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Policiais que denunciaram tenente por assédio vivem com medo de vingança

Militares relatam que sofreram retaliações por parte do chefe por não retribuirem a investidas 

Cidades|Sylvia Albuquerque, do R7

Marcela falou sobre o caso à Comissão de Direitos Humanos da Assembleia de MG
Marcela falou sobre o caso à Comissão de Direitos Humanos da Assembleia de MG Marcela falou sobre o caso à Comissão de Direitos Humanos da Assembleia de MG

As policiais militares Marcela Fonseca de Oliveira e Katya Flávia Caixeta de Queiroz se uniram para denunciar os assédios sexuais e morais cometidos pelo 2º-tenente Paulo César Pereira Chagas dentro de um batalhão da cidade de Patrocínio, em Minas Gerais. O superior responde a uma sindicância e já foi transferido da unidade, mas o saldo para as vítimas ainda é o medo. As duas concederam entrevista ao R7 nesta segunda-feira (30).

Marcela conta que entrou para a polícia em 2009 e, após o curso de treinamento, foi transferida para o batalhão como subordinada de Chagas, na mesma cidade em que mora com a família. Ele passou a elogiar sua beleza e depois mandar mensagens por meio de redes sociais sugerindo que se encontrassem fora do expediente.

— As mensagens começaram com "bom dia", "boa tarde", e eu até respondia. Depois passaram a ficar ousadas por parte dele e eu parei de responder. Isso durou seis meses. Até então, eu pensava que só acontecia comigo. Ele dizia que me achava sexy e que eu podia viver uma aventura.

No mesmo período ele também assediava Katya. A militar afirma que as abordagens aconteciam dentro do batalhão e por mensagens. No final de 2012, o então marido dela viu as mensagens enviadas pelo tenente e tirou satisfações com ele. Depois disso, o militar desfez a conta no Facebook e, em vez de assediar, passou a punir as duas no trabalho.

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Marcela diz que o chefe deu nota seis em sua avaliação anual de trabalho como forma de punição.

— Eu havia passado por duas avaliações e tinha tirado 9,5. Mas nessa ele me deu seis para me punir porque não retribuí o assédio. Ele me prejudicava nas escalas de trabalho, me difamava para os meus colegas dizendo que eu era mole para trabalhar e quis me transferir de unidade sabendo que não podia por causa do meu filho.

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As policiais só ficaram sabendo que eram alvo do tenente ao mesmo tempo depois de conversarem com os colegas. O caso foi levado para a corregedoria por outros militares com cópia das provas e depois as vítimas foram chamadas para confirmar o caso.

Segundo Marcela, a coragem para denunciar surgiu pelo medo de ser prejudicada na carreira e deixar de receber aumentos por conta da má avaliação dada pelo tenente.

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— Eu sabia que corria riscos em denunciar. Porque os superiores são unidos e podem nos punir com o poder deles e terem cobertura para isso. Não é uma coisa explícita, mas ele te prejudica aqui, ali, sem ninguém perceber. Até que sua carreira acabe. Ele é um homem armado e pode fazer qualquer coisa a hora que quiser. Eu tenho medo.

O tenente Paulo César Pereira Chagas foi removido para um batalhão da cidade de Patos, onde deve permanecer até o fim das investigações. No entanto, esse batalhão fica a 200 metros da casa de Katya.

— Como ele é removido para trabalhar a 200 metros da minha casa? Meu casamento acabou por isso e tenho que tomar cuidado para sair e chegar em casa. Eles deveriam rever isso. Vou viver com medo. 

A nota de avaliação anual de Marcela foi revista após a denúncia do caso. A Comissão de Direitos Humanos da ALMG (Assembleia Legislativa de Minas Gerais) vai solicitar a instauração de processo administrativo militar e de inquérito policial militar para apurar os crimes denunciados. O tenente foi chamado para um reunião de esclarecimentos, mas não compareceu. A PM ainda não se pronunciou sobre o caso. 

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