Segundo especialistas, inflação controlada é ideal para a economia
Getty ImagesPesadelo para muitos brasileiros no início da década de 90, a inflação voltou a assombrar os brasileiros no ano passado, quando o índice acumulou alta de 10,67% ao longo dos 12 meses do ano, na maior taxa dos últimos 13 anos.
Na última apuração, referente ao mês de fevereiro, o índice geral de preços desacelerou ao registrar alta de 0,9%. No entanto, a variação acumulada pelo indicador ao longo dos últimos 12 meses ainda é superior a 10%.
Mas e se os preços estivessem em queda? Será que esse cenário é positivo para a economia de um país?
Ainda que distante da situação atual brasileira, a deflação — nome dado para a queda de preços — já foi verificada em países como Estados Unidos (- 15,8%), Canadá (- 17.8%) e Alemanha (- 7.62%), segundo indicadores do site Trading Economics.
O sócio-diretor da Méthode Consultoria, Adriano Gomes, classifica a queda de preços como “destrutiva” para a economia de um país. Ele afirma que a situação inverte a tendência natural dos preços.
— O cenário de deflação destrói aquele ânimo e as esperanças do empresário de produzir. [...] Imagina que hoje você olhe para o seu produto, vendido por R$ 100 na gôndola e, em uma perspectiva futura, imagina que ele vai ser vendido a R$ 95, R$ 90 daqui a um ou dois anos. Isso é absurdamente desestimulante para qualquer atividade empresarial.
De acordo com a presidente do Corecon-RS (Conselho Regional de Economia do Rio Grande do Sul), Simone Magalhães, a queda de preços é tão perigosa quanto a alta inflação, porque ela representa um cenário de estagnação e queda de crescimento.
— A deflação mostra que a economia, ao invés de estar crescendo, está se enxugando. As empresas não estão conseguindo vender seus produtos e estão reduzindo os preços.
Atualmente, o temor da deflação tem afetado o Japão, que encerrou 2015 com uma taxa inflacionária de apenas 0,2%. Para reverter a situação, o banco central do país asiático decidiu adotar os juros negativos para reequilibrar a economia e impulsionar o consumo da população.
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Como consequência da desaceleração econômica, a presidente do Corecon-RS afirma que o cenário de deflação faz com que as empresas reduzam seus lucros e enxuguem seus quadros de funcionários com a intenção de cortar as despesas.
— Quando a empresa está faturando menos, ela reduz o lucro e para de investir. Se ela está reduzindo custos, está cortando pessoal, principalmente aqueles ligados direta e indiretamente à cadeia de bens e serviços. [...] É todo um processo que acaba gerando desemprego e crise econômica.
Adriano Gomes, por sua vez, questiona a possibilidade de manter os atuais trabalhadores empregados em uma economia sem perspectiva de crescimento.
— Por que eu vou produzir mais para vender por um valor menor lá na frente? Qual é o motivo de empregar mais gente ou manter os funcionários que eu tenho hoje?
Inflação ideal
Os economistas concordam que o cenário ideal para manter a economia sem crise é o de uma inflação controladamente baixa. Adriano afirma que é recomendado que as economias tenham uma variação de preços controlada em torno de 2% ou 3% anuais. Segundo ele, esse percentual é essencial para estimular a atividade empresarial, sem causar falta de credibilidade e nem deixar de existir uma perspectiva de ajuste de preços.
De acordo com Simone, apesar de muitas pessoas classificarem que é melhor não ter inflação, a realidade não é essa.
— Se estabilizada, a inflação é boa, porque isso mostra um aquecimento do mercado e indica para as empresas que as pessoas estão dispostas e aptas a consumir.