Depois que sentou novamente na cadeira de dentista e pôde pensar no que havia acontecido, o subtenente Thenyson, da Polícia Militar do Distrito Federal, lembrou-se da família e, também, do livro que ainda não tinha terminado de ler. O policial, que pediu para não ter o sobrenome revelado, reagiu a um assalto em uma clínica ortodôntica no centro de Ceilândia, na última quinta-feira (11), lutou contra dois homens armados com facas e conseguiu desarmá-los e prendê-los antes que uma tragédia acontecesse.
Thenyson conversou com o R7 sobre os momentos de tensão que viveu e ressaltou a importância de não reagir a assaltos. Nesse caso, o policial militar contou que não teve escolha. Um dos criminosos viu a arma quando ele se deitou no chão após o anúncio do assalto e começou a gritar, questionando se ele era policial militar.
“Eu tive receio de ele me matar, de tirar a minha vida. Quando acontecem essas coisas, o nível de estresse aumenta exponencialmente. Ele poderia ter me matado e matado outras pessoas. Faço tratamento nessa clínica há muito tempo. Tenho intimidade com as pessoas. Sabia que a dentista que me atendeu estava grávida, por exemplo”, recordou.
O militar contou que não percebeu de imediato que se tratava de um assalto. No vídeo (veja abaixo), é possível ver que ele demora a se levantar. “Ali, naquele momento, eu não tinha entendido bem o que estava acontecendo. Só entendi quando o indivíduo falou ‘passa o celular’. Nossa preparação [na Polícia Militar] é para manter a calma em situações de crise e, dessa forma, resolver o problema. E os treinamentos militares fizeram a diferença”, relatou.
Enquanto pôde, o militar pensou em como poderia resolver a situação. Uma das formas seria, justamente, não reagir e deixar que os criminosos fossem embora. Mas isso foi antes de um dos agressores ver que ele estava armado. O policial sacou a arma no momento entre levantar da cadeira e deitar no chão. Ele sabia que seria revistado.
“Quando ele veio me revistar, viu a arma e me senti obrigado a fazer alguma coisa. Ele viu a arma e começou a gritar. Ficou gritando e o desespero foi geral. Quando eu comecei a reagir, a atendente tentou correr. E o outro indivíduo a empurrou. Foi uma sorte, pois ele estava com uma faca e poderia ter ferido ela”, explicou.
Foi no momento que o criminoso começou a gritar que Thenyson compreendeu que não teria outra alternativa senão reagir. Ele lutou e desarmou o primeiro assaltante dentro do consultório do dentista. Em seguida, tentou deixar o local, mas deparou com o segundo assaltante na porta.
“Por que eu decidi reagir? Ele viu a arma. Se eu não reagisse, ele poderia pegar a arma e o desfecho poderia ser uma tragédia. Ele poderia até fugir. Mas, com a arma, poderia cometer outros crimes. Foi uma proteção e uma forma de tentar resolver a situação. No momento em que eu rendi o primeiro elemento, ele ficou de forma passiva e obediente. Uma das técnicas que temos é conter a crise e buscar a segurança do perímetro. E eu fui atrás dessa segurança”, narrou o policial.
Quando encontrou o segundo agressor, Thenyson contou que não teve tempo de pedir que ele se rendesse, pois o criminoso partiu para cima do policial com a faca em punho, na posição de ataque. “Não houve como ser menos ofensivo, verbalizar. O tiro era o meio que eu disponibilizava”, explicou.
O militar disparou e acertou o criminoso no braço, mas ele não percebeu que estava ferido e continuou a avançar contra Thenyson que, mais uma vez sem alternativa, se viu obrigado a lutar. “Acertei ele no braço. Houve o disparo, e ele ainda tentou tomar a arma da minha mão.”
“E quando, no chão, ele percebeu que estava ferido, existe uma questão fisiológica entre o tiro e o estímulo de dor. Então, quando ele percebeu que tinha sido atingido, finalmente ele se rendeu e a situação ficou controlada, com ele deitado. Eu não sabia a dimensão da lesão [no braço do criminoso]”, completou o PM.
Uma equipe da Polícia Militar e socorristas do Corpo de Bombeiros chegaram logo em seguida, enquanto o policial revistava e algemava a dupla. O assaltante ferido foi levado para o HRC (Hospital Regional de Ceilândia). Antes de ir à delegacia, o PM ainda permitiu que a dentista finalizasse o atendimento. Foi nesse momento que pôde refletir sobre tudo o que havia acontecido durante a tentativa de assalto.
“Durante a ação, não deu tempo de pensar em nada. Tudo acontece em uma linha de tempo com os acontecimentos e ações muito interligadas. Mas, depois, quando tudo se acalmou, um dos criminosos foi preso e o outro socorrido, eu voltei para a cadeira de dentista para ela terminar o procedimento. Nesse término, chegou o dono da clínica e foi recuperar as imagens. Quando terminou o procedimento, naquele momento eu pensei na família, no livro que não terminei de ler”, recordou.
Thenyson está lendo A Roda da Vida, autobiografia da médica polonesa Elisabeth Kübler-Ross, que tratou de pacientes terminais e fala da própria experiência em lidar com a morte de forma franca, mas também leve.