Sâmia Bomfim (PSOL) e Fernando Holiday (DEM) serão a mulher e o homem mais jovens da Câmara
Montagem/ReproduçãoO estudante e membro do MBL (Movimento Brasil Livre) Fernando Holiday (DEM), de 20 anos, e a servidora e militante Sâmia Bomfim (PSOL), de 27 anos, são o homem e a mulher mais jovens que irão ocupar cadeiras na Câmara de Vereadores de São Paulo no próximo ano. Apesar de divergirem ideologicamente de forma extrema, ambos têm outras coisas em comum, além do título de mais jovens e terem sua vida política iniciada em movimentos sociais.
Sâmia e Fernando fazem parte de grupos de minorias de direitos, ela por ser mulher e ele por ser preto, pobre, gay e periférico. Ambos já foram expulsos da câmara por protestarem contra solenidades feitas pela casa. Holiday teve que ser retirado quando se colocou contra uma homenagem a Fidel Castro e, em outra ocasião, a PM (Polícia Militar) retirou Sâmia à força da câmara quando um deputado comemorava de forma oficial a retirada do debate de gênero nas escolas. Outras coincidências entre os dois foi a surpresa, ele por ter recebido 48 mil votos e ela, por ser jovem, mulher e feminista, ter sido eleita.
Mas as coincidências não acabam por aí. Mesmo com ideais políticos e sociais e promessas de atuação divergentes, Sâmia e Holiday querem fazer história.
O R7 conversou com os eleitos a vereadores. Veja como a juventude pretende agir na Câmara.
R7 - Como você se sente sendo o homem/mulher mais novo na câmara?
Holiday - Só tenho 20 anos e recebi 48 mil votos. Não esperávamos toda essa quantidade. É um mandato na maior capital da América Latina. Junto com a felicidade vem o sentimento de responsabilidade. Nos elegemos por meio das redes sociais e pelas manifestações contra o governo do PT e isso também é uma novidade.
Sâmia - Estou surpresa com essa eleição. O espaço institucional não é um terreno comum para nós das lutas sociais, mobilizações populares e movimentos feministas. As instituições são minhas inimigas. É importante ser a mulher mais jovem na Câmara porque pode oxigenar o espaço e mostrar a vitória dos movimentos sociais e da luta feminista.
R7 - O que muda na sua vida pessoal ganhando R$ 15 mil bruto por mês?
Holiday - Antes de mais nada é trazer minha mãe, que mora em Carapicuíba, para morar em São Paulo e eu voltar a morar com ela [Holiday mora em um mezanino no escritório do MBL]. Por outro lado, não pretendo ter nenhum tipo de vida luxuosa ou coisa do tipo. Quero tentar otimizar os recursos e tudo que puder abrir mão eu vou abrir. Pretendo fazer dois cortes nas verbas, um de 30%, na verba de gabinete, e outro de 20% no meu salário, que será doado para instituições. Se sobrar muito, ainda vou aumentar esses cortes.
Sâmia - Minha vida não mudará. Não entro para a política para ter privilégios ou para ficar rica. Meu cargo será uma trincheira de resistência do governo Doria, Alckmin e Temer. Continuarei morando onde eu moro [em Pinheiros]. É importante abrir mão de privilégios e regalias, mas precisamos mudar o jogo político. Mudar as regras do jogo, porque não tem que parecer uma caridade exclusiva de um político. Vou levar essa provocação para que políticos não tenham nenhum privilégio, inclusive eu.
R7 - Você faz parte de grupos considerados como minorias de direitos. Há planos de elaborar projetos voltados à essa parte da população?
Holiday - A minha diferença é que não pretendo tratar essas pessoas de forma diferente. Elas não devem ter direitos a menos e nem a mais. São cidadãos como qualquer outros e devem ser livres de preconceito. Acredito que o melhor método de combate ao racismo e ao grupo LGBT é vencer por meio dos próprios méritos e não procurar migalhas por meio de Estado.
Sâmia - A mulher é um dos temas centrais. Aposto que a maioria dos meus eleitores é mulher, apesar de não puder aferir. O principal tema é a violência contra essa população. Quero fazer planos de combate à essa violência e de acolhimento. Essa transformação começa na escola, que deve ensinar o respeito à diversidade. Pretendo fazer campanhas em vias públicas de combate à violência, criar espaços culturais de conscientização, formar servidores e servidoras com olhar para o respeito e a diversidade e criar centros de referência para vítimas de violência, além de casas, abrigos que recebam essas vítimas.
R7 - Você já foi retirado (a) da Câmara. Pretende manter posturas incisivas diante do que não concordar?
Holiday - Minha posição enquanto vereador será diferente. Agora é de igual para igual. Há outros meios menos incisivos. Uma das minhas propostas é a proibição de sessões solenes a personagens que atentem contra à democracia e aos direitos humanos. Não é uma proibição do discurso, mas não se deve gastar tempo e dinheiro da casa com isso. Agora, tenho outros meios de protestar.
Sâmia - Acredito que terei que ser cada vez mais combativa aos fundamentalistas e conservadores. E pra isso vou manter o diálogo com os movimentos populares, encher a câmara com a voz popular. Vou potencializar lá dentro as manifestações populares.
R7 - O que considera de mais positivo dentro do seu partido?
Holiday - Escolhi o DEM porque ele me ofereceu espaço e liberdade para defender meus ideais e os do MBL. Minha fidelidade é com o movimento. O partido é secundário. Eu mudarei de partido se for preciso para defender o que eu acredito.
Sâmia - Gosto de varias coisas. É um partido democrático. As possibilidades de construção internas são boas. É um partido combativo, como mostra figuras como Jean Willis e Ivan Valente. É ético e sem envolvimento algum com corrupção.