Raquel ficou presa por quase duas semanas
Reprodução/Rede RecordA delegada Myrian Vidal, responsável pela investigação da morte da ajudante de leilão Maria José Medrado de Souza Brandão, de 39 anos, calcula que Raquel Policena, 27, teria realizado procedimento estético para aumentar os glúteos em 38 mulheres. Até agora, conforme a delegada, 17 delas foram ouvidas.
— Existem várias vítimas dela. Já conseguimos identificar e ouvir formalmente, acredito que 17. Temos ainda que identificar outras. Ao todo, pelo que contei, são 38 vítimas.
Das 17, só duas afirmaram que não tiveram complicações após a bioplastia. As outras relataram sintomas semelhantes aos apresentados por Maria José: fraqueza e falta de ar. Algumas tiveram que se afastar temporariamente do trabalho e outras estão tomando remédio controlado para dor de cabeça. Segundo a delegada, houve mulheres que tiveram os glúteos deformados, porque a substância migrou para outras partes do corpo.
Em relação ao produto aplicado durante a bioplastia, a delegada não acredita que se trate de hidrogel.
— Hidrogel Aqualifit é caríssimo. Ele tem apresentação de um, cinco, 10 e 100 gramas. Todas as mulheres relataram que Raquel usava um litro de vidro escuro. Acredito que seja silicone industrial.
Após morte de mulher, médicos alertam sobre preenchimento estético com hidrogel
Polícia descobre mulher que teria ensinado suspeita a aplicar hidrogel
Myrian encaminhou ao Instituto de Criminalística de Goiás amostras de Aqualift, metacril (PMMA) e silicone industrial. Foi colhido ainda o material que havia sido injetado no corpo de Maria José.
— Estou aguardando resposta para saber qual deles foi aplicado nela.
Agulha errada
Para a delegada, o problema maior não foi o produto aplicado na ajudante de leilão, mas a agulha usada no procedimento, que era inadequada e, possivelmente, jogou a substância na corrente sanguínea de Maria José, provocando embolia. Myrial Vidal ressalta que a conclusão veio após pesquisar o caso junto a médicos e cirurgiões.
— O problema foi a agulha utilizada. Para fazer esse procedimento, existe uma agulha maleável e com a ponta arredondada. Ela bate no vaso sanguíneo e desvia. Raquel usou uma agulha normal, comprada em farmácia. O que eles [médicos] falaram é que, independentemente do produto se for aplicado com aquela agulha e pegar um vaso sanguíneo, na hora é embolia pulmonar.
Myrian disse ainda que, segundo a suspeita, o suposto hidrogel foi adquirido “em uma rua do interior de São Paulo”.
Tanto Raquel, quanto o namorado dela, o professor de idiomas Fábio Ribeiro, 33, realizavam bioplastia nas clientes, de acordo com a delegada, que se baseou nos depoimentos de testemunhas. Segundo Myrian, os curativos eram fechados com cola-tudo, encontrada no mercado para fixar objetos e imprópria para uso em tecido vivo.
— Ele realizava o procedimento em quase todas. Na Maria José, nós temos certeza. Tanto no hotel, quanto na clínica, ele participou. Raquel nega e ele nega, porém, na primeira vez em que ela aplicou, tivemos o filho da Maria José que assistiu. Cada um aplicava em uma das nádegas dela. O Fábio de um lado e a Raquel, de outro.
Denúncias contra suspeita já circulavam em Catalão e Goiânia
O advogado de Fábio Ribeiro, Elson Ferreira de Sousa, rebate a informação.
— No que refere a alegação de que Fábio fazia aplicações, existem provas no inquérito que comprovam que isso não é verdade. Fábio não fez aplicação em Maria José Brandão, nem na primeira vez (hotel) e nem na segunda (clínica), apenas estava presente. Também não fez aplicação em nenhuma outra cliente de Raquel, frise-se, apenas estava presente na sala de procedimento. As próprias fotos divulgadas pela imprensa demonstram isso, onde ele aparece ao fundo sentado, não realizando o procedimento.
Suspeita fez curso de bioplastia na cidade de Mogi das Cruzes (SP)
Montagem/R7Biomédica
De acordo com o advogado Tadeu Bastos, um dos responsáveis pela defesa de Raquel, a cliente contou que nunca se passou por biomédica.
— O que ela fala para a gente é que o tempo inteiro se apresentou como esteticista.
Indagado se o curso de bioplastia estética,cuja carga horária foi de 60 horas, feito por Raquel na cidade de Mogi das Cruzes, na região metropolitana de São Paulo, habilitava a cliente a realizar aplicações de hidrogel, Bastos respondeu:
— Ela nos passou a informação de que, no curso, houve dois exames práticos: uma aplicação na nádega e outra, facial. Na face, não sei se era hidrogel.
Conforme a delegada Myrian Vidal, o coordenador do curso, ouvido por meio de carta precatória, disse que no local eram ensinados apenas pequenos retoques.
No mês passado, Raquel Policena foi presa na cidade de Catalão, a 250 km de Goiânia, e ficou detida por quase duas semanas, mas a Justiça determinou que ela fosse colocada em liberdade.
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