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Fazendeiro que matou hipster da Federal agiu em legítima defesa, conclui polícia de Goiás

Polícia indiciou homem por posse ilegal de arma de fogo, mas descartou homicídio; policial federal havia invadido propriedade

Brasília|Jéssica Moura, do R7, e Marcos Aurélio Silva, da Record TV

Lucas Valença, hipster da federal
Lucas Valença, hipster da federal Lucas Valença, hipster da federal

A Polícia Civil de Goiás concluiu o inquérito que investigava a morte do agente da Polícia Federal Lucas Valença, que levou um tiro no peito após invadir uma fazenda em Buritinópolis, em Goiás, em 2 de março. A investigação concluiu pelo indiciamento do dono da fazenda pelo crime de posse ilegal de arma de fogo, mas descartou homicídio, uma vez que o homem agiu sob legítima defesa, de acordo com a apuração.

O processo foi remetido ao Tribunal de Justiça de Goiás nesta quarta-feira (13). O proprietário rural chegou a ser preso em flagrante após atirar no policial, mas foi solto ao pagar fiança de R$ 2 mil. A arma utilizada era originalmente de pressão, mas foi alterada para uma espingarda calibre 22. Inicialmente, o crime chegou a ser apurado como homicídio.

"Ele tinha dentro de casa uma espingarda calibre 22 que ele não tinha autorização para portar nem posse dentro do imóvel", disse o delegado do caso, Alex Rodrigues. "Ele trocou um som de carro nessa arma", afirmou o policial. "Sobre o homicídio, ele agiu em legítima defesa para proteger sua vida e de sua família", acrescentou.

Segundo o delegado, a conclusão se baseou em provas e depoimentos. Ele disse que o agente enfrentou traumas ao longo da vida, como as mortes do pai e do irmão mais velho, que contribuíram para o quadro de depressão. Há dois anos, ele teria passado por um episódio de surto psicótico, mas recebeu tratamento, teve alta e estava bem. 

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O laudo toxicológico no corpo do agente descartou a ingestão de álcool, mas acusou a presença de THC, princípio ativo da maconha. "Só que a gente não sabe precisar se a substância foi advinda de algum uso ilícito de droga ou de algum medicamento", afirmou o delegado. A psicóloga que o acompanhava não revelou quais remédios Valença tomava. 

Dia do disparo

Durante depoimento à polícia, o fazendeiro deu detalhes do que ocorreu durante a noite de março. Ele narrou que estava em casa com a esposa e a filha, quando ouviu gritos do lado de fora. Valença teria ordenado que eles saíssem do imóvel e os ameaçou de morte. O agente da PF ainda teria gritado xingamentos e dito que "naquela casa havia um demônio". O policial teria desligado a energia da propriedade e arrombado a porta da casa.

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Foi nesse momento que o fazendeiro alertou Valença de que estava armado, de acordo com o depoimento. Mesmo assim, o agente invadiu a casa, e o proprietário disparou um único tiro. A vítima, já atingida no peito, gritou que era policial. O fazendeiro acionou a Polícia Militar e pediu socorro de uma ambulândia. O policial federal foi socorrido, mas morreu no local. 

A apuração policial concluiu que ele morreu por hemorragia, após ter o fígado perfurado. 

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A família de Lucas Valença relatou que o agente enfrentava depressão e que estava em tratamento. No fim de semana em que foi baleado, o agente chegou à chacara da família em Santa Rita dizendo que aquele seria o melhor feriado de sua vida. Ele teve um surto psicótico após se irritar com o cachorro, segundo testemunhas.

Na ocasião, ele aproveitava o feriado de Carnaval em um chalé na cidade de Buritinópolis ao lado da família e amigos, mas teve uma reação desproporcional à irritação. "Depois disso começou a apresentar um comportamento melancólico, depressivo que só foi piorando", pontuou o delegado Alex Rodrigues. "Foi ficando agressivo, danificou todo o imóvel, e falava palavras desconexas". 

Como estava alterado, Lucas chegou a ser medicado. O padrasto dele resolveu chamar amigos da Polícia Federal, para que colegas de corporação fossem ajudá-lo. O objetivo era interná-lo em uma clínica.

Os agentes foram até a chácara para transportá-lo de volta a Brasília. Dentro do carro, Valença chegou a disparar uma submetralhadora, enquanto ameaçava os colegas pedindo para retornar à área rural. Na altura de Alvorada do Norte, a 9 km de Buritinópolis, Lucas saiu do carro, sem a arma, fugiu pela mata e seguiu para a Fazenda Santa Rita, onde acabou morto.

Hipster da Federal

Lucas Valença nasceu em Goiás, mas morava em Brasília. Ele ficou famoso em 2016, ao aparecer na escolta do então presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (MDB-RJ), réu na Operação Lava Jato. Na época, o sucesso do policial nas redes sociais foi tanto que ele ganhou até um boneco no Carnaval do Recife em 2017.

O último caso emblemático em que ele atuou foi na caçada ao criminoso Lázaro Barbosa, em Cocalzinho, em Goiás, em junho de 2021. O policial estava entre os 270 policiais do DF que fizeram parte da megaoperação. Ele ficou conhecido como hipster da Federal por causa da aparência, com barba cheia e cabelos longos sempre presos em coque.

Nas redes sociais, 111 mil pessoas seguem o policial. Apesar dos milhares de fãs, o agente não fazia posts frequentes havia meses.

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