O "reposicionamento" de um carro no mercado quase sempre é um eufemismo para modelos que ficaram mais em conta — às custas de um doloroso processo de barateamento. O último a passar por isso é o Fiat Palio Fire, que foi rebaixado ao posto de carro mais barato da marca no Brasil, ocupado até 2013 pelo Fiat Uno Mille. A novidade, porém, é que as mudanças não tornaram o hatch de R$ 24.190 simplório. Muito pelo contrário.
Visualmente o Palio Fire 2014 é idêntico ao modelo homônimo anterior. Por fora mudaram grade do radiador, desenho de calotas e faróis, que perderam os elementos escurecidos. A atualização interior foi maior, e incluiu novas saídas de ar, console central inferior reformulado e novo painel de instrumentos, herdado do novo Uno. O motor é o mesmo 1.0 8V de até 75 cv, com câmbio manual de cinco marchas.
Vida simples
As reformulações impactaram pouco no preço do Palio Fire, que não só é o carro mais barato do Brasil, como também será o único nesta faixa de preço. Seus rivais mais próximos são o Chevrolet Celta, Nissan March e Renault Clio, que ainda não ganharam ABS e airbag de série em todas as versões — o que certamente encarecerá o preço dos compactos.
Já dotado dos itens de segurança obrigatórios, o novo Palio Fire não esconde seu projeto simples: ar quente, (só dois) encostos de cabeça traseiros e até desembaçador traseiro são opcionais. Vidros traseiros basculantes (para a versão duas portas) e conta-giros, então, nem pagando mais caro: o instrumento foi substituído por um econômetro, que faz uma indicação lúdica de quanto de combustível o carro está gastando.
Apesar da simplicidade, a Fiat não abusou do processo de barateamento: os bancos dianteiros, por exemplo, mantiveram o sistema de ajuste de distância tradicional, com trilhos, ao invés do antiquado sistema de braços articulados do antigo Palio Fire e do Mille, que alterava a altura do assento junto. Os assentos também contam com um sistema na versão de duas portas que faz com que o encosto vá totalmente para a frente junto com o banco, facilitando o acesso à parte traseira. Isso feito, porém, é preciso reajustar os bancos dianteiros, que não contam com "efeito memória".
Honesto
A vida a bordo do Palio Fire está longe de ser perfeita: problema crônico da primeira geração do modelo, as saídas de ar são muito baixas, o volante herdado do Idea tem pegada ruim e o motor padece de força em baixa rotação. No dia a dia, porém, o hatch conquista aos poucos. O consumo de combustível (8,8 km/l de etanol e 12,3 km/l de gasolina na cidade, segundo o Inmetro) é baixo e o ruído interno, moderado para um modelo da categoria.
O visual não decepciona: apesar de ser o mesmo há dez anos, ele conta com o melhor visual dos quatro aplicados à primeira geração do Palio. Não à toa, ele superou até seu sucessor, o último feito sobre a plataforma atual. A base mecânica, aliás, se aproveita da longa experiência pelas ruas esburacadas, oferecendo suspensão alta e confortável para o dia-a-dia na superfície lunar que chamamos de asfalto. A contrapartida é uma carroceria que inclina muito em qualquer curva, combinando com os pneus "verdes", que mesmo na medida 175/65 não transparecem muita segurança em altas velocidades.
O novo Fiat Palio Fire não empolga em nenhum quesito, mas também não decepciona. Equilibrado, ele mantém as virtudes que o fizeram um dos carros mais vendidos do Brasil, e, sem sentir o peso da idade, chega a 2014 com potencial para manter (e aumentar) o legado deixado pelo Mille Fire.