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Marco Vinholi nega tese de que SP perderá uma Ford por dia
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Para o secretário de Desenvolvimento Regional, o Estado vai crescer 5% neste ano
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Os instrumentos são a adoção de medidas sanitárias, vacina e o plano de retomada
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Prefeita de Bauru é obrigada pela Justiça a seguir normas estaduais
Secretário de Desenvolvimento Regional, Marco Vinholi, em coletiva no Palácio dos Bandeirantes
Divulgação/Governo do Estado de São Paulo - 27.01.2021Escalado para frear os prefeitos ‘rebeldes’ às medidas de restrição ao comércio no combate à pandemia, o secretário de Desenvolvimento Regional do Governo de São Paulo, Marco Vinholi, rechaça a teoria de que o estado perderá uma Ford por dia e crava: o estado terá um crescimento de 5% nas suas riquezas ainda em 2020.
A alusão ao fechamento das fábricas da montadora no Brasil, com a dispensa de 5 mil funcionários, foi feita pelo presidente da Ablos (Associação Brasileira dos Lojistas Satélites), Tito Bessa Júnior, em recente entrevista ao R7.
Nas contas da entidade, que representa parcela significativa do setor de comércio e serviços no estado, as empresas vão dispensar no mínimo 10% dos funcionários. E se as restrições do Plano São Paulo forem mantidas por um período maior do que o programado (a reclassificação ocorrerá em 5 de fevereiro e o início se dará no dia 8), algumas irão fechar as portas.
Para a Ablos, “shoppings são mais seguros do que praias” e o comércio está pagando, novamente, um preço alto enquanto praias seguem lotadas e festas clandestinas seguem ocorrendo diariamente.
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Vinholi, por sua vez, argumenta que a única maneira de impulsionar a retomada da economia e o consumo de maneira geral, de forma sustentável, é o enfrentamento à covid-19. As ferramentas são as restrições e a vacinação.
"A calibragem do Plano SP está correta", defende.
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“Estamos passando por um momento agudo em termos de casos em toda a pandemia. Nós seguimos aqui um centro de contingência, que analisa os fatores que têm causado esse aumento de contágio e que propôs, de forma técnica, as restrições colocadas agora pelo Plano SP”, afirma o secretário da gestão João Doria (PSDB).
Boa parte do território paulista voltou para a fase vermelha do Plano São Paulo, a mais restritiva, na última segunda-feira (25). A medida preconiza o funcionamento apenas de serviços essenciais. A região de Bauru, que está, atualmente, no centro da polêmica relação entre prefeituras e Estado, é uma delas.
Outras áreas, como a capital e a Baixada Santista, voltaram à fase laranja, mais flexível, e lojas e shoppings passaram a fechar às 20h durante a semana e durante todo o dia aos sábados e domingos.
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“Essas medidas por si só farão uma retomada contundente. Nós temos expectativa de crescimento em 5% do PIB [Produto Interno Bruto], podendo melhorar para todo o nosso comércio. A calibragem foi feita de forma técnica visando essas vertentes”, argumenta o secretário do governo João Doria (PSDB).
Sobre a comparação shopping x praia, o titular da pasta de Desenvolvimento Regional, que tem como uma de suas atribuições o relacionamento entre o executivo estadual e os municipais, Vinholi destaca que o grande problema é o não cumprimento das medidas sanitárias: negação das máscaras e aglomerações. E atribui a fiscalização delas às cidades.
“Recomendamos que as prefeituras atuem com contundência’, afirma.
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Conforme o secretário, se o governo relaxasse nas medidas de prevenção e contenção ao contágio do novo coronavírus, o consumo gerado para os diversos setores da economia regional nunca seria suficiente para a retomada de patamares pré-pandemia. A justificativa são os altos índices de adoecimento e mortes.
“Isso vem desde exemplos passados, como a gripe espanhola, seguidas por outras bem-sucedidas no mundo todo. E São Paulo faz da mesma forma.”
Além da vacinação para controle da doença, o governo de São Paulo aposta suas fichas em um plano retomada econômica lançado no fim de 2020 e com prazo de duração até o fim dessa gestão.
Batizado de Retomada 21/22, apoia-se fundamentalmente em concessões de ativos e PPPs (parcerias público-privados) como, por exemplo, linhas de trem, aeroportos, rodovias, hidrovias, metrô e iniciativas na área de tecnologia. Na carteira, constam também a preservação de florestas e a despoluição do Rio Pinheiros. O plano prevê geração de dois milhões de empregos.
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A meta do ex-ministro da Fazenda e atual secretário de Fazenda e Planejamento, Henrique Meirelles, quem toca a iniciativa, é atrair US$ 6 bilhões (cerca de R$ 33 bilhões na cotação desta sexta, 29) de capital estrangeiro no período pós-pandemia.
Mesmo com a segunda onda consolidada e o endurecimento nos deslocamentos e atividades comerciais, Vinholi não vê motivos para colocar em xeque o planejamento.
“O Henrique Meirelles e o governador têm feito road shows e mais encontros estão programados. Nesta semana, mesmo, o governador participou do Fórum Econômico Mundial, virtualmente”, conta. “Nós temos uma ótima expectativa, a exemplo do que foi a concessão de rodovias entre Piracicaba-Panorama com um recorde [de malha licitada em um único lote no país].”
Vinholi diz também que o Governo de São Paulo injetou R$ 600 milhões nos bancos do Povo e Desenvolve SP em empréstimos para socorrer os pequenos e microempreendedores. “Esse crédito chega aos lojistas e comércio e vamos colocando cada vez mais nesses setores”, afirma.
Em 6 de janeiro, durante reunião virtual com os prefeitos recém-eleitos, o secretário de Desenvolvimento Regional ameçou priorizar "nos nossos atendimentos" os prefeitos que "forem irresponsáveis" no trato com a pandemia.
Atendimentos, no caso, são repasse de recursos e parcerias em projetos.
"Muita gente faz priorização por partido, por política ou por qualquer outro tipo de questão. A nossa priorização será para aqueles que respeitam a vida. Todos terão parceria, mas a prioridade serão com os gestores responsáveis", diz, reforçando que as questões de saúde e vacinação estão fora deste critério.
Bauru certamente será um destes municípios, uma vez que a prefeita da cidade, Suéllen Rosim (Patriota), decidiu enfrentar o governo do Estado ao baixar um decreto municipal e flexibilizar a fase vermelha do Plano SP. A região é a que tinha os piores índices da pandemia, nesta sexta-feira (29), com 86,3% de ocupação de leitos de UTI covid-19.
"Bauru age com extrema irresponsabilidade. Não estamos nem na fase da fila [priorização de projetos e parcerias], mas lutando para salvar vidas da região. Então estou trabalhando o dia inteiro para colocar leitos lá", diz Vinholi.
"E estamos apelando, mais uma vez, para que a prefeita possa observar esses índices e ter a responsabilidade com a saúde da sua população. Nós temos um crescimento no número de casos nesse momento e nós sabemos que, entre 10 e 14 dias, vão se tornar internações. Então, não há outra saída se não arrefecer essa evolução na pandemia", completou.
Suéllen, por sua vez, argumenta que não deixou a cidade aberta para "a população fazer do jeito que quer", mas sim "tentar dar o remédio para o doente certo".
"Nós nos reunimos com nosso comitê de enfrentamento à covid. [A decisão] Não sai só da cabeça da prefeita. Nós deixamos o comércio aberto com menor capacidade, encerrando às 20h, aos fins de semana apenas o comércio essencial, aumentamos a fiscalização e cobramos efetivamente o estado para que nos dê as vagas de UTI necessária", diz.
Suéllen destaca ainda ter havido uma diminuição de 40 para 20 leitos de UTI destinados a pacientes infectados com covid-19 desde o início da pandemia no HC (Hospital das Clínicas) da cidade, convertido em hospital de campanha. Portanto, argumenta, a responsabilidade pelo caos sanitário local deve ser compartilhada.
"Nós temos problema de internação de Bauru há muito tempo. O HC precisa estar aberto para sobreviver. Bauru é uma cidade comercial. Ninguém está em título de rebeldia, mas nós precisamos tratar localmente nosso problema também", complementa.
Nesse sentido, a prefeita cobra o governo do Estado para o cumprimento de uma promessa que, segundo ela, foi feita por Vinholi este mês: 10 leitos de UTI a mais para desafogar o sistema de saúde local.
Conforme a prefeita, o repasse de recursos para a Famesp, organização social que administra o HC e outras unidades de saúde na cidade, cairá 7,5%, ou R$ 750 mil ao mês.
Questionada sobre as demandas, a Secretaria de Desenvolvimento Regional informou que "por força de desobediência da Prefeitura de Bauru-SP face à reclassificação do Plano SP", o Governo do Estado notificou o município para que cumpra, de maneira imediata, as novas normas. A pasta ressalta que os decretos estaduais prevalecem sobre normas municipais e a divergência entre as leis é analisada pelo MP (Ministério Público).
Prefeita de Bauru, Suéllen Rosim esteve em Bauru e se encontrou com Bolsonaro
Reprodução/InstagramO MP-SP entrou com pedido liminar no TJ (Tribunal de Justiça) para derrubar o trecho de decreto que permitiu o relaxamento das medidas de distanciamento social em Bauru.
"Ao pedir a concessão de liminar suspendendo imediatamente o trecho do decreto municipal de Bauru, o PGJ alega ainda que afrontar as orientações da comunidade científica e abrandar as medidas de isolamento coloca em risco os direitos fundamentais de proteção à vida e à saúde, além de não atender aos princípios constitucionais da prevenção, da precaução e da motivação", complementa.
No fim do dia de ontem (29), o Tribunal de Justiça de São Paulo acolheu o pedido e concedeu liminar obrigando Bauru a respeitar as regras da fase vermelha do Plano SP. "Eu não estou fechando o comércio de Bauru, eu estou sendo obrigada a fechar. Mas dias melhores virão", afirmou Suéllen em vídeo publicado em rede social.
Sobre o número de vagas de UTI para atendimento de doentes por covid-19, o secretário Marco Vinholi afirma que a prefeita "erra ao não cobrar o governo federal, que diminuiu pela metade o número de leitos habilitados de todo o Estado de São Paulo e também na região".
Sobre a suposta diminuição nos repasses para administração de leitos na cidade, não houve resposta.
Questionado sobre as falas do presidente Jair Bolsonaro, que, durante inauguração de obra no nordeste nesta quinta, disse que "a política de fechar tudo e ficar em casa não deu certo" e que "se envergonharia" se fosse um dos brasileiros que não pudessem trabalhar para levar o sustento para casa, Vinholi afirmou que o presidente é um negacionista desde o início da pandemia".
"O presidente Bolsonaro é um negacionista desde o início da pandemia por considerar a pandemia que matou mais de 200 mil pessoas no Brasil como uma gripezinha. Não é o que diz o mundo todo, a ciência, os médicos, aqueles que perderam familiares ao longo dessa pandemia. Nós preferimos seguir com os conceitos médicos e da saúde para combater uma pandemia que já matou tanta gente", finaliza.