Três pessoas perderam suas vagas como servidores na UFPel
DivulgaçãoAlém de mais de 20 estudantes de medicina serem acusados por fraudar as cotas para negros na UFPel (Universidade Federal de Pelotas), outras três pessoas perderam suas vagas como servidores para concorrentes que se passaram por negros.
Em entrevista exclusiva ao R7, o reitor da universidade, Pedro Curi, afirmou que, “no caso dos servidores, temos três denúncias apresentadas". Segundo Curi, "elas foram julgadas em primeira instância e estamos no processo de recurso”.
Nos casos dos estudantes e dos servidores, o que vale para definir se uma pessoa pode ter uma vaga de cotista por cor da pele é o fenótipo (características físicas). Porém, a auto-declaração fez com que os fraudadores dissessem que eram negros.
— O fato de uma pessoa se auto-declarar negra não a torna negra. Qualquer declaração tem que ser auditada. O que acontece é que, por fraude ou por desconhecimento, isso ocorre. Dizer que tem um bisavô negro não caracteriza. Não é para isso que as cotas foram criadas.
Uma candidata negra que participou do concurso para assistente-administrativa na universidade no ano passado lembra que a mulher que passou em primeiro lugar era branca.
— Eu até demorei para denunciar porque não estava acreditando. Mas denunciei para o Ministério Público. A universidade abriu uma banca e decidiu afastá-la.
Porém, ela conta que a mulher branca pediu uma permuta para trocar de universidade que fica em outra cidade. Lá, ela fez um concurso e passou por cotas novamente. Segundo a candidata negra, até agora, a fraudadora continua trabalhando no local depois de alegar que tinha uma tia negra.
— Ela está em uma vaga que não é dela. Mas a gente tem que esperar. Um recurso tem que ser bem julgado para ela não voltar.
Faculdade de medicina
O reitor explicou ao R7 que a AGU (Advocacia-Geral da União), que defende a universidade, está recorrendo em todas as instâncias quanto à decisão favorável para os fraudadores — incluindo os alunos da graduação. Curi afirma que "a posição da universidade é agir dentro da lei".
— Temos que respeitar o tramite do Judiciário. Quando encerrarem os processos, reporemos todas as vagas. Esse processo é dinâmico. Foram 26 alunos excluídos no ano passado na faculdade de medicina e 11 deles conseguiram liminares para continuar. Mas esses números mudam.
A professora Georgina Helena, que foi chefe do núcleo de ações afirmativas e diversidade da UFPel quando as denúncias vieram à tona, afirma que, como a universidade trocou de reitoria, ela não trata mais sobre os casos. Mas diz que se mantém atenta a tudo o que vem acontecendo em relação ao processo.
— Me mantenho atenta, inclusive, às decisões judiciais que trouxerem provisoriamente alguns alunos de volta. A leitura das decisões denota o quanto o Judiciário é branco ideologicamente e fisicamente. As sentenças são de uma ignorância conceitual e política acerca das relações raciais. O que os sujeitos sociais requerem é a "reparação da reparação" visto que a branquitude jamais desiste em manter-se nos seus privilégios.
As outras 15 vagas de medicina que não tiveram recursos dos fraudadores já foram reabertas. Curi diz que todos os donos das vagas por direito estão sendo chamados. Segundo ele, essas chamadas começaram nesta segunda-feira (24) pela manhã.
— Vamos preencher essas vagas em outras levas. Essa política de cotas é essencial. É uma reparação das mais importantes para a população brasileira.
A professora Georgina ressalta que "essas pessoas que foram denunciadas jamais passaram por qualquer constrangimento social em virtude da sua aparência".