Selic teve sétima alta seguida e chegou a 10,5% na última quarta (15)
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As pessoas podem ganhar dinheiro investindo na compra de títulos do governo ou de empresas após o aumento da taxa básica de juros, a Selic, de 10% para 10,5% anunciado pelo BC (Banco Central) na última quarta-feira (15).
A compra do título se caracteriza como um empréstimo com juros que você faz ao governo (entenda como funciona o Tesouro Direto no infográfico abaixo) ou a uma instituição privada com um rendimento ou forma do cálculo do ganho já definidos ao final de um prazo.
A pessoa se torna credora do Estado ou de um banco, por exemplo, e alguns dos ganhos são definidos pelo valor da Selic. Existem títulos pre-fixados, como o LFT (Letras Financeiras do Tesouro), no qual o lucro é referente ao valor da taxa básica no momento da compra do título. Já os pós-fixados têm o lucro calculado pela Selic no momento de receber o dinheiro.
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Para o diretor da Easynvest Título Corretora, Amerson Magalhães, é mais interessante comprar títulos pós-fixados no cenário atual de espera do aumento da taxa básica nos próximos meses.
— Ele [título pós-fixado] acompanha a taxa de juros. É melhor do que o pré-fixado em um cenário de alta da taxa. No pre-fixado, existe o risco de ganhar menos [se a Selic subir em relação à taxa já fixada na hora da compra].
Entretanto, para o professor doutor do departamento de economia da USP (Universidade de São Paulo) Márcio Nakane, o título pré-fixado gera menos incerteza à pessoa, já que o seu ganho já é definido pelo valor da taxa no momento do investimento.
— No momento em que você aplica, você sabe o seu rendimento.
Quando vender o título
Nem sempre o cenário de alta da Selic pode gerar lucro. O sócio-diretor da Alta Vista Investimento, Rogério Thomé, explica que o investidor pode ter prejuízo quando Selic sobe e o título é vendido para outra pessoa antes do prazo para receber do governo ou da instituição privada.
O professor usa como exemplo um crescimento da Selic de 10% para 20%. Se uma pessoa comprou um título do Estado que vale R$ 100 por R$ 90, receberá do governo o valor do título (um lucro de R$ 10 que equivale a 10%).
Mas quando a Selic sobe para 20% e alguém vende o título para outra pessoa antes de vender ao governo (no caso de uma emergência financeira, por exemplo), o comprador espera ter lucro equivalente à taxa Selic. O título seria vendido a alguém, então, por R$ 84, desconto equivalente a 20% dos R$ 100 (valor do título).
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Para Thomé, desde que se venda o título para o governo ou instituição bancária que o emitiu, o investimento vale a pena no contexto atual.
— Eu investiria nesses produtos. Agora é o momento. [Depois] quando a inflação começar a diminuir, haverá espaço para o governo baixar a Selic.
Medo da inflação
A taxa básica de juros é utilizada pelo governo para controlar a alta dos preços no País. O juro do crédito cresce quando ela aumenta e assim as pessoas passam a comprar menos. Quando o consumo diminui, o comércio tende a baixar os preços para não perder lucro.
Alguns títulos pre-fixados, como NTN-B (Nota do Tesouro Nacional – Série B) são vinculados à inflação com rendimento igual à Selic pre-fixada mais a inflação no momento do vencimento do título.
Para o professor doutor Márcio Nakane, a preocupação histórica dos brasileiros com a alta dos preços faz com que muitas pessoas invistam nesse tipo de título.
— Elas estão buscando [ao fazer isso] proteção, pois a inflação no Brasil não é um problema trivial mesmo com o esforço do Banco Central para controlá-la, 6% ao ano (último mês de dezembro fechou com 5,91%) não é qualquer coisa.
O título pré-fixado sem o elemento variável da inflação tem o lucro igual ao valor da Selic no momento da compra do título. Se a inflação disparar até o momento de receber o pagamento por ele, o rendimento valerá menos já que os preços cresceram e o dinheiro perdeu valor. Já no caso do título pré-fixado com a variável da inflação, a alta dos preços é corrigida no cálculo do lucro do título.
É melhor comprar títulos do governo ou da esfera privada?
Para o economista Márcio Nakane, um título comprado de uma instituição privada pode ser mais ou menos lucrativo dependendo da negociação do investidor com a instituição privada. Mas o Tesouro Direto é mais seguro já que como o governo é o devedor nesse caso, a chance de o investidor levar calote é remota.
O sócio-diretor da Alta Vista Investimentos, Rafael Thomé, ainda explica que as instituições bancárias depositam dinheiro no FGC (Fundo Garantidor de Crédito), controlado pelos bancos, que garante também que nenhum credor de uma instituição privada leve calote.
A compra de um título do governo pode ser feita por meio do site: https://www.tesouro.fazenda.gov.br.
Já o investimento no título de uma instituição privada pode se feito pessoalmente em uma agência bancária. Não é preciso apresentar garantias de renda em nenhum dos dois casos, já que a pessoa se tornará credora e não devedora. Basta efetuar o pagamento pelo título. Também se pode comprar parte dele, a chamada “letra”.
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*Colaborou Arthur Gandini, estagiário do R7