Luís Alberto Araújo foi executado quando chegava em casa
ReproduçãoO secretário de Meio Ambiente e Turismo da cidade de Altamira, no Pará, Luís Alberto Araújo, de 54 anos, foi morto a tiros no início da noite de quinta-feira (13). Segundo a Polícia Civil, o crime aconteceu na chegada ao condomínio onde morava, no bairro de Buriti, na periferia do município. Junto com ele no carro estavam a esposa e dois enteados.
Ainda de acordo com a polícia, dois homens chegaram de moto perto do carro e o garupa fez cerca de sete disparos. O secretário morreu no local.
De acordo com a Secretaria de Segurança Pública do Pará, não há ainda uma linha de investigação para o caso, que é presidido pelo delegado Vinicius Souza, superintendente da região do Xingu. A polícia já está analisando as imagens de câmeras de segurança e ouvindo os testemunhos da esposa e de colegas de trabalho de Luís Alberto.
Ameaças
Araújo estava ameaçado de morte, por conta de suas ações de combate ao desmatamento na região. A informação foi confirmada à reportagem por Zelma Campos, secretária do Meio Ambiente de Brasil Novo (PA), município vizinho de Altamira.
Zelma Campos, que foi secretaria do meio ambiente de Altamira, conhecia Araújo.
— Ele sempre comentava que estava sofrendo uma pressão muito forte, por conta de suas ações de combate ao desmatamento na região e da implantação do CAR (Cadastro Ambiental Rural). Nos falávamos frequentemente. Ele dizia que essa tensão estava muito forte ultimamente.
Segundo Zelma, a situação se agravou após serem intensificadas as ações de um programa contra o desmatamento apoiado pela comunidade internacional. No fim de 2010, o Ministério do Meio Ambiente firmou um projeto com a Delegação da União Europeia para o Brasil, com aporte de 4,9 milhões de euros, em três anos, para serem aplicados em São Félix do Xingu, município vizinho a Altamira. À época, Araújo era secretário de meio ambiente de São Félix e ficou encarregado de tocar as ações do chamado "Pacto Municipal para a Redução do Desmatamento".
Nos últimos meses, Araújo atuou na campanha para reeleição do prefeito Domingos Juvenil (PMDB), que foi reeleito. O secretário estava no cargo em Altamira há cerca de três anos.
— Isso tudo causa muita tensão entre nós. Há uma agenda muito pesada para ser cumprida na área do desmatamento. Aqui na nossa região, o Ministério Público Federal imputa essa missão ao município. Temos a obrigação de cumpri-la, mas não temos todos os instrumentos para isso.
Segundo a secretária do Meio Ambiente de Brasil Novo, a morte de Araújo elevou a tensão entre os secretários dos municípios que compõem o PDRS (Plano de Desenvolvimento Regional Sustentável) do Xingu: Altamira, Anapu, Brasil Novo, Gurupá, Medicilândia, Pacajá, Placas, Porto de Moz, Pacajá, Senador José Porfírio, Uruará e Vitória do Xingu. O plano tem a missão de apoiar políticas públicas na região.
— Temos um grupo que dialoga diariamente. Todos estamos numa apreensão muito forte com a gestão ambiental dessa região. É momento triste e muito preocupante para nós.
A Polícia Civil está investigando o caso. O ISA (Instituto Socioambiental), organização que possui um escritório em Altamira, declarou que o secretário foi parceiro das causas na região e que atuava no apoio às populações ribeirinhas e em suas reivindicações. "A sua gestão foi caracterizada pela isenção e a rigidez na aplicação da legislação ambiental. A cidade de Altamira perde um excelente gestor, que lutou pelo cumprimento das condicionantes urbanas da hidrelétrica de Belo Monte", declarou o ISA. "O secretário esteve à frente na luta pela instalação do saneamento urbano e no licenciamento do aterro sanitário da cidade. Luís Alberto conseguiu articular a realização de Cadastro Ambiental em áreas tradicionalmente reticentes à intervenção do Estado, fazendo a sua parte na luta contra o desmatamento que aflige o município."