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Escola da rua: professor ensina filosofia na fila do Bom Prato

Ação faz parte de um projeto que propõe troca de conhecimento em todo e qualquer lugar

Educação|Mariana Queen Nwabasili, do R7

As palestras fazem parte de um projeto chamado Escola de Rua
As palestras fazem parte de um projeto chamado Escola de Rua As palestras fazem parte de um projeto chamado Escola de Rua

Na última terça-feira (26), a fila do Bom Prato da rua 25 de março, na cidade de São Paulo, foi palco de uma aula inusitada de filosofia, ministrada pelo professor Diego Macedo.

— A ostra é um molusco, um animal invertebrado que consegue gerar uma substância chamada madrepérola quando grãos de areia caem dentro de suas conchas e irritam o seu interior. Por meio da dor, as ostras criam a madrepérola.

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Aos vinte e cinco anos de idade, este carioca resolveu levar o conhecimento que acumulou na escola e na faculdade de psicologia para as ruas.

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Enquanto ele falava na porta do restaurante, algumas pessoas, que esperam para comer uma refeição completa pela bagatela de R$ 1, prestavam atenção. Outras, que nem estavam na fila, aproximaram-se para escutar.

— Na vida, nós, seres humanos, não podemos gerar madrepérolas, mas podemos fazer poesia. Porque poesia não é só escrever, também é pegar a sua dor e transformar em um texto bonito, expressivo.

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As palestras fazem parte de um projeto chamado Escola de Rua, que propõe uma escola sem paredes, onde as atividades acontecem em todo lugar e podem ser regidas por diversos facilitadores interessados em transmitir algo que sabem a pessoas desconhecidas. As salas de aula são as filas, os parques e lugares públicos das grandes cidades. 

Nietzscheem dois minutos

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A ideia é que, bem como os locais onde são dadas, as aulas tenham formatos acessíveis e simplificados. 

— Falar do filósofo Nietzsche, por exemplo, pode complicar o entendimento. Mas eu não deixo de falar dele, quando eu vou falar sobre piedade, por exemplo. Eu sei que Nietsche fala sobre o tema, mas eu não chego a abordar a sua teoria. Eu falo sobre piedade nas filas dando exemplos que estão acontecendo naquele momento, sem deixar de ser filosófico.

Diego explica que a exposição dos assuntos precisa ser rápida: são necessários entre dois e três minutos para passar uma ideia. A abordagem sucinta responde ao ritmo das filas e das pessoas nela.

— Na primeira vez que falei, deu tudo errado, porque eu não sabia o ‘timing’ da fila e em quanto tempo as pessoas iam recomeçar a andar. Então eu falava os temas, e as pessoas iam andando. Precisei pensar em como expor ideias num tempo menor. 

Projeto de vida

Morando em São Paulo desde maio deste ano, Diego veio fazer cursos de empreendedorismo e precisou pensar em alternativas de atuação que lhe trouxessem prazer e, ao mesmo tempo, o ajudassem a permanecer na cidade.

— Perguntei para mim mesmo: ‘Qual a arte que posso transmitir para as pessoas e que pode render algum dinheiro para ajudar a me manter na cidade?’. Eu sabia dar aulas e resolvi fazer isso nas filas dos restaurantes Bom Prato, que eu já estava frequentando.

Para tornar seu projeto viável e não depender apenas das colaborações — muitas vezes tímidas — das pessoas nas filas, Diego escreveu o Escola de Rua no site de financiamento coletivo catarse.me. A intenção é que cada dia de aula nos espaços abertos da cidade seja financiado por R$ 100.

Até o momento, 79 apoiadores contribuíram com R$ 3.100. Com o dinheiro, ao menos mais 30 aulas já estão garantidas. 

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