Marina Silva avisa: "Vamos perguntar mais e responder menos"
DivulgaçãoEmbora qualifique a atual campanha eleitoral como “baixo nível e sórdida”, devido aos ataques que Marina Silva vem recebendo dos adversários, o candidato à vice-presidente da República pelo PSB, Beto Albuquerque, inaugurou nesta terça-feira (30) a nova estratégia do partido para a reta final do primeiro turno: lançar ataques aos rivais, principalmente à presidente e candidata à reeleição, Dilma Rousseff (PT).
“Vamos pra cima da Dilma. Ela é cheia de contradições”, disse Albuquerque ao final de ato de campanha ontem em São Paulo.
O deputado gaúcho confirmou a “mudança de postura”, explicando como a campanha será “mais agressiva” com a petista.
— Vamos perguntar mais e responder menos.
A mudança de rota se deve à queda da candidata nas pesquisas eleitorais, embora o partido continue afirmando, oficialmente, que as “qualitativas internas” colocam Marina Silva no segundo turno, como declarou ontem o coordenador geral da campanha, Walter Feldman.
A situação da candidata, no entanto, é cada vez mais arriscada. Ela ainda é apontada como a principal rival da presidente nessa eleição, mas a distância para a presidente não para de crescer, chegando a 14 pontos, no Ibope (39% a 25%), e 15 no Datafolha (40% a 25%). O candidato do PSDB, Aécio Neves, também está cada vez mais perto, com diferença de 6 pontos, no Ibope, e 5 no Datafolha.
Marina já colocou a estratégia em prática na terça, quando subiu o tom das críticas e acusou a presidente de mentir sobre os "roubos" na Petrobras.
— Não venha me chamar de mentirosa. Mentira é quem diz que não sabe que tinha roubo na Petrobras. Mentira é quem diz que não sabe quem está cometendo a corrupção nesse País.
Contradições dilmistas
O objetivo do PSB agora é fazer o mesmo que a presidente fez com Marina no debate da TV Record e do R7 do último domingo. Na ocasião, Dilma questionou os votos da ex-senadora sobre a CPMF (antigo imposto sobre movimentações financeiras), durante a tramitação do projeto no Congresso na década de 1990.
Para isso, Albuquerque buscou declarações de Dilma sobre a autonomia do Banco Central e os leilões da faixa pré-sal do petróleo, feitas em 2010, para compará-las com o discurso atual da presidente.
“Dilma, na campanha de 2010, disse a [José] Serra [candidato do PSDB]: 'A melhor solução para a economia é a autonomia do Banco Central'. Agora Dilma diz: 'Não, Marina, a autonomia do Banco Central não é a melhor coisa'. Afinal, qual é a Dilma? A de 2010 ou a de 2014?”, ironizou o deputado gaúcho ontem, durante discurso para cerca de cem simpatizantes e correligionários de sua coligação.
A autonomia do Banco Central foi um dos temas mais comentados na atual eleição, já que Marina Silva defende a independência da instituição por meio de uma lei. Dilma aproveitou a proposta para, em propagandas no rádio e na TV, acusar a rival de querer entregar aos banqueiros as decisões econômicas do País, “um poder que é do presidente e do Congresso, eleitos pelo povo”.
Em 2010, no entanto, a presidente defendeu que a “autonomia operacional” do BC era “importantíssima”, durante entrevista à CBN. Neste ano, Dilma afirmou que o banco já “tem autonomia operacional” e não precisa de “independência”.
Albuquerque também criticou o leilão da maior bacia petrolífera do Brasil, o campo de Libra.
— Em 2010, Dilma disse: 'Não privatizarei o pré-sal'. Pois venderam o maior poço de petróleo do mundo por R$ 15 bilhões. (…) Ela disse que não faria, e fez. Quem está em contradição?
Na campanha presidencial anterior, Dilma afirmou, em sua propaganda na TV, que “ é um crime privatizar a Petrobras ou o pré-sal”.
No ano passado, o campo de Libra foi arrematado por um consórcio formado pela Petrobras, pelas estatais chinesas CNPC e CNOOC, pela anglo-holandesa Shell e pela francesa Total por R$ 15 bilhões, mais 41,65% do petróleo produzido após descontados os custos de produção (o chamado lucro-óleo).
A ideia é manter a agressividade dos ataques nos últimos quatro dias de primeiro turno, incluindo o debate de quinta-feira (2) da TV Globo, o último antes das eleições de 5 de outubro.