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Pandemia impulsiona modernização no ensino das faculdades do ES

Instituições de ensino superior se reinventaram para dar continuidade ao ano letivo e conseguiram reduzir o impacto da evasão escolar

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Quando 2020 começou, tudo parecia ir bem. Como de costume, em fevereiro, teve a volta às aulas, que sempre vem acompanhada de expectativa por parte dos estudantes. Alguns, ansiosos para concluir o ensino médio e seguir rumo à faculdade. Outros, que já passaram por essa etapa, aguardando o momento de pegar o tão esperado diploma da graduação nas mãos. Até que, em março, veio a pandemia do novo coronavírus e transformou todos os planos em incertezas.

Com a recomendação de isolamento social por parte das autoridades de saúde para evitar o contágio da covid-19, as aulas presenciais foram suspensas. No Espírito Santo, a suspensão começou no dia 17 de março e, com isso, instituições de ensino precisaram correr para achar soluções e dar continuidade ao ano letivo sem prejuízos à fase escolar dos alunos.

Nas escolas de educação infantil, por exemplo, algumas atividades passaram a ser por meio de espelhamento: o professor mostrando, por meio de vídeo, como é feito, e os alunos, em casa, reproduzindo com o material elaborados pela equipe pedagógica. Já as instituições de ensino superior, precisaram adaptar o ensino presencial ao ensino remoto de modo que não prejudicasse os alunos. 

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Para o Paulo Roberto Pastore, de 32 anos, a mudança foi positiva. Ele é estudante de Economia da Fucape Business School, e precisava gastar algumas horas do dia à caminho da faculdade, já que mora em outro município. Com as aulas remotas, ele conseguiu otimizar o tempo. 

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“Eu sou de Guarapari e a faculdade fica em Vitória, então eu ia e voltava todos os dias de van. Não que isso era um problema, até porque eu tinha me adaptado. Mas agora eu ganhei três horas com isso. A faculdade também se posicionou muito rápido e em nenhum momento eu pensei em trancar ou desistir, muito pelo contrário, me incentivou mais. Além disso, eu percebi que devo ser mais disciplinado.”

E o Paulo é só um dos tantos outros estudantes que, apesar dos empecilhos, não desistiu. Segundo a coordenadora executiva da graduação da Fucape Business School, Neyla Tardin, o índice de evasão escolar na instituição permaneceu no mesmo patamar dos anos anteriores. Parte disso, segundo ela, se deve à rápida reação diante da pandemia, com a transferência das atividades presenciais para o sistema remoto. Tudo foi feito em 48 horas após a decisão de fechamento das escolas pelo governo estadual.

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Sobre 2020 ser um ‘ano perdido’ para a educação, como muito ouve-se falar, ela afirma que o período foi de muito esforço e trabalho das equipes. A coordenadora destaca também o reconhecimento do time docente que entendeu que precisava unir forças para reaprender e ensinar em novas plataformas. No lugar dos tradicionais quadros negros, eles passaram a usar tablets e lousas digitais.

“Acho que o saldo foi positivo. O time de Tecnologia foi incansável em busca de soluções rápidas e a coordenação trabalhou em conjunto com o acadêmico para transformar por completo a área restrita do aluno. Lá pudemos criar controles de presença, publicações de vídeos, áudios e outras mídias, investindo em programação, automatizando processos quando necessário, sem perder de vista a importância do capital humano de qualidade. Toda adaptação é difícil, claro. Mas passamos por essa fase muito bem, e soubemos enxergar oportunidades em meio à pandemia.”

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O atual cenário, segundo a coordenadora, acelerou a transformação digital do ensino superior e mostrou que é preciso se reinventar. Ela destaca que a Fucape já tinha antecipado essa tendência e agora inaugura o Hub de Tecnologia, um espaço no qual os alunos aprendem dentro de empresas reais, sediadas na própria faculdade.

“O Hub de Tecnologia é um espaço que promove a fusão entre ciência e mercado. O Hub também possui um programa de financiamento, incubação e aceleração de startups, criadas pelos próprios alunos. Estudantes podem ser tornar sócios do negócio, caso queiram. É a reinvenção do ensino superior, e estamos nesse caminho, que acreditamos ser muito promissor”, explicou coordenadora executiva da graduação da Fucape

Reinvenção é aproximação

Um dos grandes desafios enfrentando pelos estudantes de ensino superior durante a suspensão das aulas presenciais é a aula prática, ofertada na grade curricular de praticamente todo curso de graduação. Mas, como praticar através do ensino remoto? Como ir à campo? Como “colocar a mão na massa?”

A estudante de fisioterapia da Faculdade Estácio de Sá, Julia Cezine, de 20 anos, também teve todas essas dúvidas e muita preocupação logo quando tudo começou. Mas não demorou muito para que a instituição encontrasse alternativas para continuar oferecendo as disciplinas que demandam prática. Para driblar essas dificuldades, o dinamismo foi o segredo.

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“A pandemia teve um impacto notável, pois tenho muitas matérias com aulas práticas e todas foram suspensas, afetando diretamente o real intuito, que é aprender na prática o que não dá para aprender apenas teoricamente. A instituição e os professores se reinventaram, as aulas ficaram muito dinâmicas, utilizaram vários recursos, como aplicativo simulador anatômico do corpo humano, vídeos, muitas imagens e claro, formas diferentes de avaliar. Com o tempo aprendi a como aproveitar mais o tempo e os recursos q foram oferecidos", frisou Júlia.

Além de usar a tecnologia como aliada nesse processo de reinvenção, a Estácio de Sá preocupou-se também em ficar ainda mais perto dos alunos, entendendo suas dificuldades, oferecendo soluções para problemas que pudessem surgir diante da crise provocada pela pandemia e trabalhando para manter todos em sala de aula, ainda que virtuais. 

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Uma das ações foi o programa Estácio com Você, que disponibilizou isenção de mensalidades e flexibilização de pagamentos para alunos que tiveram perda ou redução significativa de renda. As duas fases beneficiaram mais de 31 mil alunos. O professor doutor e coordenador do curso de Pedagogia da instituição, na unidade de Vitória, Fabio Amorim, destaca também o suporte aos alunos. 

“Logo no começo, disponibilizamos uma plataforma digital que possibilitou a aula ao vivo. Começamos no dia 17 de março, logo após a suspensão das aulas presenciais. Nós demos suporte aos alunos por meio de WhatsApp para atendimento em secretaria, coordenação e no suporte da TI. Além disso, outros programas foram potencializados no sentido de auxiliar o aluno. Foram elaborados projetos de reforço ao aluno, como por exemplo: se ele tinha dificuldade de acesso, entrava em contato com coordenador, a gente dava suporte a ele pra fazer a aula. Assim, fomos nos reformulando e nos reinventando nesse processo”, explicou Amorim

O Seguro Educacional foi um outro benefício da faculdade, que passou a oferecer aos alunos um crédito de até seis vezes no valor da mensalidade em caso de desemprego involuntário ou morte do responsável financeiro. 

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O atendimento remoto foi um outro serviço implementado pela faculdade. Foram criados seis canais exclusivos em todas as áreas para auxiliar os alunos e tirar dúvidas durante o período de aulas suspensas presencialmente. Com isso, cada unidade ganhou números emergenciais. “A escola e o professor já vivem se reinventando a todo momento, é o grupo social que mais se reinventa, porque envolve metodologias diversas. Eles estão em constante invenção e reinvenção. Estamos no momento de aprender muita coisa com isso que aconteceu”. 

GRADUAÇÃO x TRABALHO 

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), correspondentes ao ano de 2018, apontam que cerca de 116 mil estudantes, entre 15 e 29 anos, estudam e trabalham no Espírito Santo. O número, que corresponde a aproximadamente 13,2% nessa faixa etária, é o maior da série histórica informada pelo IBGE.

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O secretário de Estado da Educação, Vitor De Ângelo, destaca que a dupla jornada, enfrentada por muitos jovens e adolescentes, é um dos motivos pelo qual, muitas vezes, eles precisam deixar de estudar. 

“Fizemos uma ação recentemente chamando para vir para a escola, mas várias questões jogaram contra isso. São vários fatores que, mesmo fazendo o apelo, dificultaram o retorno. A crise trouxe o empobrecimento, então muitos alunos, especialmente da região metropolitana, já trabalham, precisam complementar a renda. Com isso, ele passa a concorrer com o estudo, o que favorece o abandono", destaca o secretário.

"O estudo garante o futuro, o trabalho garante o presente."

De Ângelo orienta também que os pais valorizem o estudo e, na medida do possível, preservem um espaço para que crianças, jovens e adolescentes possam ter direito à educação, que é fundamental e faz diferença no futuro.

“A escola está preparada para a pandemia. Precisamos ter sempre em mente os prejuízos para os nossos filhos ao privá-los da educação. Isso condena, praticamente, o seu futuro a ficar naquela condição. Hoje ele tem um trabalho informal, de baixa qualificação, que remunera pouco, mas isso é hoje. Daqui a 30 anos ela continuará do mesmo jeito, então você perpetua a pobreza, a desigualdade", afirma. 

TRANSFERÊNCIA É UMA BOA OPÇÃO?

Além da decisão de deixar os estudos, uma outra escolha também tem um impacto grande no futuro dos estudantes: a transferência. São vários os motivos que podem levar o aluno a optar por mudar de instituição de ensino, mas essa é uma decisão que demanda muita cautela. É importante lembrar também a transição de uma faculdade para outra será detalhada no currículo, o que pode acabar afetando a vida profissional, caso a escolha não seja assertiva. 

A especialista em educação e coordenadora de Pedagogia e professora da Estácio de Sá de Vila Velha, Sandra Raimundo, destaca que o primeiro passo antes de tomar a decisão é escrever os motivos para a transferência. Depois disso, se os motivos forem suficientes, é necessário analisar a instituição, levando em consideração vários fatores.

GRADUAÇÃO NO BRASIL - CENSO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR 2019

De acordo com os dados do Censo da Educação Superior 2019, divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e pelo Ministério da Educação (MEC), o Brasil possui 2.608 instituições de ensino superior. Dessas, 2.306 são privadas e outras 302 são públicas, sendo federais, municipais ou estaduais.

No Espírito Santo, há mais de 2,5 alunos na rede privada para cada aluno na rede pública, sendo a 5ª maior relação entre todas as unidades da federação, ficando atrás de São Paulo, Distrito Federal, Rondônia e Santa Catarina, respectivamente. Em 10 unidades da Federação, essa relação é superior a dois alunos em favor da rede privada.

De 2009 a 2019, o número de matrículas na educação superior cresceu 43,7%, com uma taxa média de crescimento anual de 3,7%, nos últimos 10 anos. A manutenção da tendência de crescimento, segundo o levantamento, só foi possível com a expansão da matrícula na educação à distância. 

Aliás, o número de ingressos em cursos de graduação a distância tem aumentado nos últimos anos. A participação no total de ingressantes, saltou de 16,1% em 2009, para 43,8% em 2019. Com isso, nos últimos 5 anos, o número de ingressos nos cursos de graduação presenciais diminuiu 14,3%. 

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