O número de registros de consumidores inadimplentes no acumulado de 12 meses encerrados em fevereiro é o menor desde 2005, quando a Boa Vista SCPC começou a série histórica. No período, a queda foi de 3,5%, segundo dados divulgados pelo órgão nesta sexta-feira (10).
Em comparação com fevereiro de 2016, a queda de novos registros de inadimplentes foi ainda menor: 8,3%.
As regiões Sul e Sudeste puxaram os resultados, com quedas de 5,3% e 5,1%, respectivamente.
A única região do País a ter aumento da inadimplência foi o Norte, com 1,4%. Apesar disso, a região teve redução de 13,4% na comparação somente com o mês de fevereiro do ano passado.
O economista da Boa Vista SCPC Flávio Calife explica que a queda da inadimplência dos consumidores é um reflexo da redução de crédito.
— Essa queda do número de novos registros nem sempre é uma notícia tão boa quanto parece, porque ele é muito influenciado pela tomada de crédito. Houve uma redução significativa na tomada de crédito. Nosso indicador de demanda de crédito pelo consumidor está caindo quase 7%.
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O registro menor de inadimplentes na crise contrasta com os anos de 2011 e 2012, em que a economia estava bem. Naquele período, a inclusão de novos inadimplentes nos registros da Boa Vista SCPC chegaram a ter alta superior a 20%.
"Isso ocorreu devido a uma tomada maior de crédito. Hoje, a inadimplência é mais causada pela redução do orçamento das famílias do que pela tomada maior de crédito", diz Calife.
Segundo o economista, a crise fez com que esses indicadores chegassem a um patamar negativo.
— As pessoas estão com menos renda, menos emprego, e estão evitando essa tomada [de crédito] e consumo maior. É um número bom, mas ele reflete essa contenção e a redução da atividade [econômica].
As consultas feitas ao SCPC em fevereiro — indicador que reflete diretamente a busca por crédito — chegaram ao menor patamar em um ano: 1,4 milhão, segundo dados do Banco Central.
O BC registrou 3,7% de inadimplência nas operações de crédito em janeiro: crescimento de apenas 0,2 ponto percentual no acumulado de 12 meses.
O Banco Central também apontou em janeiro encolhimento de 3,9% do saldo das operações de crédito nos 12 meses anteriores.
Questionado se os consumidores ficarão mais conscientes quanto ao uso do crédito após a crise, ele diz que ainda é cedo para traçar previsões.
— A redução do consumo foi ruim para a atividade econômica, mas para o mercado de crédito isso foi bom. Agora, a grande questão é: será que o brasileiro aprendeu a mexer com o crédito? Eu ainda tenho dúvidas. Acho que foi mais uma dor e um aperto do que realmente uma consciência em relação ao uso do crédito. Mas a gente só vai ter essa resposta quando o crédito voltar a crescer.