Mercado é beneficiado com juro real, representado pela diferença entre a taxa básica de juros e a inflação, afirma Miragaya
Rafael Matsunaga/Flickr/Abril de 2007Quem viveu em um ambiente de inflação elevada sabe o quão ruim é visitar um estabelecimento e ver os preços em alta. O presidente do Cofecon (Conselho Federal de Economia), Júlio Miragaya, avalia que a inflação atual do Brasil, que fechou os últimos 12 meses até agosto em 8,97%, não está em um patamar de descontrole, como o observado no passado.
Miragaya garante que são os investidores os responsáveis por assustar as famílias com o atual rumor da alta desenfreada dos preços. Para ele, o setor cria uma expectativa por uma inflação mais baixa para ganhar dinheiro.
— O mercado financeiro cria esse terrorismo da inflação fora de controle para praticar uma política de juros elevados onde são eles que vão ganhar.
O economista explica que o setor financeiro se interessa por um reajuste de preços menor para se beneficiar com o chamado juro real, representado pela diferença entre a taxa básica de juros, atualmente em 14,25%, e o índice oficial de preços. Com isso, o presidente do Cofecon avalia que, quanto menor a inflação, maiores serão os lucros dos investidores.
— O mercado financeiro se interessa muito que a inflação seja baixa porque a taxa real de juros tende a ser maior e o ganho nas operações financeiras tende a crescer. Da mesma forma, não é por outro motivo que o mercado financeiro é aquele que mais bate na busca obsessiva pela meta da inflação.
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De acordo com Miragaya, o trabalhador não precisa se preocupar com o índice de preços acima do teto da meta porque receberão um reajuste salarial referente à inflação do período.
— A população acata esse discurso do mercado financeiro e não percebe que, na verdade, se trata de um jogo de interesse de uma minoria que ganha muito com essa cultura de que estamos assolados por uma inflação elevada.
O presidente do Cofecon também critica a “obsessão” do BC (Banco Central) em observar apenas o índice inflacionário na hora de tomar uma decisão a respeito da taxa básica de juros, que permanece há mais de um ano no patamar de 14,25%. Ele afirma que isso acontece justamente devido à pressão promovida pelo mercado financeiro e faz com que o Copom (Comitê de Política Monetária) deixe de lado o nível de desemprego e a evolução do PIB.
— Nosso Banco Central olha somente para a taxa de inflação. Não imposta se a taxa de desemprego explodiu para 11% ou se o nível de atividade despencou e está em queda de 3,5%. [...] É essa mistificação que se torna até nociva para a economia nacional.
Questionado sobre a atual meta de inflação do BC, de 4,5% com dois pontos percentuais de margem, Miragaya classifica o resultado como “muito difícil” de ser cravado em função da complexidade da economia nacional.
— A inflação na ordem de 1,5%, 2% é muito difícil em um país com o nível de complexidade alto, como o Brasil. Não adianta comparar o Brasil com determinadas economias desenvolvidas ou subdesenvolvidas menores, como o Chile, porque são economias que não têm a mesma complexidade do que a nossa.
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