Logo R7.com
Logo do PlayPlus
Publicidade

Crise, que crise? Os negócios que vão fechar 2015 com até 100% de crescimento 

Empresas apostam em tecnologia e relacionamento com clientes. Veja outros segredos

Economia|Diego Junqueira, do R7

Em pleno ano de crise econômica, quando os maiores especialistas apostam em uma queda de mais de 2% do PIB brasileiro, como é que uma empresa faz para crescer 100%?

Embora o cenário econômico seja de desastre, com inflação e desemprego em alta e menor volume de vendas, exportações e importações, há empresas nacionais que vão faturar mais que o ano passado, crescendo de dois a até três dígitos.

Em pleno ano da crise, elas apostam em expansão de unidades, investimento tecnológico, relacionamento com clientes, novos modelos de negócio, novos produtos e contratações.

O R7 conversou com quatro dessas empresas. Uma delas é a Leaf, um estúdio de design que fabrica produtos em madeira. Neste ano, a marca desafiou o mercado tradicional do varejo, focou no e-commerce, aumentou o preço dos produtos e expandiu seu atendimento e produção. O resultado é que a Leaf poderá até dobrar o faturamento.

Publicidade

Outra é a Bralyx, fabricante de máquinas de salgados, que investiu pesado nos últimos anos no mercado exterior, mesmo sob críticas, e que agora colhe os frutos do planejamento de longo prazo.

Há também a Pertoo, uma startup mineira que está surfando em um mercado que não para de crescer: o da tecnologia.

Publicidade

E ainda a Adama Brasil, filial brasileira do grupo israelense Adama, que produz defensivos e fertilizantes agrícolas. A empresa vai faturar meio bilhão de dólares em 2015 só no Brasil, País onde a crise atinge vários setores, mas é incapaz de frear a atividade agropecuária.

Conheça a seguir cada uma dessas histórias.

Publicidade

Marcenaria made in Brasil

Rannan Farah e Juan Carri são sócios do estúdio Leaf, que fabrica produtos em madeira, como óculos, fones e carteiras
Rannan Farah e Juan Carri são sócios do estúdio Leaf, que fabrica produtos em madeira, como óculos, fones e carteiras Rannan Farah e Juan Carri são sócios do estúdio Leaf, que fabrica produtos em madeira, como óculos, fones e carteiras

Na Leaf, é mão na massa e na madeira. A empresa começou em 2012, nos fundos da casa dos irmãos Juan e Alejandro Carri, onde eles fabricavam artesanalmente óculos em madeira. O que no início era um interesse pessoal se tornou uma oportunidade de negócio, já que o produto caiu no gosto dos amigos, de fãs do Facebook e de lojistas.

À medida que a marca se torna mais conhecida, a Leaf bate recordes de vendas. No ano passado, a empresa de Juan, Alejandro e mais dois sócios faturou R$ 1,2 milhão, puxada pelo sucesso dos óculos.

Mas em 2015 a empresa se planejou para uma virada. A Leaf modificou totalmente seu modelo de negócio, fugiu do atacado e do varejo tradicional, apostou na valorização da marca, no relacionamento com os clientes, no e-commerce e exaltou sua vocação como “estúdio de design”.

Tudo aconteceu por causa do volume de encomendas do Natal passado. Para cumprir a missão, a empresa ampliou o número de funcionários de 14 para 26. A produção e as vendas aumentaram, mas a rotina de trabalho não era o que os amigos imaginavam.

Segundo Rannan Farah, 25 anos, diretor de projeto e um dos sócios, atuar no atacado significava trabalhar demais e ganhar de menos.

— O preço [dos óculos] para o consumidor final era de R$ 380. A gente vendia a R$ 180 para os lojistas, mas tirava um lucro de R$ 70 por peça. A gente estava trabalhando muito para ganhar pouco.

A marca reforçou em 2015 valores como o "feito à mão no Brasil"
A marca reforçou em 2015 valores como o "feito à mão no Brasil" A marca reforçou em 2015 valores como o "feito à mão no Brasil"

A Leaf então decidiu diminuir sua dependência dos lojistas e aumentar a autonomia de vendas. O desafio foi subir o preço dos produtos e apostar nas vendas pelo próprio site. Deu certo.

No Brasil, enquanto o comércio como um todo patina (- 2,2% no primeiro semestre), as vendas pela internet sobem mês a mês. Segundo a consultoria de mercado E-bit, as vendas online cresceram 13% no primeiro semestre deste ano, chegando a R$ 18,6 bilhões. E o setor com mais vendas é justamente o de moda e acessórios, com 15% do total.

“A gente já teve muitas oportunidades de se tornar fábrica, porque recebemos pedidos de muitas lojas, por todo o Brasil. Mas decidimos aumentar nossa margem pra lojista, deixar de ganhar pouco e trazer as pessoas pro nosso site, pro nosso estúdio, pra nossa marca, pro nosso atendimento. Isso acabou agregando muito valor ao produto”, explica Rannan.

— E quando todo mundo falava em crise, crise, crise, a gente lançou o “head”.

O “head” é um fone de ouvido, o segundo grande hit da Leaf, consolidando a marca como estúdio de design.

O novo produto foi fundamental para a empresa manter seu crescimento. Isso porque as vendas diárias de óculos caíram de seis para quatro neste ano. Mas o fone compensou a queda com a venda de três peças por dia desde o lançamento, em junho.

Assim, a Leaf cumpriu sua estratégia para 2015. No ano passado, metade das vendas ocorriam pelo site, 35% pelo atacado e o restante vinha do estúdio e de outros projetos. Mas em julho deste ano as vendas online saltaram para 75%.

O Brasil que não para de comer

No final de agosto, a Bralyx inaugurou sua fábrica em São Paulo: investimento de R$ 9 milhões, com recursos da empresa e do BNDES. Acima, o empresário Gilberto Poleto ao lado do presidente do BNDES, Luciano Coutinho (dir.)
No final de agosto, a Bralyx inaugurou sua fábrica em São Paulo: investimento de R$ 9 milhões, com recursos da empresa e do BNDES. Acima, o empresário Gilberto Poleto ao lado do presidente do BNDES, Luciano Coutinho (dir.) No final de agosto, a Bralyx inaugurou sua fábrica em São Paulo: investimento de R$ 9 milhões, com recursos da empresa e do BNDES. Acima, o empresário Gilberto Poleto ao lado do presidente do BNDES, Luciano Coutinho (dir.)

Gilberto Poleto não tem uma receita de sucesso. Para o sócio-fundador da Bralyx, empresa que há 22 anos vende máquinas de produção de doces e salgados, o importante é fazer a “lição de casa”. E isso começa com a capitalização da empresa.

— Temos recursos. Nos capitalizamos na época boa e guardamos [o dinheiro]. Não saímos por aí comprando apartamentos de luxo ou carrões.

Mas não é apenas o colchão de dinheiro que faz a empresa aguentar o baque da atual crise econômica.

— Fizemos investimento para vender no exterior quando todo mundo dizia “vocês são loucos de fazer isso com esse dólar baixo”. Mas eu acreditava que, em algum momento, o dólar ia aumentar.

A Bralyx começou em 1993 a importar máquinas de fabricação de salgados, em especial coxinhas. Focada então no mercado interno, a empresa adaptava o maquinário estrangeiro para a realidade brasileira e só então revendia o equipamento.

Após dominar a tecnologia e trazer a fabricação para o Brasil, a companhia passou a investir no mercado externo. As exportações começaram em 2005, quando Poleto e sua sócia-fundadora, Beatriz Poleto, levaram suas máquinas para uma feira na Itália.

— Chegamos com a nossa máquina lá e ficamos envergonhados, porque era uma porcaria o design. A gente olhou e falou “meu deus do céu”. Nem tinha certificação para a comunidade europeia ainda.

A competitividade e exigências do mercado internacional reforçaram na empresa a necessidade de investir em tecnologia e inovação. 

E os resultados apareceram em 2015. As vendas para o mercado interno caíram, mas foram compensadas com as vendas para o exterior. Se no primeiro semestre de 2014 o mercado externo representava 10% das vendas, neste ano o índice foi para 30%. A Bralyx alcançou um crescimento de 8% em 2014, com faturamento de R$ 50 milhões, e projeta alta de 10% em 2015.

— Não chegaria nesses resultados se dependesse do mercado interno, que está estagnado nos últimos dois anos. Além disso, os mercados lá fora começaram a destravar um pouco. Por exemplo, não vendíamos máquinas para a Espanha havia muitos anos. Mas foi uma resposta a um trabalho de anos. Trabalhamos antecipadamente. Não adianta decidir que, agora que o dólar melhorou, vou vender lá [no mercado externo]. Faz cinco anos que estamos com esse foco.

Em dez anos, o número de funcionários passou de 12 para perto de 150 e a quantidade de máquinas produzidas a cada mês saltou de oito para 170.

— É logico que a crise nos atingiu, mas trabalhamos num setor de comida, e as pessoas continuam comendo.

A rede

Do papel para o app! O Pertoo é uma plataforma para pais se comunicarem com as escolas por seus smartphones
Do papel para o app! O Pertoo é uma plataforma para pais se comunicarem com as escolas por seus smartphones Do papel para o app! O Pertoo é uma plataforma para pais se comunicarem com as escolas por seus smartphones

Além de comer, o que todo mundo faz, cada vez mais, é se conectar. Foi isso o que levou os irmãos Sávio e Bruno Grossi, de Belo Horizonte, a fundar a startup Pertoo.

Por meio de um aplicativo, a plataforma busca aproximar os pais do dia-a-dia escolar dos filhos. A ideia é substituir a tradicional “agenda” e os comunicados em papel para a comunicação por meio de smartphones.

“Há um ano e meio nós tivemos a ideia. Entrevistamos vários gestores e vimos que era realmente uma demanda. A gente não inventou um problema para ser resolvido. O problema já existia e nós criamos o produto”, diz Sávio Grossi, 36 anos, que é formado em ciência da computação e já tinha trabalhado anteriormente em startups.

E como parte das empresas de tecnologia, seus fundadores não precisaram investir um centavo do bolso para tirar a ideia do papel. Eles foram selecionados pelo governo de Minas Gerais para participar de um programa de incentivo e inovação, o SEED (Startups and Entrepreneurship Ecosystem Development), do qual receberam R$ 60 mil para “acelerarem” o produto.

Sávio e Bruno Grossi receberam um investimento de R$ 60 mil para o lançamento. No primeiro ano, faturamento será de R$ 500 mil
Sávio e Bruno Grossi receberam um investimento de R$ 60 mil para o lançamento. No primeiro ano, faturamento será de R$ 500 mil Sávio e Bruno Grossi receberam um investimento de R$ 60 mil para o lançamento. No primeiro ano, faturamento será de R$ 500 mil

Quando o programa acabou, em dezembro de 2014, o Pertoo já tinha dois clientes. Atualmente são 50 escolas usando o aplicativo em 14 Estados. A meta é chegar a 100 até o fim do ano, com expectativa de faturamento de R$ 500 mil em 2015 — quase dez vezes mais o valor investido na montagem da empresa.

Com o crescimento, o número de funcionários passou de dois para nove. E a startup, que até agora operava com grupos educacionais de médio e pequeno porte, se prepara para grandes operações, o que inclui também a abertura de um escritório em São Paulo.

Para vender o produto, os Grossi convenceram escolas a cortar custos com impressão de papel e com o gerenciamento de agendas e comunicados.

O sucesso da plataforma, diz, também se deve à aceitação dos pais, já que “82% de qualquer comunicado é lido”

— É um absurdo quando se compara com comunicados em papel.

Em se plantando, tudo dá

O relatório sobre o PIB divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em 28 de agosto mostra uma série de números negativos e a retração da economia brasileira.

Mas, diferentemente do consumo da população, dos gastos do governo, da atividade industrial e dos serviços, há um setor que continua crescendo: é a agropecuária, que teve 3% de alta no primeiro semestre de 2015, na comparação com o mesmo período do ano passado.

“Quando as pessoas atingem um determinado nível de sofisticação no que comem, tendem a não reduzi-lo mesmo em momentos de crise. Cortam outras coisas, mas não a qualidade do alimento. Isso mantém o nível de consumo de alimentos em crescimento e, portanto, o agronegócio em maior estabilidade”. Assim justifica Rodrigo Gutierrez, presidente da Adama no Brasil, empresa de origem israelense do ramo agroquímico.

Fabricante de defensivos e fertilizantes agrícolas e com atuação em mais de 120 países, a Adama projeta um crescimento de 7% neste ano no País, com faturamento acima dos US$ 550 milhões.

A empresa possui duas unidades de produção, uma em Londrina (PR) e outra em Taquari (RS), além de 17 regionais de vendas. Com cerca de 550 funcionários, vai passar pelo ano da crise sem demissões em massa.

— Estamos muito felizes de não termos precisado fazer desligamentos como grande parte da indústria em geral.

Rodrigo Gutierrez, presidente da Adama no Brasil. A empresa possui duas plantas: uma em Londrina (PR, na foto) e outra em Taquari (RS)
Rodrigo Gutierrez, presidente da Adama no Brasil. A empresa possui duas plantas: uma em Londrina (PR, na foto) e outra em Taquari (RS) Rodrigo Gutierrez, presidente da Adama no Brasil. A empresa possui duas plantas: uma em Londrina (PR, na foto) e outra em Taquari (RS)

A Adama passou por reformulações nos últimos anos, sendo incorporada em 2011 pelo grupo chinês ChemChina.

Após isso, ocorreu a alteração do nome na empresa e outras mudanças estruturais, sobretudo com investimentos no relacionamento com os clientes.

— Num ano difícil, os clientes querem estar com quem é consistente e que agrega valor ao negócio deles. Acredito que conseguimos construir esse diferencial nos últimos anos e ainda estamos crescendo com base nessa linha.

O executivo explica que o agronegócio brasileiro é muito competitivo do ponto de vista tecnológico e que as condições de infraestrutura estão melhorando.

Ele ressalta ainda a alta recente do dólar como fator positivo nos negócios, embora os agricultores não estejam “conseguindo capturar toda a valorização, porque os preços das commodities tiveram quedas significativas”.

— Agora que temos uma participação acionária chinesa, aprendemos que, em mandarim, crise e oportunidade são os dois lados da mesma moeda, é apenas uma questão de alimentar o lado certo dela.

Últimas

Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com oAviso de Privacidade.