A cada ano que passava, diminuía em Valquíria Marques a convicção de que os responsáveis pela morte do filho, o adolescente Wagner Marques dos Santos, seriam punidos. Mas o desejo de lutar jamais arrefeceu. Ela se juntou ao grupo Justiça é o que se busca, uma organização sem fins políticos e financeiros, formada, sobretudo, por familiares de vítimas de violência. Hoje, Valquíria persegue a justiça que não teve a oportunidade de experimentar.
— A gente se sente bem. É uma coisa importante você dar o que tem de si. Faz 18 anos que perdi o Wagner. Eu ali sou a mais velha. Não tem caso mais velho do que o meu. Eu olho para aquelas mães e, às vezes, vejo-as brincando. Eu não brinquei, eu não sorri, eu não participei de festa de Natal. Meu primeiro Natal depois de 17 anos foi agora, porque meus netos estão maiores. Prejudiquei minha filha, tadinha.
Na percepção dela, a falta de uma exposição maior do caso de Wagner na imprensa influenciou no desfecho. Além de integrar o grupo, a aposentada já participou de vários júris.
— Por causa da minha exposição atrás da polícia, na favela, minha irmã me tirou do Jabaquara e me levou para São Bernardo [no ABC paulista]. Ali, fui trabalhar com umas advogadas, servindo café. Fiquei tão entretida com aquilo que elas me pegavam olhando processo [...] Elas notaram que eu estava muito interessada e já comecei a ir para o fórum, protocolar e fui me interessando. Aí, houve o crime dos meninos do Montanhão, em São Bernardo. Policiais assassinaram seis garotos. Um ficou vivo. E como eu morava colada ao fórum, saía de onde estava trabalhando e ia assistir ao julgamento. E eu gostei. Voltei para o Jabaquara e me inscrevi no Fórum da Barra Funda.
Questionada sobre o que significa para ela atuar como jurada, ela revela que se sente, de certa forma, participando do júri dos acusados de matar o filho.
— A sua não foi feita, mas você procura fazer justiça com outra. Vou neutra. Vou por justiça.
Confira o especial que traça um raio-x da impunidade no Brasil: Invisíveis
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