Interior da loja da Daslu, no Shopping Cidade Jardim, na zona sul de São Paulo
EVELSON DE FREITAS/ESTADÃO CONTEÚDO-31/05/2008A marca Daslu foi arrematada por R$ 10,5 milhões em um leilão realizado pela casa Sodré Santoro, dentro do processo judicial de falência da marca. O valor ficou acima do lance mínimo de R$ 1,4 milhão inicialmente estabelecido.
De acordo com Mariana Sodré Santoro Batochio, da Sodré Santoro, houve um total de 32 lances pelo ativo. O nome do comprador não foi imediatamente revelado, mas deve ser incluído no processo nos próximos dias. A concretização da venda depende do pagamento do valor.
Responsável pelo leilão, a empresa Sodré Santoro tem experiência em retomada de marcas antigas: foi a companhia que vendeu, em 2010, a marca Mappin para a rede Marabraz. Desde 2019, o Mappin é uma pequena operação de e-commerce, muito distante da potência anterior, mas que continua ativa.
Para a leiloeira, o processo de venda da marca Daslu mostrou que há interesse por grifes antigas. "O processo mostrou que a marca tem seu valor, e que ele não é pouco", disse Mariana.
A Daslu, criada pela empresária Eliana Tranchesi, que morreu em 2012, voou alto por mais de uma década, a partir dos anos 1990. Em um momento em que as marcas de luxo internacionais praticamente não tinham presença no Brasil, a Daslu oferecia não apenas acesso, mas também serviços especializados para suas clientes em um estilo “casa de patroa” - com vendedoras uniformizadas e que tratavam as consumidoras, que muitas vezes passavam a tarde na loja, como se estivessem em uma mansão paulistana.
A venda ocorreu apesar do desgaste da marca ao longo do tempo, já que a empresa também passou por uma longa e visível crise de reputação. Na verdade, o castelo da Daslu começou a ruir em 2005, não muito depois da inauguração da Villa Daslu, megaloja de luxo onde hoje fica parte do Shopping JK Iguatemi. O edifício neoclássico, de 20 mil metros quadrados e construído ao custo de R$ 100 milhões, chegou a ter 700 empregados.
Foi nessa época que Eliana Tranchesi foi presa por sonegação fiscal e por vender produtos trazidos ilegalmente ao país. Foi o início do declínio da empresa. Nos anos seguintes, a companhia viu seu caixa se esvaziar e, por volta de 2010, a Villa Daslu era uma sombra do que fora em sua inauguração. Faltavam produtos, e as vendedoras já não tinham muito o que fazer, pois a clientela havia batido em retirada, conforme mostrou reportagem do Estadão à época.
Em 2010, a companhia entrou em recuperação judicial, com dívidas de R$ 80 milhões. Em 2011, pouco antes da morte de Eliana Tranchesi e do fechamento da megaloja na Marginal Pinheiros, a Daslu foi comprada, por R$ 65 milhões, pelo fundo Laep, de Marcos Elias, empresário que já enfrentou vários questionamentos na Justiça e que também foi dono da Parmalat no País.
No modelo de negócios posterior à sua megaloja, a Daslu tentou se reinventar como uma rede multimarcas com presença em shoppings, com unidades em São Paulo, Brasília e Ribeirão Preto (SP).
Mas o projeto também não deu resultado. Em 2016, a empresa foi despejada do Shopping JK por não pagar o aluguel (a conta chegava, à época, a R$ 3 milhões); problemas semelhantes ocorriam também em outros centros comerciais. Havia também comentários sobre dificuldades de pagar salários e que, apesar das injeções de capital que havia recebido, a dívida já era maior do que na época do pedido de recuperação.
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