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É isso mesmo o que você leu: a Universidade de Ciências Aplicadas de Haaga-Helia, na Finlândia, é a primeira do mundo que não tem aluno, professor e muito menos sala de aula. Difícil de entender? O educador Jarmo Ritalahti, do campus de Porvoo, explica:
— Podemos dar um livro de 300 páginas para um aluno ler e ele lê. Mas logo esquece. Temos a visão de que o aluno só estuda, e não queremos bem isso. Queremos aprendizes. Ao mesmo tempo, o professor também aprende aqui, e então ninguém é autoridade do saber. Portanto, não temos aluno ou professor. Temos aprendizes, sendo alguns deles preparados para agir como técnico orientador.
Deste princípio, o campus da Universidade de Haaga em Porvoo, a 50 km da capital finlandesa, Helsinque, também aboliu a sala de aula e estabeleceu "espaços de aprendizado". Gostou? Então veja como estudar lá
Felippe Constâncio, do R7, enviado à Finlândia*Felippe Constancio, do R7
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Não há qualquer universidade no mundo com um sistema de ensino similar ao oferecido no campus da Universidade de Haaga-Helia em Porvoo, garante Jarmo.
— Perguntamos para 52 companhias quais eram as principais deficiências em seu quadro de profissionais e percebemos pontos em comum. Vimos o trabalho em equipe, as habilidades de relacionamento profissional, o poder de negociação e de comunicação e a "manha" de tirar mais proveito das coisas como principais demandas do mercado.
Os projetos semestrais mais propostos pelas empresas aos coordenadores dos cursos estão relacionados ao conhecimento nas áreas de marketing, turismo, eventos e produtividadeFelippe Constancio, do R7
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A dificuldade de encontrar profissionais nas exigências das empresas não é um desafio exclusivo da Finlândia. No Brasil, o mercado também impõem ao profissional obstáculos que vão além do conhecimento teórico das disciplinas, conforme lembra a diretora do Instituto Crescer, Luciana Allan.
— O que o mercado busca? O profissional com todas as competências. É ter jogo de cintura, ter iniciativa e criatividade para projetos. O profissional tem que mostrar que consegue fazer com poucos recursos.
A boa notícia é que a educação de excelência das universidades finlandesas nunca esteve fora do alcance dos brasileiros. No país, é proibido cobrar pela educação superior. Ou seja, o brasileiro que quiser estudar em Haaga, no campus de Porvoo, pode — veja como estudar de graça em universidades da FinlândiaFelippe Constancio, do R7
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Jarmo explica que cada aprendiz recebe um computador ao ingressar na universidade. O equipamento é ganho ao final do curso, a menos que o estudante não seja aprovado para o próximo ano.
— O computador é dele, sim. E isso vale para qualquer curso. Mas, mesmo assim, temos algumas salas com computadores por conta de certos programas. Alguns softwares de reserva de hotéis, usados nos estudos em turismo, por exemplo, são extremamente caros. Então, temos recurso específicos apenas nos computadores de mesaFelippe Constancio, do R7
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O educador conta que toda a arquitetura local foi planejada de acordo com a proposta pedagógica da universidade. A sala dos professores foi abolida, não só porque a universidade entende que não tem professores, mas também porque os educadores devem ser acessíveis, conta Jarmo.
— Basta olhar e ver. "Ah, ele está ali". Não tem sala permanente.
O que não quer dizer que conversas particulares sejam impossíveis. Apesar de ter cerca de 1.400 alunos, o campus de Haaga em Porvoo tem espaço interno de sobra e uma área reservada pode ser facilmente encontrada em algum dos quatro andares do prédioFelippe Constancio, do R7
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Todos os espaços de aprendizado têm ao menos uma parede de vidro. A ideia é mostrar não só que lá estão aprendizes articulando pensamentos e compartilhando ideias, mas também quem está envolvido no tema. Para Jorma, é uma questão de transparência
Felippe Constancio, do R7
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Jorma conta que até as cores das salas têm um propósito. Salas vermelhas são usadas para estimular equipes, enquanto as cores mais brandas preenchem as salas reservadas à concentração e até mesmo à soneca, na "sala do silêncio"
Felippe Constancio, do R7
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Jorma explica que a disposição dos espaços e o princípio de equidade entre aprendizes e técnicos orientadores criam uma relação mais próxima entre as pessoas.
— A ideia é respeitar as circunstâncias das pessoas. Sabemos que não é todo o dia que temos o melhor delas e que todos nós temos bons e maus dias
Acima, foto da biblioteca do campusFelippe Constancio, do R7
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Apesar de ter sala até para um cochilo, nem tudo são flores no campus de Porvoo. A instituição aplica provas, e, de acordo com o sistema do campus, a responsabilidade de estudar é aprendiz, alerta Jorma
Felippe Constancio, do R7
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A universidade tem também um campus em Helsinque, na capital da Finlândia
* O jornalista viajou a convite do Ministério das Relações Exteriores da FinlândiaFelippe Constancio, do R7