Inadimplência é mais alta entre as famílias com renda de menos de 10 salários mínimos
PixabayO endividamento das famílias na capital paulista atingiu um nível recorde em abril, na esteira do cenário de aumento dos juros e inflação elevada no país, de acordo com a FecomercioSP (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo).
Dados da Peic (Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor) mostram que, no quarto mês do ano, 3,01 milhões de famílias tinham dívidas. O número é equivalente a 75,3% do total de domicílios da cidade. Trata-se do maior nível da série histórica do levantamento, iniciada em 2010.
No mesmo mês, foi constatada em São Paulo uma taxa de inadimplência de 24,6%, que representa 986 mil famílias com contas em atraso. A proporção de inadimplentes é mais alta entre as famílias com renda de menos de dez salários mínimos (29,5%), enquanto as famílias com rendimentos superiores a esse nível registraram taxa de 12,2%.
Ao todo, 10,1% dos inadimplentes avaliaram que não devem conseguir quitar as dívidas atrasadas. Essa também é a maior taxa desde 2010.
• Cartões de crédito (93,7%)
• Carnês (19,1%)
• Crédito pessoal (11,2%)
"O aumento na taxa básica de juros da economia, a Selic, que saiu de 2% para 11,75% ao ano, além de dificultar o acesso ao crédito, encareceu os financiamentos, levando a uma transferência maior da renda para o sistema financeiro, em detrimento do consumo. Isto é, as famílias estão pagando mais em juros e têm menos recursos para compras e pagamento de contas", observa a FecomercioSP, em nota.
A combinação entre esse cenário e a inflação elevada, agravada pela guerra na Ucrânia, tem levado as famílias a uma busca pelo crédito como alternativa para manter o poder de consumo, avalia a entidade.
De acordo com a pesquisa, 8,1% das famílias pretendiam obter recursos com bancos ou financeiras nos próximos meses. Desse percentual, 66,3% esperavam conseguir recursos para compras, e 31,9%, para o pagamento de dívidas e contas.
O endividamento era maior entre as famílias com renda de até dez salários mínimos (78,1%), ante 67,1% das famílias com renda superior.
A FecomercioSP também apurou quase estabilidade do Índice de Intenção do Consumo das Famílias (ICF). O indicador avançou 0,6% na margem, aos 76,8 pontos, puxado por uma alta de 5% do item Emprego Atual, a 102,6 pontos – o maior nível desde abril de 2020. O item de Perspectiva Profissional avançou 1,9%, aos 99,8 pontos, e o item Renda Atual subiu 4,2%, a 80,6 pontos.
"Contudo, a melhora do emprego não foi suficiente para contrabalancear a inflação", afirma a FecomercioSP. A entidade destaca a quase estabilidade do Nível de Consumo Atual, com alta de 0,4%, a 57,4 pontos. O indicador de Perspectiva de Consumo caiu 6%. Por fim, o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) recuou 0,7%, a 104,3 pontos, com queda de 1,9% do Índice de Expectativas do Consumidor (IEC) e alta de 2,8% do Índice de Condições Econômicas Atuais.