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Problemas econômicos aumentam lotação de refeitório beneficente argentino

Economia|

Mar Centenera. Buenos Aires, 24 out (EFE).- Cresce a cada dia o número de pessoas que frequentam o refeitório popular Los Piletones, localizado em uma região pobre de Buenos Aires, entre elas "pessoas que têm trabalho, mas não ganham o suficiente", afirmou a fundadora do estabelecimento beneficente, Margarita Barrientos, que vê a Argentina à beira de uma nova crise. Alguns homens e mulheres, acompanhados por crianças das mais variadas idades, sentam-se ao meio-dia às longas mesas de madeira do refeitório e fazem desaparecer, em um piscar de olhos, o guisado de batatas, carne e arroz que as voluntárias põem em seus pratos. Outros fazem fila na porta do refeitório, com marmitas, panelas e potes, e os entregam aos voluntários do refeitório, que os devolvem cheios de alimentos, acompanhados por vasilhas de leite para os bebês. "Estou frequentando o refeitório há três meses porque o dinheiro que meu marido ganha não é suficiente", conta María, uma boliviana mãe de três filhos. "Os alimentos estão a cada dia mais caros. Por este motivo, uma vizinha começou a vir no início do ano, e há pouco tempo decidi passar a vir também", acrescenta ela, enquanto compartilha um prato com Nico, seu filho de um ano e meio, que ainda não vai à escola como os irmãos. "Com o que me dão, todos comem lá em casa", declarou Lucía, com uma panela cheia nas mãos. Ela vive com seu marido, quatro filhos e uma irmã a algumas quadras do refeitório, localizado em Los Piletones, no bairro Villa Soldati. No fundo da sala, um telefone fixo soa incansavelmente sobre a mesa redonda que serve de escritório de Barrientos. Ela o atende sem deixar de supervisionar a entrega de alimentos e cumprimentar os clientes. "Oferecemos comida a 160 famílias todos os dias: café da manhã, almoço e jantar", afirmou a vigorosa mulher de 53 anos, que inaugurou o refeitório em 1996 em um humilde edifício da vila, na época não havia água encanada nem rede de esgoto na região. "Nesses 18 anos, passamos por crises significativas. Embora não queiram admitir, estamos vivendo um momento em que há muita necessidade", denunciou Barrientos, alertando que "está tudo muito caro, é cada dia mais difícil sustentar uma família". Suas críticas contradizem a versão divulgada pelo governo presidido por Cristina Kirchner, que nega o aumento da pobreza refletido em pesquisas como uma feita pela Universidade Católica Argentina (UCA). Segundo a instituição, no final de 2013 pelo menos um a cada quatro argentinos estava em situação de pobreza, e 5% eram indigentes. A aceleração da inflação no último ano e a estagnação da economia argentina, que retrocedeu 0,2% no primeiro trimestre de 2014 e se manteve sem variação no segundo, apontam um novo aumento nas próximas estatísticas. Segundo Barrientos, "a necessidade não é o que te contam, mas o que se vê". Ela agradece a solidariedade dos que doam alimentos e roupas para que as pessoas de seu projeto "possam se alimentar e se vestir". Nascida na zona rural da província de Santiado del Estero, Barrientos chegou a Buenos Aires com apenas 11 anos, após a morte de sua mãe, seguida pelo abandono do pai. Aos 53 anos e mãe de dez filhos, seus anos de dificuldade ficaram para trás. O início de sua vida no subúrbio de Buenos Aires foi duro. Na época, ainda menina, "ia trabalhar todos os dias às cinco da manhã" acompanhada pela irmã e ainda cuidava de crianças mais novas. Com muita perseverança e graças às doações de milhares de pessoas, Barrientos conseguiu abrir, nas imediações, um centro de saúde, dois jardins de infância, uma casa de repouso diurna para idosos, uma biblioteca, uma oficina de costura, outra de carpintaria e, recentemente, uma orquestra de instrumentos de corda, conta com orgulho. Blocos de edifícios recém-construídos e os trabalhos de asfaltamento das ruas mostram o processo de transformação pelo qual a vila está passando. "A transformação das vilas em bairros é o melhor que pode acontecer", disse, feliz por "ver o crescimento apesar da crise" e convencida de que "há muito futuro para nossos jovens". "Espero que em um futuro não muito distante, os refeitórios não precisem mais existir. Eu sempre digo que é necessário haver trabalho digno para o povo. E as pessoas devem poder escolher o que querem comer", concluiu. EFE mcg/lvp/id (foto)(vídeo)

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