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Mulheres se organizam para disputar cargos estratégicos no Itamaraty

Associação tenta reverter desigualdade de gênero dentro do ministério e nas representações brasileiras no exterior

Brasília|Hellen Leite, do R7, em Brasília

Palácio do Itamaraty
Palácio do Itamaraty Palácio do Itamaraty

Um grupo de mulheres diplomatas se reúne nesta segunda-feira (16) para a primeira assembleia da Associação das Mulheres Diplomatas Brasileiras (AMDB). O principal objetivo do grupo é diminuir a distância entre homens e mulheres no Ministério das Relações Exteriores (MRE) e reivindicar maior presença feminina em cargos estratégicos no Brasil e no exterior.

Atualmente, o quadro de 1.540 diplomatas é formado por 356 mulheres (23%) e 1.184 homens, segundo dados do próprio MRE. Mulheres também nunca foram nomeadas chefes de embaixadas importantes para a política externa brasileira, como a de Washington (EUA) e a de Buenos Aires (Argentina).

Irene Vida Gala, embaixadora e presidente da AMDB
Irene Vida Gala, embaixadora e presidente da AMDB Irene Vida Gala, embaixadora e presidente da AMDB

Para a presidente da AMDB, Irene Vida Gala, ex-embaixadora do Brasil em Gana e entusiasta das causas femininas no Itamaraty, o equilíbrio de gênero na diplomacia passa por mecanismos institucionalizados que garantam mais oportunidades às mulheres.

“Não há nenhum indício de que a gente não tenha competência. As mulheres cumprem todos os gabaritos para poderem estar em posição de liderança, só não estão porque somos frutos de um meio que exclui as mulheres”, comenta.

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A formalização do grupo como associação ocorre nesta segunda-feira (16), dez anos após a criação de um coletivo de mulheres diplomatas, que surgiu para debater a disparidade de gênero e abrir caminho para a promoção de mulheres na diplomacia. 

Não é uma questão de mérito. Mérito todas nós%2C diplomatas%2C temos. O que não temos é oportunidade.

(Irene Vida Gala, embaixadora brasileira e presidente da Associação de Mulheres Diplomatas (AMDB))

A dominação masculina não é restrita à carreira diplomática, é de natureza estrutural. No geral, os homens têm melhores salários e são mais promovidos a cargos de gerência, mesmo que as mulheres sejam a maior parte da população (51%) e tenham mais qualificação superior (mulheres somam 23,5%, e os homens, 20,7%). 

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No caso da diplomacia, a invisibilidade das mulheres na carreira se perpetua mesmo 105 anos depois de a primeira mulher conseguir ingresso no Itamaraty. Em 1918, a baiana Maria José de Castro Rebello Mendes, então com 27 anos, precisou recorrer ao jurista Ruy Barbosa, junto ao então ministro das Relações Exteriores, Nilo Peçanha. Sob pressão, Peçanha cedeu e autorizou a inscrição de Maria José no concurso para diplomata.

"Não sei se as mulheres desempenhariam com proveito a diplomacia, onde tantos atributos de discrição e capacidade são exigidos. Melhor seria, certamente, para seu prestígio, que continuassem à direção do lar, tais são os desenganos da vida pública, mas não há como recusar sua aspiração, desde que fiquem provadas suas aptidões", dizia o despacho do ministro.

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Maria José passou em primeiro lugar, deixando para trás a concorrência de cinco homens. A chegada inédita ao Itamaraty exigiu adaptações no prédio da instituição, como a criação de um banheiro feminino.

Essa história é narrada no documentário "Exteriores — Mulheres Brasileiras na Diplomacia", produzido em 2018 pelo coletivo de mulheres precursoras da associação.

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Irene lembra que, na gestão de Celso Amorim à frente do Itamaraty, entre 2003 e 2010, houve um esforço informal para promover as mulheres na carreira. No entanto, por não ser parte de uma norma, após esse período, houve retrocesso.

Diplomatas brasileiras na posse da embaixadora Maria Laura da Rocha como Secretária-Geral do MRE
Diplomatas brasileiras na posse da embaixadora Maria Laura da Rocha como Secretária-Geral do MRE Diplomatas brasileiras na posse da embaixadora Maria Laura da Rocha como Secretária-Geral do MRE

Apesar do atraso, a embaixadora vê o cenário com otimismo. A nomeação da embaixadora Maria Laura da Rocha como a número dois do Itamaraty é uma conquista inédita que pode pressupor maiores oportunidades para mulheres no MRE.

“Acredito que esse momento político é propício para a discussão e para a institucionalização de mecanismos que agreguem as mulheres. A duras penas, a gente vai conseguindo defender mais diversidade e a presença de mais mulheres no espaço público. Isso é fruto da evolução da nossa sociedade e da militância”, afirmou..

“Ter feito a número dois do Itamaraty é uma vitória e estou convencida de que, independentemente do mérito da Maria Laura, - porque mérito ela tem -, ela chega lá por haver uma força grande do momento político”, completou Irene.

Ainda na transição do governo, havia pressão de diplomatas mulheres para a escolha de uma chanceler ao posto mais alto do Ministério das Relações Exteriores. O cargo acabou ocupado por Mauro Vieira, que é um dos diplomatas mais próximos do ex-ministro Celso Amorim, conselheiro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para assuntos internacionais.

Na esteira de uma Esplanada mais feminina, duas mulheres são cotadas, pela primeira vez, para assumirem embaixadas importantes. Maria Luiza Viotti, que é ex-chefe de gabinete do secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, deve ser embaixadora nos Estados Unidos. Em Buenos Aires, o nome mais cotado é o de Eugênia Barthelmess, atual embaixadora de Singapura.

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