Demissões devem ocorrer em função de "efeito cascata" referente ao parcelamento dos salários dos servidores públicos, diz Negreiros
ThinkstockO município de Boa Vista (RR) é a única capital do Brasil que contratou mais do que demitiu nos três primeiros trimestres deste ano. Apesar da criação dos 564 postos de trabalho com carteira assinada em meio aos mais de 683 mil cortes realizados em todo o País, a situação positiva do mercado de trabalho do município não deve se sustentar pelos próximos meses.
O secretário de comunicação social de Boa Vista, Weber Negreiros, diz acreditar que as demissões estão próximas da capital de Roraima em função da decisão do governo do Estado de parcelar o salário dos servidores públicos. Ele avalia que a medida do principal empregador do município tende a dificultar a situação financeira dos trabalhadores e diminuir a atividade em diversas áreas da cidade, ocasionando no corte de vagas.
— A gente começa a sentir, em função de uma movimentação de crise no governo do Estado, um impacto no comércio e no setor de serviços. Com certeza, nos próximos meses, a gente não deve ter números positivos. Deve haver demissões. [...] Teremos perda de postos de trabalho porque a grande massa de servidores não vai ter como comprar e assumir novas despesas. Vai ficar com o básico.
Brasil fecha mais de 39 mil vagas com carteira assinada em setembro, diz Caged
Em 2016, Boa Vista acumula saldo positivo de 564 postos de trabalho formais, de acordo com dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados). O resultado é fruto de novas vagas com carteira assinada nos setores de serviços (+ 847), serviços industriais de utilidade pública (+ 79), agropecuária (+ 47) e indústria de transformação (+ 10).
Weber atribui o saldo positivo de vagas em Boa Vista à atuação da prefeitura em prol da desburocratização e da atração dos empresários para a regularização das suas situações fiscais.
— Essas iniciativas têm trazido muitas empresas à normalidade. Elas podem prestar serviços para o poder público e até dentro do Sistema S. Isso tem movimentado a economia.
Por outro lado, as áreas do comércio (- 308), construção civil (- 107), extrativa mineral (- 2) e administração pública (- 2) finalizaram os nove primeiros meses do ano com corte das vagas formais de trabalho. Para Weber, a redução dos postos nos setores já é um reflexo do parcelamento dos salários do funcionalismo público no Estado, que criou instabilidades financeiras e levou a população a “pisar no freio em todos os segmentos”.
Questionado sobre os planos estabelecidos para manter a geração de empregos no município durante a próxima gestão da prefeita reeleita com 79,39% dos votos válidos, Teresa Surita (PMDB), Weber afirma que o foco da gestão será voltado para o agronegócio e a inovação tecnológica.
— Roraima é muito propício para a plantação de grãos porque você não precisa nivelar nada, já é uma grande savana. A questão do sol, que te leva a uma melhor visibilidade dá condições para a colheita de duas safras [...] O outro eixo é a questão da tecnologia. Nós temos o Centro de Tecnologia e Inclusão e essa seria uma segunda vertente para dar emprego para a juventude e criar produtos novos e inovadores.
Procurado pelo R7 para comentar o impacto do parcelamento de salários dos servidores públicos no mercado de trabalho, o governo do Estado de Roraima não se posicionou até fechamento desta reportagem.