No documentário do cineasta Carlos Pronzato, estudantes falam sobre a experiência dentro das escolas de São Paulo
ReproduçãoA educação do Estado de São Paulo em 2015 foi marcada pelas ocupações nas escolas estaduais. Jovens se manifestaram contra o projeto de reorganização escolar apresentado pelo governo — que acarretaria no fechamento de unidades e na transferência de milhares de estudantes — e fizeram um tipo de protesto até então inédito no Brasil. Após a ocupação de mais de cem escolas no Estado, o governo voltou atrás e adiou a reorganização da rede.
A ação dos secundaristas de São Paulo chamou a atenção do cineasta argentino Carlos Pronzato, conhecido por seu documentário A Rebelião dos Pinguins (2007), que fala sobre a mobilização estudantil ocorrida no Chile. Assim, ele fez o seu mais novo filme: o documentário Acabou a paz, isso aqui vai virar o Chile. O trabalho de Pronzato, dessa vez, mostra como foram feitas as ocupações e manifestações em São Paulo.
Ocupações aconteceram após a imposição da reorganização escolar
ReproduçãoO cineasta mora no Brasil desde 1989 e afirma que, como seu trabalho já tinha sido visto pelos estudantes, que conheciam e se inspiraram em seu filme sobre o Chile para o movimento em São Paulo, seu contato com os jovens ficou muito mais fácil.
— Foi o filme dos pinguins [que facilitou o trabalho]. Eu chegava nas ocupações e entrava. Tinha passe livre.
No documentário, ele conversa com estudantes que foram símbolo da luta dos secundaristas, pais, professores, especialistas e jornalistas. Segundo o cineasta, este mais novo trabalho mostra a sua interpretação dos fatos e do que estava acontecendo naquele momento.
Já que trabalha com temas relacionados aos movimentos sociais, Pronzato conta ao R7 que as ocupações em São Paulo foram “uma resposta a uma quantidade de opções negativas que o governo dá”.
— A gente sabe que por trás de tudo isso está a privatização do ensino e as ocupações mostraram que a educação é fundamental. Abriu outros horizontes e falaram de temas que nunca foram falados antes.
Como viu de perto a luta de estudantes do Chile e do Brasil, o cineasta diz que as duas ações têm “tudo a ver” e podem se comparar em alguns fatos como a apropriação do espaço de ensino e ajuda de mães e pais dos jovens. Além disso, ele destaca a violência policial encontrada nos dois casos.
— No que diz respeito a repressão, no Chile é bastante pior. Aqui tem que ter um tipo de faísca, um estopim. Lá é muito mais constante e tem uma tradição de um País mais militarizado. Mas aqui a polícia fica totalmente perdida. Eles [policiais] são completamente despreparados.
Pronzato diz que, dentro das ocupações, ele também aprendeu muito com os jovens. Segundo ele, esse deveria ser “o caminho de como deveria ser a política”, em que todos podem se manifestar abertamente.
— E também esse companheirismo que eu vejo nesses episódios me alimenta e vai me inspirando para novos trabalhos. A gente sempre aprende. O que eles aprenderam de importante dessa convivência, eles nunca vão esquecer.
O documentário sobre as ocupações pode ser visto no YouTube. Isso, para o cineasta, ajuda na divulgação do filme e faz com que mais pessoas tenham acesso ao seu trabalho.
Assista ao documentário completo: