. No grupo de 60 a 79 anos, por exemplo, a taxa de mortalidade entre os mais ricos foi de 513 a cada 100 mil habitantes. Entre os mais pobres, o número salta para 884,4. Já na faixa etária de 80 anos ou mais, o indicador mostra 1.620,9 mortos a cada 100 mil habitantes entre os mais abastados e 2.173,5 entre os mais pobres também no ano de 2021.

Primeiro ano de pandemia

No primeiro ano da pandemia, o cenário era parecido, embora o número de mortes na primeira onda tenha sido um pouco menor. “Em 2020, a taxa de mortalidade por Covid-19 nas RAs [Regiões Administrativas] de média baixa e baixa renda foi estimada em 4,5 vezes maior do que nas RAs de alta renda para as idades entre 20 e 39 anos. Em 2021, essa razão caiu para 2,7 vezes”, alerta o relatório.

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“O mesmo ocorreu para os demais grupos etários: de 3,8 para 2,4 vezes entre as idades de 40 a 59 anos; e de 3,3 para 1,7 entre as idades de 60 a 79 anos”, continua o levantamento dos pesquisadores.

Em outro ponto da análise, os estudiosos compararam o número de leitos de internação disponíveis em dezembro de 2019, antes da pandemia, e dezembro de 2021. O levantamento mostra que o setor privado tinha 43,9% de leitos de internação disponíveis no DF antes da Covid-19 e passou a ter 48% dos leitos de internação em 2021.

Em contrapartida, segundo o levantamento, 64% da população não têm planos de saúde. Nas regiões de baixa renda, esse percentual é de 90%. Nogales critica a demora da Saúde em agir. “Nossas estratégias de gestão da saúde parecem ter ficado frágeis. A Covid-19 começou em 2020. Tivemos um ano para nos preparar, pois a tragédia foi em 2021. E temos esse aumento extraordinário da mortalidade”, apontou.

Para ela, o investimento em atenção primária à saúde garantiria um número menor de contaminados, uma pressão menor sobre os hospitais, um risco menor aos profissionais de saúde e, consequentemente, uma maior capacidade de atendimento de casos graves. “A gente já sabia e todos sofreram. Mas, jovens e adultos nas regiões de mais baixa renda sofreram muito mais. É um dado muito triste, lamentou.

Testagem e vacinação

Questionada sobre o que a Secretaria de Saúde tem feito para reduzir o impacto da Covid-19 nas classes menos favorecidas, a subsecretária de Atenção Integral à Saúde, Paula Lawall, destacou a busca ativa pelos não vacinados ou que não completaram o esquema de imunização.

“A secretaria fez muitas ações de campanha de vacinação em territórios vulneráveis, levando o serviço para essas regiões. Continuamos avançando na vacinação e nas ações em saúde nesses territórios, a exemplo da vacinação volante, utilizando carro nas áreas mais vulneráveis para chegar mais perto dessa parte da população para iniciar ou concluir o esquema vacinal, explicou.

O secretário de Saúde, o general Manoel Narvaz Luiz Pafiadache, por sua vez, destacou o número de UBSs (Unidades Básicas de Saúde) para atender a população “Temos 176 UBSs espalhadas no território, com vacina, teste, e estamos colocando teste nas UPAs [Unidades de Pronto Atendimento]. Para nós, o importante é atingir todo o território sem discorrer qualquer tipo de grupo”, disse.

Por meio de nota, a Secretaria de Saúde informou que além de atender os pacientes na rede pública, firmou convênios com a rede privada para aumentar a oferta de leitos. “A Pasta chegou a mobilizar na rede pública de saúde 481 leitos com Suporte Ventilatório Pulmonar (LSVP) simultaneamente. Esses equipamentos são utilizados no atendimento de pacientes acometidos pela doença da forma mais grave”, diz o texto.

Segundo a pasta, de março de 2020 a janeiro de 2022, a rede pública atendeu 7.308 pacientes graves, “fora as internações em leitos de cuidados intermediários (UCI) e leitos de enfermaria”. Para fazer o atendimento desses pacientes, no período, a secretaria informou que contratou "3.046 profissionais temporários, entre médicos, enfermeiros, técnicos em saúde e agentes”.

Segundo a nota, a secretaria promove ações de vacinação volante em regiões menos favorecidas. “Desde 8 de janeiro deste ano, foi adotado o carro da vacina, uma forma de vacinação itinerante para beneficiar a população da região de Saúde Oeste, que compreende as regiões administrativas de Ceilândia, Sol Nascente, Setor O e Brazlândia.”

“Com relação à testagem, a pasta afirma ter realizado 455.037 exames RT-PCR e, atualmente, conta com dois pontos de ampla testagem (Rodoviária do Plano Piloto e UBS da 612 Sul), locais que concentram grande concentração de pessoas. Todas as demais unidades básicas de saúde oferecem a testagem, de acordo com a residência do usuário”, informa a nota.

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