"Temer deu uma rasteira na Dilma e ela vacilou", diz Altino
DivulgaçãoApesar da baixa possibilidade de vencer as eleições municipais em São Paulo, o candidato do PSTU, Altino de Melo Prazeres Júnior, sabe bem o que quer com a sua candidatura: "construir uma opinião socialista dos trabalhadores".
Em entrevista exclusiva ao Portal R7, Altino discutiu suas propostas para a cidade e avaliou a conjuntura política nacional.
O candidato diz que, se eleito, não vai fazer o papel de conciliador entre patrões e empregados. Para ele, o seu "lado" já está claro: vai governar para os mais pobres e não vai priorizar os ricos. "Eu quero tirar esse lucro deles", diz quando o assunto são os empresários.
Caso vença nas urnas, sua gestão não será menos polêmica. Ele afirma que terá como prioridade a suspensão de pagamentos da dívida do município com a União, para acabar com a política a que chama de “Robin Hood ao contrário”.
Leia os principais trechos da entrevista:
R7: Qual é o mote de sua campanha e qual será a principal marca de seu governo caso ganhe as eleições?
Altino: O principal mote que o PSTU está trabalhando nestas eleições é um tema nacional que, na nossa opinião, interfere na vida das pessoas mesmo no terreno do município. Por exemplo, os ataques que estão tendo agora [contra o trabalhador]. Estamos usando esse logo aqui: "Fora Temer, fora todos eles". Esse é o principal mote da nossa campanha. No fundo, é um balanço do governo do PT, que ao nosso ver foi negativo. E a tomada do Temer, que também é negativa. Na nossa opinião, a Dilma tinha que ter saído, mas o Temer também. E o Congresso é corrupto também. Queremos eleições gerais sobre novas regras. Do ponto de vista do município, nosso principal mote é: suspensão imediata do pagamento da dívida do município com a União, porque a União repassa para os banqueiros. Então, a gente fala que é um Robin Hood ao contrário. Você tira da população de São Paulo, passa para a União, que passa para os banqueiros. E os banqueiros são os maiores agiotas do planeta. Além de, imediatamente, abrir uma auditoria.
R7: Vocês acreditam em eleições como uma saída para a crise política?
Altino: Estamos falando sobre eleições gerais, mas sob novas regras. Por qual motivo? Porque do jeito que é formado, não é democrático. Porque as pessoas não têm direito de ver as diversas opiniões e escolher entre as diversas opiniões. Na verdade, as pessoas têm direito de ver as opiniões majoritárias e vão escolher entre eles. Em segundo, como nós não recebemos dinheiro de empresas e não aceitamos receber, nós nunca vamos conseguir. Então, não é democrático. E nós achamos que as mudanças reais que aconteceram na sociedade, desde sempre, foram através das mobilizações nas ruas. O resto é um jogo de ilusões.
R7: Nesse caso, vocês entrariam pelo voto e depois abririam para a população?
Altino: Esse seria um dos motes. Uma das medidas imediatas que aconteceria, se nós assumíssemos a prefeitura, seria a forma de governar. Porque, normalmente, qualquer prefeito que se elege, tem a sua equipe e eles mandam. Nossa proposta é que a prefeitura governasse junto com os trabalhadores de fato. Eu acho certo governar para esse pessoal, não para os ricos. Eles já são beneficiados pela sociedade, não precisam que ninguém governe para eles. Quem precisa é a periferia. Onde eu moro, no Capão Redondo. Onde nossa vice mora, no Campo Limpo. Então, nós propomos conselhos populares que decidam.
R7: O senhor é presidente licenciado do sindicado dos metroviários. Como você vê a questão da mobilidade urbana em São Paulo?
Altino: A mobilidade urbana de São Paulo e das grandes cidades está de cabeça para baixo. Um dos grandes temas que tem de corrupção são as máfias dos transportes. E também as obras públicas que são todas superfaturadas. Por que está de cabeça para baixo? Porque foram criados para dar benefício para os grandes empresários. Não para a população. Além disso, nós [metroviários] fizemos um estudo que diz que o modal brasileiro está equivocado. O modal brasileiro deveria ser sob trilhos. Eu gostaria de entrar no metrô, menos cheinho, principalmente para as mulheres, por causa do assédio e do aperreio. E gostaria que fosse mais barato. E gostaria que fosse maior. Isso aumenta o custo. A pergunta é: isso é bom ou não para a sociedade? É bom. Vamos fazer um plebiscito na sociedade. Queremos o metrô maior e mais barato. Então vamos fazer. Mas isso custa dinheiro. Não estou dizendo que não custa. Agora, quais são os benefícios? Esse custo seria social. Por isso, a prefeitura deveria investir pesado no metrô combinado com o Estado e com a União. E voltar a ter uma empresa estatal de ônibus. Porque se vai ter lucro para empresário, eu quero tirar esse lucro dele. E a vantagem que o lucro que seria dele vai ficar para a sociedade.
R7: A quanto você acha que poderia chegar a tarifa de ônibus e metrô caso essas medidas fossem tomadas?
Altino: Eu queria um compromisso dos candidatos de “eu não vou aumentar a passagem”. Se só fosse isso, não seria o ideal, mas seria o começo. E nenhum propõe isso, nem a Erundina. A Erundina falou da tarifa zero, mas quando vai no debate concretizar, é um negócio que “vamos ver”. Na minha opinião, pode ser reduzida a tarifa, mas se congelasse seria uma redução. E eu acho que, no futuro, poderia ser tarifa zero. O problema, na minha opinião, não é de grana. Porque a grana tem que vir. Mas tem um outro problema que é de conceito. Na cabeça das pessoas, todo mundo acha razoável um garoto pobre da periferia ter uma escola para estudar. Mas ninguém acha que ele possa pegar um ônibus e se locomover. É como se o transporte não fosse um direito. E ele está na Constituição. Seria lucrativo para as empresas, inclusive. Porque as pessoas iam gastar mais com seus produtos.
R7: O senhor é considerado parte dos "candidatos ideológicos". Como você chega até o eleitor?
Altino: A nossa pretensão é construir uma opinião socialista dos trabalhadores. Gostaríamos muito de ganhar as eleições. O problema é que, como o jogo é montado, a possibilidade de isso ocorrer é muito pequena. Por exemplo, teve assembleia dos Correios ontem e estava cheia e eu estava lá. E me permitiram falar e falamos sobre a luta dos trabalhadores. Esse é o nosso mundo. É o mundo das mobilizações e tudo mais. Essa é uma das principais maneiras de a gente entrar. Falar direto com os trabalhadores e com as organizações. Mesmo assim, grande parte dos sindicatos são ligados a outras organizações que apoiam o Haddad, apoiam Russomanno, apoiam Doria.
R7: O senhor falou que a mobilização em protestos é importante. Mas nós vemos pouco o PSTU em manifestações recentes. Por que?
Altino: Nós somos "Fora Temer", mas nós somos mais. Nós somos o "Fora todos". Porque tem gente que está dizendo o seguinte: fora Temer e queremos de volta a Dilma. E isso, na nossa opinião, não cola. Uma porque a Dilma não governou para os trabalhadores. A população da periferia não gosta da Dilma. O PT, nesse sentido, se perdeu porque se corrompeu e não governou para os trabalhadores. É claro que um setor da direita se aproveitou disso para dizer que são a alternativa, mas é claro que não são. Tá de brincadeira. O PSDB é mais sujo do que pau de galinheiro. Nós vamos para os atos que sejam do caráter do "Fora Temer". Mesmo que as pessoas depois defendam o que elas quiserem. Nós vamos defender o "Fora todos", se eles quiserem defender "Volta Dilma", eles podem. O que nós não aceitamos é ir para um ato cujo a essência seja o “contra o golpe”. Porque “contra o golpe”, na essência, é você dizer que a Dilma tem que voltar. Na minha opinião não houve esse golpe. O grande golpe quem deu foi a Dilma e o Temer no trabalhador. Se teve algum golpe foi contra nós. Não houve o fechamento dos direitos democráticos. Então isso não ocorreu. O que aconteceu foi uma manobra parlamentar. O Temer deu uma rasteira na Dilma e ela vacilou.