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Governo indica melhorar comunicação com mercado, diz professor da PUC-Rio

Governo entendeu que a 'lua de mel' do mercado com a nova equipe tem uma vida útil

Economia|

"Nesse período pós-eleição e início do novo governo, é natural que haja mais comunicação", afirma especialista
"Nesse período pós-eleição e início do novo governo, é natural que haja mais comunicação", afirma especialista "Nesse período pós-eleição e início do novo governo, é natural que haja mais comunicação", afirma especialista

Há uma disposição aparentemente maior da equipe econômica em conversar com o mercado, o que seria muito bem-vindo, na avaliação do professor da PUC do Rio de Janeiro e sócio da Kyros Investimentos, Carlos Viana de Carvalho. "É natural que haja uma maior comunicação nesse período de pós-eleição e início oficial da nova gestão. Mas o fato é que o governo demonstra que entendeu que é preciso melhorar sua comunicação e divulgar o que pretende fazer, visto que ainda não é possível mostrar quais são as novas medidas", disse o professor, em entrevista exclusiva ao Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado.

Desde o anúncio de Joaquim Levy no Ministério da Fazenda e de Nelson Barbosa no Planejamento em 27 de novembro, ocorreram vários discursos e apresentações formais de membros da equipe econômica. Nas últimas três semanas, somente o presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, fez seis apresentações públicas. No mesmo período do ano passado, o número de discursos de Tombini foi a metade disso.

Nesta semana, a entrevista do futuro ministro da Fazenda Joaquim Levy ao programa "Bom Dia Brasil", da Rede Globo, foi mais um sinal de uma provável mudança na disposição do governo em tornar mais eficaz a sua comunicação. A aparição pública veio um dia depois de a crise internacional refletir nos mercados brasileiros. Na terça-feira, 16, o dólar chegou à maior cotação desde março de 2005, e o mercado de juros futuros passou a precificar mais duas elevações de 0,75 ponto porcentual da Selic.

Há um ano, Viana publicou um artigo em que comprovou a partir de um modelo econométrico a ineficácia da comunicação do Banco Central sob a gestão de Tombini. Mesmo sem ter atualizado o estudo com os dados em 2014, Viana observa que nada mudou. A perda de credibilidade construída ao longo de quatro anos faz com que o mercado sequer acredite no que diz a autoridade monetária, segundo o professor. "As pessoas [os agentes econômicos] não prestam mais atenção no que diz o BC", afirma Viana.

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O senhor percebe uma maior disposição em melhorar a comunicação?

Nesse período pós-eleição e início do novo governo, é natural que haja mais comunicação. Mas o fato é que o governo sinaliza que entendeu que a 'lua de mel' do mercado com a nova equipe tem uma vida útil e que está acabando. Por isso, vemos mais discursos do que antes. Ou seja, a equipe entendeu a necessidade de mostrar o que pretende.

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O senhor acredita que a comunicação da autoridade monetária vai ficar mais eficaz?

É difícil dizer. Mas o fato é que pior do que está é quase impossível ficar. É preciso lembrar que, no caso do Banco Central, as pessoas que estarão lá no ano que vem são exatamente as mesmas. O estudo que fiz mostra com clareza que a comunicação se deteriorou da época do [Henrique] Meirelles para a gestão do Tombini. Mesmo recentemente, o BC tem enviado sinais dúbios para o mercado.

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O senhor pode citar alguns sinais dúbios? A confusão acerca do programa de swaps cambiais é um exemplo?

Na parte do swap cambial, meu entendimento é que há um desejo do Levy que o governo não interfira tanto no mercado cambial. Por outro lado, acredito que o BC precisava esperar para ver quais seriam as medidas do lado fiscal e também o comportamento do mercado internacional. Mas isso é quanto a câmbio. Quanto a juros, não é bem assim.

Qual é a diferença entre a comunicação em câmbio e juros?

Para mim, uma prova da ineficácia da comunicação do Copom foi no momento em que o Copom precisou explicitar a decisão sobre a taxa de juros da ata, destacando a informação no texto. O fato de o comitê ter de ser tão claro mostra que já fracassou.

Em setembro, o diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton, afirmou claramente que o BC elevaria os juros. Mas ninguém acreditou.

No artigo, concluo que uma explicação para a comunicação ineficaz é o fato de o BC ter perdido toda credibilidade ao longo de quatro anos. Uma evidência disso é o fato de as pessoas não acreditarem realmente no que ele diz. É como a história [infanto-juvenil] do menino que alerta sobre o lobo, sem ele ter vindo. Quando o lobo vem realmente e o menino pede socorro, ninguém decide acudir.

O senhor se surpreendeu positivamente com a decisão de Joaquim Levy de vir a público um dia depois da crise nos mercados?

O Levy entende o funcionamento dos mercados, a formação de preços e entende que, numa hora dessas, não é possível menosprezar os sinais que os preços começam a dar. Essa mudança de postura é muito bem-vinda.

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