O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse que “os mais afetados pela pandemia, ou seja, os que foram a óbito, foram os obesos e, segundo, os que estavam 'apavorados'. Uma pessoa apavorada tem seu sistema imunológico abalado e ela sofre mais quando acometido de uma doença qualquer. E o vírus não é diferente". A fala ocorreu durante uma entrevista ao Canal Rural na noite desta terça-feira (24).
Bolsonaro falou ainda que “o trabalho ajuda a prevenir as consequências nefastas da pandemia. Para quem tem o corpo são, é a melhor maneira de se imunizar contra tudo que está aí. Devemos deixar de ser tomados pelo pavor", defendendo a retomada de todas as atividades econômicas, sejam formais ou informais.
Sobre a variante delta do coronavírus, o presidente disse que "esse vírus veio pra ficar". "Agora, não podemos continuar com essa política de lockdown, adotada por muitos governadores, que foi uma decisão do Supremo Tribunal Federal - deu carta branca para eles agirem, pra inclusive ignorarem todos os incisos do artigo 5º da nossa Constituição. Se pararmos, será um caos. Não temos mais como fazer com que, de maneira semelhante nós fizemos ano passado com o Auxílio Emergencial".
Economia
O presidente atribuiu a inflação à pandemia e disse que o mundo todo enfrenta esse problema. "Em março/abril do ano passado máxima era: fique em casa, que a economia a gente vê depois. Achamos a conta pra pagar".
"Nós fomos um dos 5 países que menos perdeu na economia, dada a medida que nós adotados por ocasião da pandemia. Se deixassémos à vontade o mercado, seria um desastre para o Brasil. Nós conseguimos terminar 2020 com mais pessoas empregadas com carteira assinada do que em dezembro de 2019", disse Bolsonaro.
Segundo o presidente, a previsão é de que a economia brasileira cresça mais de 4% neste ano. "Seria, ao meu entender, um número excepcional".
Meio ambiente
Bolsonaro culpou rivais comerciais pelas acusações internacionais de que o Brasil não estaria combatendo o desmatamento ilegal, especialmente na Amazônia. "Países outros que têm uma economia parecida com a nossa buscam nos atingir para tirar o Brasil desse grande mercado que é o do agronegócio", disse.
"No momento não se fala em queimadas no Brasil. Não se fala em desmatamento. Por quê? Os números têm monstrado que nós conseguimos, com medidas preventivas, diminuir isso aí".
Sobre a Conferência das Partes (COP) 26, evento organizado pela Organização das Nações Unidas (ONU) que ocorre em novembro deste ano, em Glasgow, na Escócia, o presidente diz que "nos faremos presentes" e que o ministro do Meio Ambiente "está fazendo um trabalho excepcional para que nós cheguemos na COP sem traumas, sem um número majorado de desmatamento e focos de incêndio".
Agronegócio
O presidente afirmou ainda que deixar de comprar produtos brasileiros seria ficar sem alimento, já que o Brasil produz para o mercado interno e para mais 1 bilhão de pessoas no exterior. "O Brasil é uma potência nos commodities do agronegócio e isso apavora o mundo", afirma.
O mandatário disse ainda que "a China não está fazendo nenhum favor [comprando nossos produtos]. Se eles pudessem comprar mais barato de Marte, Saturno ou Plutão, ela faria".
Marco temporal
"O marco temporal foi decidido quando se discutiu o caso Raposa-Serra do Sol. Lamentavelmente abriu-se uma nova discussão dentro do Supremo. Eles querem que essa data não esteja especificada", disse o presidente. "Se isso vier a acontecer, nós podemos, de imediato, ter na nossa frente centenas de novas áreas para serem demarcadas. Além do prejuízo para o produtor rural, porque muitos tem familiares que há mais de cem anos ocupavam aquela terra. Essas terras, que hoje são produtivas, poderiam deixar de ser produtivas. Seria um caos para o Brasil". O julgamento do tema pelo Plenário do STF está marcado para esta quarta-feira (25).
Bolsonaro disse ainda que espera que o STF não modifique a tese do marco temporal, que prevê que só serão demarcadas as terras indígenas ocupadas ou em disputa antes ou exatamente no dia 5 de outubro de 1988.
Ano eleitoral
O presidente comentou ainda uma possível saída em massa de ministros no ano que vem, em razão das eleições. "As pessoas se afastam por ocasião das eleições e da minha parte eu já falei: vai deixar um indicado por você", afirmou. "Até que eu tenho falado pros ministros nossos pra não se envolver muito em política agora que isso atrasa os seus projetos e atrasa o Brasil".
Mercosul
"Por vezes, o Mercosul nos atrapalha. Em outros momentos, não. Essa grande discussão eu deixo a cargo do Paulo Guedes. Eu tenho minha opinião pessoal, mas não quero polemizar", afirmou. "A Argentina está afundando na sua economia. São as opções pela esquerda. Opções que não deram certo na Venezuela. E sabemos quando chega um país que adota aí uma economia voltada pro socialismo", disse o mandatário.
STF
Sobre o Supremo Tribunal Federal, o presidente disse que "alguns poucos ministros" se excedem. "Não pode um ministro abrir um inquérito, ele investiga, ele julga e ele pune. A nossa Constituição é bem clara quando fala da liberdade de expressão, do direito de ir e vir, entre tantos outros direitos. E gostando ou não nós temos a obrigação de cumprir a nossa Constituição, que é uma maneira de que nós possamos viver em harmonia. Lamentavelmente, o ministro [Alexandre de Moraes] tem agido de forma completamente diferente disso".
Bolsonaro afirmou que Alexandre de Moraes, no inquérito das fake news, está extrapolando o que diz a Constituição. "Nós somos livres para emitir nossas opiniões políticas, ideológicas, seja lá o que for. Então é um ponto de atrito".
Desmonetização de canais de fake news
Sobre a determinação do corregedor-geral Eleitoral, Luis Felipe Salomão, para que o YouTube desmonetize canais que estariam disseminando notícias falsas, o presidente disse que, se o TSE começar a fazer isso, causará um efeito cascata. "Se o TSE pode desmonetizar, tem esse poder, os Tribunais Regionais Eleitorais também podem. Daqui a pouco você pega um estado qualquer onde o TRE é mais simpático ao governador, ele começa a fazer operações de desmonetizações, até de bloquear canais que sejam contrários àquele governo estadual. Ou seja: extrapolou, no meu entender, os limites."
7 de setembro
O presidente disse que vai participar dos atos marcados por seus apoiadores no 7 de setembro. "De manhã estarei na Esplanada e de tarde estarei na Paulista. O que nós queremos? É um retrato daquele movimento para o mundo, dizendo que o povo, que é o nosso líder, quer paz, tranquilidade e liberdade acima de tudo".
Eleições
Bolsonaro disse que deve se filiar um partido nas próximas semanas. "Isso não é prioritário pra mim, porque eu posso ter o partido até março do ano que vem caso eu venha disputar a reeleição".
Sobre a impressão do voto no Brasil, derrotada na Câmara dos Deputados, o presidente diz que ainda não desistiu da ideia. "Uma preocupação nossa continua sendo quem vai contar os votos. Não desistimos dessa luta e cada vez mais nos preparamos para que tenhamos eleições limpas e democráticas com contagem pública dos votos".