MEC desenvolveu material didático de formação para professores sobre cultura da África
Reprodução/ Daily MailUma maneira eficar de fazer as editoras abordarem a história da África e da cultura afro-brasileira de maneira estrutural nos livros didáticos é melhorar a produção e a distribuição de materiais específicos do MEC (Ministério da Educação) para a formação de professores sobre este tema.
Segundo Macaé, secretária da SECADI (Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão) do MEC, o governo já viabilizou a tradução de oito edições de livros da coleção História Geral da África.
A coleção foi criada por mais de 350 especialistas de diversas áreas do conhecimento, sob a direção de um Comitê Científico Internacional formado por 39 intelectuais, sendo dois terços deles africanos.
O MEC também fez cadernos temáticos ensinando aos professores como usar a produção. No último ano, foram entregues os cadernos voltados para a educação infantil.
— Estamos produzindo os cadernos do ensino médio e vamos lançar, ainda este ano ou no ano que vem, o caderno para professores do ensino fundamental. Além disso, estamos trabalhando na tradução do nono livro da coleção História Geral da África, conta a secretária.
África e cultura negra aparecem com restrições nos livros didáticos
Formação
Para educadores, a persistência de problemas de abordagem – ou mesmo a falta dela— sobre a história da África e cultura afro-brasileiro nos livros didáticos e nas salas de aula tem relação com a formação e a informação quanto aos temas.
Marcelo d´Salete professor de artes visuais na Escola de Aplicação da USP (Universidade de São Paulo), localizada na zona oeste da capital paulista, conta que sua formação para a abordagem desses assuntos na escola veio por um interesse particular.
— Mas além da iniciativa própria, é preciso pensar em novas grades curriculares nos cursos universitários. Não podemos continuar apenas ensinando uma versão única dos fatos e da história.
A percepção é confirmada nos apontamentos presentes no livro "Práticas Pedagógicas de Trabalho com Relações Étnicorraciais na Escola na perspectiva da lei 10.639/03". O estudo foi lançado em 2012 e realizado por docentes e pesquisadores da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), em parceria com o MEC e a Undime (União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação).
Segundo a pesquisa, por vezes, as abordagens sobre a África nas salas de aula ficam restritas às iniciativas de professores autodeclarados negros e com licenciatura nas áreas de história e artes. Outras vezes, as temáticas indicadas pelas leis ficam restritas a atividades que têm tempo de duração e período específicos.
Aplicação da lei que valoriza cultura negra depende dos Estados e municípios, diz MEC
A diretora de uma escola pública da cidade de Colíder, no Mato Grosso, entrevistada pelos pesquisadores diz que sua formação acadêmica e seu reconhecimento como negra influenciam para a realização de atividades sobre a África e os negros em sua escola. A biblioteca da instituição tem um espaço razoável para estudo e conta com referências bibliográficas sobre a temática étnico-racial.
— Eu sou uma autodidata, eu não paro de trabalhar, então, quando eu comecei a estudar, a fazer muitos cursos na psicologia, na psicanálise, [na área] do comportamento humano, vi que o preconceito desestrutura a pessoa, diminui a autoestima, diz a diretora.
O estudo mostra os resultados de uma pesquisa amostral feita entre os anos de 2009 e 2012 em 39 escolas públicas de todas as regiões do Brasil. Foram entrevistados cerca de 500 pessoas negras e brancas do meio escolar e educacional, entre docentes, gestores e estudantes.
Formas de abordagem
Muitos professores trabalham os assuntos relacionados à África e aos negros de forma esporádica, dando mais enfoque nas semanas que antecedem o Dia da Consciência Negra, 20 de novembro, ou o 13 de maio, dia em que foi abolida a escravidão em 1888 e quando é celebrado o Dia Nacional de Luta contra o Racismo.
Porém, a pesquisa do MEC indica que as discriminações existentes nas escolas podem ser fator de motivação para a implantação de atividade que abordem os conteúdos durante o ano todo.
Foi o que fizeram os docentes da Escola de Aplicação da USP. Desde 2005, um grupo de professores da instituição se reúne semanalmente para organizar atividades para tratar dos temas previstos na lei 10.645 nas aulas. Marcelo faz parte do grupo e conta que as atividades do projeto envolvem diversas disciplinas.
— As ações acontecem nas aulas regulares em diferentes épocas do ano, mas também mantemos atividades especiais na semana da África, em maio, e na semana da consciência negra, em novembro. Consideramos importante discutir esse tema em diferentes momentos do ano.
O professor e artista plástico avalia que as iniciativas geram resultados muito positivos entre os alunos.
— Em uma sequência didática específica sobre a visão dos alunos do 6º ano a respeito da África, por exemplo, foi possível notar que eles saem das aulas com uma visão diferente do continente, não apenas marcada pelos estereótipos de guerra e miséria, geralmente abordados na mídia.
São Paulo
Segundo o secretário da Educação de São Paulo, Herman Voorwald, no Estado, a Coordenadoria de Gestão da Educação Básica faz o acompanhamento da implantação da lei nas escolas, supervisionando as diretorias de ensino.
— Esse acompanhamento é feito por supervisores que atuam diretamente nas escolas com os professores coordenadores. Nós estamos trabalhando esse tema nas escolas. Ele está no nosso currículo do Estado e no material didático, faz parte das ações da Secretaria.
Ele também analisa que País tem uma história de mais de três séculos de escravidão como um marco que exige da área pública responsabilidade social. Para Voorwald, só assim será garantido que a história "que de fato ocorreu seja passada para as crianças, bem como conteúdos sobre o holocausto, por exemplo".
— Essas questões têm que estar todos os dias na pauta para que não voltem a acontecer, completa o secretário.