Mais de 1,5 milhão de pessoas vivem em favelas pacificadas pelas forças de segurança pública em todo o Estado do Rio de Janeiro. Em um ambiente em que o tráfico de drogas não manda mais, as comunidades começam a se organizar e, com isso, surgem oportunidades de negócios tão distantes da realidade da população alguns anos atrás.
Focadas nesses mercados, as redes de franquias começam a planejar negócios que se adaptem ao bolso dos futuros investidores: os próprios moradores.
Uma parceria entre a ABF-Rio (Associação Brasileira de Franchising) e a AgeRio (Agência Estadual de Fomento) vai oferecer capacitação e crédito para que empreendedores possam montar novos negócios em comunidades pacificadas.
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Na última quinta-feira (28), um evento levou franqueadores à favela da Rocinha. O objetivo era mostrar as marcas e modelos de negócios e também procurar novos parceiros.
Hoje, já existem diversos pequenos negócios nas comunidades da cidade, nos mais diversos ramos. Mas isso não diminui o interesse de quem ainda não é patrão. Uma pesquisa do Instituto Data Favela identificou que 40% dos moradores dessas áreas sonham em abrir o próprio negócio.
Os financiamentos serão feitos mediante análise do negócio e respeitando os limites estabelecidos pela AgeRio: de R$ 300 a R$ 15 mil. Os juros são camaradas: 3% ao ano. Também é feita uma avaliação de crédito do interessado e exigido fiador ou aval.
O ramo de franquias já tem modelos de empresas, pesquisas de mercado, estratégias de venda. A intenção do franchising, ao entrar nas favelas, é levar toda essa experiência aos empreendedores, diz o consultor de franquias e diretor de capacitação da ABF-Rio, Paulo Mendonça.
— O bacana do crescimento do franchising é que ele está patrocinando a profissionalização. [...] Há muitos empreendedores lá dentro que são extremamente capazes, conhecem a comunidade e só falta o dinheiro. Agora, quando você faz o aporte de capital e permite que ela abra o negócio, facilita muito.
O diretor de operações da AgeRio, Dário Araújo, explica que o modelo de franquia pode aperfeiçoar empresas consolidadas nessas comunidades.
— Às vezes, a pessoa pode até fazer a mesma atividade da franquia, mas ela não tem a marca e todo o apoio técnico, orientações. A gente tem trabalhado muito com a ABF e com as marcas para desenvolver o franqueado dentro das comunidades.
A AgeRio diz que todos os segmentos de franquias entrarão no programa. Porém, a agência percebeu que os setores de limpeza e pequenos reparos podem gerar mais interesse.
Além da ABF-Rio e da AgeRio, o Sebrae/RJ também está dentro da parceria, oferecendo capacitação. Na hora de abrir uma empresa ou de torná-la formal (com CNPJ, alvarás e licenças necessárias), muita gente precisa desse treinamento, segundo Araújo.
Um estudo do próprio Sebrae/RJ, feito em 2012 com microempreendedores em comunidades pacificadas, mostrou que um em cada três negócios abertos possuía até três anos e meio de existência. A pesquisa também constatou que o tempo médio de funcionamento dessas empresas é de dez anos.
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Avaliação
Segundo a ABF-Rio, ao menos dez marcas possuem 18 unidades em comunidades pacificadas na capital. Quem já está nessas regiões faz uma avaliação positiva dos negócios. É o caso do presidente da Yes! Idiomas, Clodoaldo Nascimento. A rede tem atualmente unidades no Alemão e na Rocinha. Para o empresário, as Olimpíadas vão impulsionar ainda mais esse mercado.
— Você vai ter muitas oportunidades locais nas comunidades pacificadas que não eram exploradas e que, com certeza, vão ser muito visitadas durante o evento.
Primeira franquia de alimentação a se instalar em favelas pacificadas, o Subway já tem unidades na Rocinha e em Rio das Pedras, além de estar inaugurando outra na Cidade de Deus. A rede ainda tem planos para abrir mais duas, segundo Luis Carquejeiro, consultor de desenvolvimento da marca.
— Temos projetos de abrir no Complexo do Alemão e na Maré. A gente identifica esse como sendo um excelente mercado. Tivemos essa coragem porque enxergamos um potencial. Hoje, o Rio de Janeiro é uma coisa só. Não existe comunidade e asfalto, como tinha antigamente.
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