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Parentes e amigos de mortos usam áudios de WhatsApp para aliviar a dor da perda

Vídeos, fotos e publicações em redes também têm sido usados como ferramentas de superação 

Cidades|Caroline Apple, do R7

Paulo Camossa usa a tecnologia para exaltar a memória da filha
Paulo Camossa usa a tecnologia para exaltar a memória da filha Paulo Camossa usa a tecnologia para exaltar a memória da filha

A tecnologia tem ajudado pessoas a viverem de forma diferente o processo de luto. Para lidar com a ausência, tem gente recorrendo às mensagens de voz no WhatsApp para tentar aliviar a saudade do ente querido.

O administrador Fábio Monteiro Oliveira, de 28 anos, perdeu de forma violenta um jovem amigo em março deste ano. A morte brusca e precoce deixou a indignação e a sensação de que muitas coisas ainda poderiam ter vivido juntos. Oliveira encontrou nas mensagens de voz do aplicativo um modo de reviver momentos e valorizar um nova forma de presença do amigo.

— Normalmente os áudios eram a respeito de músicas que a gente curtia. Eu sempre pesquisava sons e compartilhava com ele. Através das músicas eu encontrei uma maneira de me aproximar dele.

Oliveira conta que a morte ainda é muito recente e que escuta com frequência o amigo falar sobre novos planos e projetos para o futuro.

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— Ouvir nossas conversas ajuda a lembrar sempre dos bons momentos. Ele era um fanfarrão, sempre satirizando. Isso me ajuda a superar a morte dele.

Outra pessoa que viu nas mensagens uma forma de apoio ao processo de luto foi a massoterapeuta Marina Cappucci de Souza, de 30 anos. Marina perdeu o pai para o câncer em fevereiro deste ano e, num dia de desespero, foi orientada por parentes a ouvir as mensagens que trocava com o pai no WhatsApp.

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— Cerca de 20 dias depois que meu pai morreu eu estava em casa, sozinha, pensando muito nele, com o coração apertado e sentindo falta de falar com ele. Eu nem me lembrava dos áudios que trocávamos. Foi então que minha irmã contou que, às vezes, ouvia as conversas. Na hora fui ouvir. Chorei muito. Foi muito triste, mas aliviou a saudade um pouco. Depois me senti mais calma.

A psicoterapeuta Ana Lúcia Naletto, especialista em luto, do Centro Maiêutica, afirma que ouvir as mensagens de áudio é apenas um meio novo de se fazer algo que sempre foi feito, que é buscar a pessoa que morreu em algum lugar.

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— Muitas coisas acontecem no processo de luto. As pessoas se apegam a coisas relacionadas a quem se foi, como fotos, roupas. A tecnologia entra no lugar, por exemplo, do porta-retrato e da foto embaixo do travesseiro. Ouvir um áudio, ver um vídeo, fazer uma publicação são formas de colocar a dor para fora.

Outras plataformas

Há sete anos, o publicitário Paulo Camossa, de 50 anos, perdeu de forma repentina a filha de 18 anos. Amanda Camossa teve um edema pulmonar agudo e se foi deitada em sua cama, deixando a família sem chão e perplexa.

Para lidar com a dor, Camossa decidiu não exaltar a ausência e sim valorizar as novas formas de presença da filha. Vídeos, fotos, publicações nas redes sociais e até uma música remixada com a voz de Amanda, retirada de um dos vídeos guardados em seu computador, fazem parte dessa leva de homenagens.

— Tenho um conjunto de vídeos postados em canais como o YouTube, nos quais trago fotos nossas ao longo do tempo, cenas em que ela se divertia. Montei também um playlist com 50 músicas que me remetem imediatamente a ela. E, todos os aniversários de chegada e partida da Amanda eu faço uma publicação que exalte sua memória.

Para Camossa, a tecnologia fez com que a presença de Amanda seja sentida ainda hoje, mesmo ela não estando mais aqui. Recentemente, o publicitário viu que ainda não havia esgotado todo o acervo de imagens da filha. Em uma pasta escondida no computador de Amanda, o pai encontrou novos vídeos feitos pela jovem.

A psicoteraupeuta Ana Lúcia Noletto diz que a diferença de lidar com a dor dessa maneira é a exposição.

— Quem está exposto sofre mais críticas. Guardar uma foto e olhar quando tem vontade é diferente de ver as demonstrações de luto. Tem gente para falar de tudo, que faz bem e que faz mal. Mas o que todos deveriam fazer é respeitar as formas com que as pessoas escolhem viver suas perdas. É sempre muito particular. Não há regras.

Grupos no Facebook também entraram na tarefa de ajudar a amenizar a dor da perda. O grupo “Mães que perderam seus amados filhos”, por exemplo, reúne quase 10 mil pessoas. Na página, mães desabafam e contam com o apoio de outras mães que passaram pelo mesmo drama.

— Nesses grupos, as pessoas recebem dicas de como conviver com a ausência e não críticas.

* Agradecimento ao site Vamos Falar de Luto

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