Maior preocupação é com a falta de conscientização dos candidatos
Leandro Ferreira/Fotoarena/Estadão Conteúdo – 10.01.2021Após o TRF-3 (Tribunal Regional Federal da 3ª Região) ter negado na quarta-feira (14) o pedido da Defensoria Pública da União para adiar o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), ficou mantido que o exame será aplicado, como previsto, nos dias 17 e 24 de janeiro em mais de 1,7 mil cidades de todo o país, seguindo protocolos de higiene e segurança contra a covid-19.
Segundo o site do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), o órgão responsável pela prova, além de os candidatos terem de usar máscaras durante todo o tempo e higienizar as mãos com álcool gel antes de entrar nas salas, as escolas serão higienizadas antes da aplicação do exame e haverá distanciamento entre os estudantes – aqueles considerados do grupo de risco, por sua vez, serão alocados em salas especiais.
Para o infectologista Carlos Fortaleza, da SPI (Sociedade Paulista de Infectologia), as medidas apontam na direção correta, mas não são suficientes para evitar por completo a disseminação da covid-19 – sobretudo se não houver um "cuidado pessoal imenso" dos candidatos nesse sentido.
"Não adianta nada ter toda uma infraestrutura se os candidatos ficarem fazendo aglomeração na esquina da escola para discutir a prova – e, infelizmente, considerando o que eu tenho visto nos vestibulares, acho bastante provável que isso ocorra", afirma.
"O que tem acontecido é que em quase todos os lugares, as pessoas só põem máscara quando precisam, para entrar em uma loja, por exemplo, onde o uso é obrigatório, mas tiram logo ao sair", completa.
A infectologista Marinella Della Negra, da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia) concorda. Para ela, se todos os protocolos estipulados forem cumpridos, o risco de disseminação da doença é "calculado".
"Não existe medida 100% eficaz. Isso já se sabe. Há pessoas que ficaram em casa o tempo todo e ainda assim se infectaram. O que está sendo proposto são medidas dentro do esperado e que a sociedade médica aconselha."
"Suficiente mesmo seria se cada um ficasse em uma sala – mas se você analisar a situação do Brasil, as pessoas estão se aglomerando em tudo quanto é lugar. É, no mínimo, hipócrita, agir desta forma e condenar o Enem. Se esse país tivesse levado essa pandemia a sério desde o início, nós não estaríamos hoje nessa situação", completa.
A questão é polêmica. Mais de 45 entidades científicas – entre elas a SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, a Anped (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação e a Abrasco (Associação Brasileira de Saúde) – publicaram na última sexta-feira (7) uma carta endereçada ao ministro da Educação, Milton Ribeiro, em que expressaram preocupação pela realização do exame diante do aumento do número de casos no país.
"É necessário adiar o Enem e é urgente que secretarias estaduais de educação coordenem planejamentos para garantir as condições pedagógicas e sanitárias para que todos os estudantes participem do Enem", afirma um trecho do documento.
Para Fortaleza, a preocupação é legítima. Apesar disso, o prognóstico pessimista para os próximos meses o leva a crer que manter as datas do exame seja, de fato, a alternativa menos pior.
"Os modelos sugerem que fevereiro e março serão bem piores. Mesmo que se faça uma campanha de vacinação fantástica, isso só começaria a dar resultado por volta de maio", diz. "Quanto antes fizermos o Enem, menores são as chances de aplicar o exame diante de uma situação de calamidade pública completa."
*Estagiária do R7 sob supervisão de Karla Dunder