Por Luciano Costa
SÃO PAULO (Reuters) - Responsável por um dos linhões que escoará a produção das hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, que estão sendo construídas em Rondônia, a transmissora NBTE gastou 7 milhões de reais em reforços na segurança e em reformas após ter tido 18 torres de transmissão derrubadas por vândalos nos últimos meses, em uma situação que tem atrasado a conclusão do empreendimento, afirmou um diretor.
Os problemas no linhão, que tem 2,4 mil quilômetros e levará a energia das usinas do rio Madeira até o Sudeste do país, têm causado restrições de geração nas usinas, que já possuem máquinas operando e desde dezembro não podem injetar na rede toda a produção. O caso já vem sendo investigado pela polícia.
"A linha está há quase 60 dias atrasada, mas iniciamos os testes na quarta-feira. Agora há uma série de testes... também contratamos uma empresa de vigilância para fazer rondas e eles estão ainda adquirindo drones para fazer um monitoramento de trechos da linha por filmagens, em tempo real", afirmou à Reuters o diretor técnico da NBTE, Amaury Saliba.
A transmissora tem como sócios a espanhola Abengoa e a estatal Eletronorte, da Eletrobras.
O diretor da Associação Brasileira de Companhias de Energia (ABCE), Carlos Ribeiro, que tem acompanhado o caso de perto, explicou que a derrubada das torres paralisou testes nas linhas ainda em outubro.
"Nesses últimos tempos, de chuva, houve aumento significativo da vazão em Jirau e Santo Antônio, e entrada em operação de mais máquinas... passou a realmente haver uma situação de geração disponível maior que a capacidade de transmissão".
De acordo com Ribeiro, que foi diretor de Operação do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), cerca de 1.000 megawatts poderiam estar sendo gerados se não fosse a situação das linhas.
"Não é algo tão significativo, mas dentro de um cenário em que o país vem de uma seca muito grande, na qual o nível dos reservatórios caiu muito, toda energia é importante", apontou.
O linhão da NBTE terá uma capacidade de transmissão de cerca de 3 mil megawatts.
Atualmente, a maior parte da energia das usinas do Madeira é escoada por um outro linhão para o Sudeste, paralelo a esse, com a mesma capacidade. Outra parte é direcionada à rede local.
Somadas, as hidrelétricas representam mais de 7 mil megawatts em potência e estão entre as maiores do Brasil.
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MOBILIZAÇÃO CONTRA ATAQUES
Segundo Amaury Saliba, da NBTE, os primeiros ataques às instalações aconteceram no final de 2014, e houve uma intensificação em 2015. No final do ano, a empresa participou de uma reunião em que pediu apoio às autoridades de segurança de Rondônia.
Representantes da Polícia Civil e da Polícia Militar da região confirmaram à Reuters a ocorrência das depredações de torres e a existência de uma investigação sobre o caso, mas disseram não ter autorização para divulgar mais informações.
Saliba afirmou que a NBTE, além de apostar em um aumento da segurança e precisar reconstituir as torres, também teve gastos para quitar passivos trabalhistas de uma subcontratada da obra. De acordo com o executivo, havia suspeitas de que dívidas da empresa junto a trabalhadores pudessem estar por trás das ocorrências.
Ele disse que desde o pagamento e a intensificação da segurança não houve mais ataques. "Mas tenho medo que volte a acontecer se a vigilância parar, e quando Jirau e Santo Antônio estiverem em plena geração, isso poderia complicar".
O diretor preferiu não fazer estimativas sobre a entrada em operação da linha em definitivo.
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